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 Sessão de Abertura


Discurso do Reitor da UFMA
Natalino Salgado Filho

Estamos, nesta noite, diante de um feito histórico repleto de coincidências felizes. A realização da 64ª edição da Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – o mais importante evento científico do Brasil, da América Latina e do Caribe – é um grande presente para São Luís do Maranhão, que, daqui a pouco menos de dois meses, estará completando quatro séculos de existência e que, ao longo desta trajetória, foi berço de inúmeros e ilustres intelectuais em várias áreas do conhecimento. Uma coincidência feliz que marca este momento é o fato de que a 64ª Reunião da SBPC não é apenas mais um evento que realizamos na UFMA como tantos outros, pois também representa um ato de transição desta instituição que, ao completar os seus 46 anos de existência, está se transformando realmente numa Cidade Universitária, fiel ao pensamento do bispo Dom Delgado, homem visionário que sonhou este espaço quando muitos sequer podiam entender o seu ideal. E, assim como o apóstolo Paulo, ele abraçou um propósito maior que sua própria vida.

Quero lembrar às senhoras e aos senhores que, desde a 62ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – a qual aconteceu no período de 25 a 30 de junho de 2010, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com o tema Ciências do Mar: Herança para o Futuro –, a UFMA sonhava em trazer o evento para São Luís. Isso aconteceu em Goiânia, em 2011, quando oficialmente recebemos a incumbência da Comissão Nacional da SBPC para sediarmos esta Reunião que ora iniciamos. Alegra-me profundamente, senhoras e senhores, que Deus tenha me dado esta oportunidade, como Reitor da Universidade Federal do Maranhão, de vivenciar esta ocasião e de externar, em nome de toda minha equipe, a gratidão pelo apoio recebido daqueles que, com seu trabalho árduo e abnegado, se dedicaram para que pudéssemos hoje entregar este grandioso evento à sociedade em geral. O nosso muito obrigado à Comissão Nacional, aqui representada pelas Professoras Doutoras Helena Nader e Ruth Andrade, pela atenção recebida e por ter nos orientado com tanta maestria e competência na organização desta 64ª SBPC, e aos governos federal, estadual e municipal pelas parcerias realizadas, por meio de emendas parlamentares.

Ressalto também, nesta oportunidade, o nome do professor José Raimundo Coelho, físico e matemático maranhense, presidente da Agência Espacial Brasileira, um dos primeiros a abraçar a ideia da realização da 64ª reunião anual da SBPC em nossa cidade.

Permitam-me ainda citar alguns homens ilustres que, com esforço e dedicação, contribuíram para o desenvolvimento da ciência, mas que, lamentavelmente, não se encontram mais entre nós. Evoco a memória de Renato Archer, físico maranhense e um dos que mais batalharam pela criação do Ministério da Ciência e Tecnologia, deixando um legado de amor pela ciência. Trago ainda a lembrança do nome de Aziz Ab'Sáber, que presidiu a SBPC, na ocasião deste evento em São Luís, em 1995, e que infelizmente nos deixou neste ano. Ab'Sáber foi autor de estudos e teorias fundamentais para o conhecimento dos aspectos naturais do Brasil.

Senhoras e senhores, o tema da Reunião – Ciência, Cultura e Saberes Tradicionais para enfrentar a pobreza – vem ao encontro do lema adotado desde o início da nossa gestão, que propõe o estímulo à Inovação aliada à Inclusão Social. A pobreza é uma chaga aberta no mundo contemporâneo, e o Brasil, a despeito de enormes avanços, ainda é o país com os maiores índices de desigualdade entre as classes sociais. Essa triste realidade só pode ser mudada com o esforço de todos, e o caminho da ciência e do conhecimento é parte dessa solução.

Einstein disse certa vez que “a ciência, como um todo, não é nada mais do que um refinamento do pensar diário”. Nenhum tipo de conhecimento científico se justifica por si mesmo, exceto quando do labor da busca, da experiência e da espera. Se desta forma for, o homem é beneficiado. Albert Sabin, o criador da vacina contra a poliomielite, disse certa vez quando indagado sobre sua grande contribuição para a saúde de milhões de crianças pelo mundo: “Tudo o que eu fiz foi um esforço concentrado para aliviar pelo menos um pouquinho a miséria humana”. Conta-se que ele livremente abriu mão de qualquer propriedade sobre sua descoberta. Acredito também, senhoras e senhores, que a ciência se faz com imaginação e com a sagacidade em perceber que, na cultura e no saber do homem comum, se encontra a pedra bruta, com a qual se pode lapidar o conhecimento.

O tema da reunião da SBPC deve se tornar, no melhor sentido do termo, um pausário que fornecerá um norte de pesquisas, uma leitura das tendências nos estudos em interação com as questões mais importantes em nossa sociedade. O Brasil ainda tem muitas dívidas nesse campo. O pesquisador, o universitário, o professor não são devedores nem privilegiados, são instrumentos de mudança, catalisadores, se não da igualdade, pelo menos da construção de uma maior equanimidade entre os brasileiros. Esses instrumentos serão tanto mais eficazes quanto maior e melhor for o investimento que neles se realizar. De fato, se por um lado houve aumento em investimento em formação e pesquisa, ainda estamos aquém do necessário. Infelizmente, um raciocínio menor entende que elevar o investimento em educação a 10% do PIB poderá quebrar o país. Hoje, empregam-se meros 5% do PIB. Talvez seja oportuno lembrar uma frase de Derek Bok, reitor da Universidade de Harvard: “Se você acha que educação é cara, experimente a ignorância”.

A questão, certamente, não é o valor que afligirá as contas da nação, é o pensamento que subjaz a uma forma de administrar a educação.

Se tão somente olharmos nossa história como país, chegaremos à conclusão de que os maiores impactos e mudanças sociais e econômicas foram promovidos por homens e mulheres das artes e ciências.

As contas públicas são importantes e devem manter o equilíbrio necessário, todavia investir mais em educação e pesquisa só resultará em benefício, ainda que, como dizia George Bernard Shaw, a ciência, quando resolve um problema, cria outros dez. Benditos problemas, eu diria. Por outro lado, pensar apenas na perspectiva econômico-financeira é desprezar a experiência de sucesso na valorização do conhecimento que outras nações, em situações semelhantes à nossa, viveram nos últimos quarenta anos e, guardadas as diferenças e distâncias, são exemplos para nós.

Os recursos financeiros para esse incremento já existem. Aqueles que advirão do pré-sal, por exemplo, poderão ser aplicados em educação, e aqui faço coro com a fala do ministro Aloízio Mercadante, que defende a vinculação de pelo menos um terço do pré-sal à educação, à ciência e à tecnologia, em todas as esferas do governo, pelos próximos dez anos, para legar às futuras gerações um Brasil preparado para competir na economia do conhecimento, na economia verde e sustentável e na economia criativa.

Parece-me que há uma premente necessidade de olharmos a educação e tudo o que representa pelo seu viés, não de números incisivos, retos, secos, mas incrementá-la com as consequências humanas, em que todo este esforço mental e material encontra seu justo sentido. É como se fosse necessário professar uma crença, como nos lembra Blaise Pascal, ele que foi um homem da matemática e da fé: “Há três meios de crer: a razão, o hábito e a inspiração”. A nós, que queremos ver mudanças positivas para todos – nossa família, nossos amigos, nossa sociedade, nossa nação –, não há outra opção que não empregar todos os nossos esforços, inventividade e recursos no conhecimento. Paulo Freire já dizia que, se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda.

Anísio Teixeira, um dos maiores educadores brasileiros, vaticinou que a morte do homem começa no instante em que ele desiste de aprender. Que saibamos aproveitar essa tão valiosa oportunidade.

Meu muito obrigado a todos por estarem aqui compartilhando conosco deste momento ímpar na história da UFMA.

São Luís, 22.07.2012

 

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