Vice-reitora da UFAC acredita que a Reunião Anual da SBPC trará maior incentivo à educação e à pesquisa no Acre
Responsável por menos de 1% do total de doutores formados nas universidades brasileiras, o Acre sediará a 66ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) pela primeira vez. O evento será realizado na semana de 22 a 27 de julho de 2014, na Universidade Federal do Acre (UFAC), em Rio Branco, na Região Norte do País, coração da Floresta Amazônica.
Com a expectativa de reunir, no maior encontro científico do Brasil, um público aproximado em 10 mil pessoas entre brasileiros e estrangeiros, a vice-reitora da Universidade, Margarida de Aquino Cunha, destaca que a Reunião representa uma oportunidade para o Estado atrair mais políticas públicas, principalmente para educação, a fim de melhorar as pesquisas voltadas para a região nortista.
“Os esforços são para fazer uma reunião de qualidade, honrar a tradição da SBPC e trazer retorno positivo para o Estado”, analisa a vice-reitora da UFAC, também coordenadora local da 66ª Reunião Anual da SBPC.
Além de cientistas e especialistas da China, Índia e Estados Unidos, o evento deve atrair também um público considerável do Peru e Bolívia, países vizinhos do Acre.
Destacando a necessidade de aumentar o número de doutores na região, Margarida diz que a Região Norte responde por 4% do universo de doutores formados no Brasil, com destaque para o Acre, com menos de 1% do total, patamar considerado “pequeno” diante do número nacional e do potencial da região, rica em biodiversidade.
Dados divulgados este ano pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), confirmam a desigualdade regional. Revelam que o número de mestres e doutores formados pelas universidades brasileiras somou 55.047 em 2011. Por sua vez, evidenciam a distância entre as Regiões Sul e Sudeste, responsáveis por 44% do total, e Norte com 18%.
Investimentos desproporcionais
Tal cenário, na avaliação de Margarida, reflete os baixos investimentos em pesquisa que “as pequenas” universidades recebem, como a UFAC, na comparação com as maiores instituições do País, como Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
“Nossa região tem sido favorecida, um pouco mais, nos últimos anos pelo governo federal. Porém, as regiões Sul e Sudeste oferecem mais oportunidades para fazer doutorado fora e pesquisas mais qualificadas, além de contar com mais recursos para fazer boas pesquisas. Por isso, concentram um maior número de doutores”, lamentou. “O Acre é carente disso.”
Habitado por 750 mil pessoas, o Acre é um dos estados menos populosos do País. Mais da metade desses habitantes, cerca de 400 mil, reside na capital, conforme dados do setor de pesquisa da Secretaria de Estado de Planejamento do Acre. A população acreana representa cerca de 0,38% da população nacional. Com a economia pautada hoje no desenvolvimento socioambiental, em crédito de carbono, produção de madeira legalizada e extrativismo, o Estado responde por 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, ao somar R$ 8 bilhões, acrescentam os pesquisadores da Secretaria.
Fortalecimento regional
Até agora, conforme recorda a vice-reitora da UFAC, o Acre sediou apenas reuniões regionais da SBPC, em seus 65 anos de Reunião Anual. Dessa forma, diz a professora, a ideia é “aproveitar a oportunidade atual, já que não sabemos quando outra Reunião Anual da SBPC será realizada no Estado”.
Para ela, de imediato, a 66ª Reunião Anual da SBPC deve contribuir para fortalecer a área científica local, que será colocada na pauta da ciência nacional, exatamente em um momento em que se discute o Código de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), em tramitação no Congresso Nacional.
Troca de experiências sobre a Amazônia
A professora da UFAC fez questão de ressaltar o tema do encontro "Ciência e Tecnologia em uma Amazônia sem Fronteiras" que deve contribuir, também, para estreitar as relações bilaterais com os vizinhos andinos e trocar experiências e pesquisas sobre a Amazônia. Margarida lembrou que a instituição hoje possui convênios (intercâmbio e pesquisa) com universidades peruanas e bolivianas, acordos que podem aumentar a partir da realização da 66ª Reunião Anual da SBPC.
Associações internacionais e espaço para famílias
A vice-reitora da UFAC destacou o ineditismo de dois eventos previstos na programação da 66ª Reunião Anual da SBPC. Um deles é o primeiro encontro no Brasil das principais organizações científicas da China, da Europa, da Índia e dos Estados Unidos. São elas, a Associação Chinesa para a Ciência e a Tecnologia (CAST, na sigla em inglês), a Associação Europeia para Ciência (EuroScience), o Congresso de Associações de Ciência da Índia (ISCA) e a Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS).
Outra novidade é o Dia da Família na Ciência, que será lançado na reunião da SBPC no Acre. Isto é, as reuniões anuais da SBPC serão iniciadas numa terça-feira e encerrarão no domingo, da mesma semana, com o intuito de atrair mais as famílias.
(Viviane Monteiro/Jornal da Ciência) |