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 Sessão de Abertura


Homenageada da 63ª Reunião Anual da SBPC
Amélia Império Hamburger
   

Sinto-me muito honrada e comovida em poder prestar esta homenagem
a Amélia Império-Hamburger, física, cientista, militante, professora, artista, recentemente falecida.
Para começar, lerei um poema de Amélia de 2004, que amplia o significado da Homenagem que lhe fazemos.

MEMÓRIA E HISTÓRIA

Memória                       
É a chave para a relação entre o insight que enuncia as Leis da Natureza
E o que o enunciado diz do acontecer na Natureza
A medida do pensamento
       é um acontecer no pensamento.
Do gesto à palavra
       palavra e gesto realizando cinéticas nas redes da mente.
Do pensamento à natureza, que, de volta, nos constitui.

Em movimento de informação
       incessante
       interior - exterior - interior.

Os significados emergindo
       externos e internos
       simultaneamente.
O já vivido vai se constituindo na memória.
Essa memória interior
       mergulhada no mundo exterior.
Essa memória traz a origem da compreensão
das interações para o conhecimento.
O trazer a memória para nova ação
       revela que a história contida no acontecer
       contém todas as ligações
       do fazer humano no mundo. 

Amélia foi Professora do Instituto de Física da USP, onde foi responsável pela organização dos arquivos históricos do instituto.
Produziu importantes textos sobre a história da física, da ciência e da arte no país,

inclusive sobre a história da FAPESP.

Casada com o físico Ernst Wolf Hamburger, ambos criaram uma família de pessoas educadas e inteligentes.

Desde que a conheci, em Congressos da SBPC no início da década de 60, Amelinha, como a chamávamos, mostrou-me concretamente a possibilidade de ser mulher, mãe, pesquisadora, professora, líder universitária, lutadora por ideais.  Tornamo-nos muito amigas.

Uma dos melhores retratos de Amelinha que achei foi o descrito por CAO, seu filho, em artigo recente no Jornal Estado de São Paulo, ao transcrever um trecho das notas bibliográficas que ela mesma havia escrito como introdução ao livro “Obra Cientifica de Mario Schenberg ”, coordenado por ela, pelo qual mereceu o Premio Jabuti 2010.

Uma brasileira humanista e curiosa, de idéias bastante firmes, mas humilde em sua busca em entender o mundo e o ser humano.

Uma pessoa atuante, corajosa, profundamente comprometida com a "construção de seu entorno, de sua comunidade", com a liberdade de pensamento e com horror ao autoritarismo e patrulhamentos de qualquer espécie.

E CAO acrescenta:
Mario e Amélia são dessas pessoas que decidem preencher seus tempo-vida com o que realmente vale a pena.
Tarefa árdua. Poucos conseguem.

Esse retrato se completa com as palavras do outro filho FECO, em seu enterro.
Saúdo tua poesia e tua ciência.
Tua arte.
Capacidade de olhar o outro com amor e tolerância.
Com profundo respeito pela diferença,
fazendo possível a convivência.

Uma espécie de celebração, da vida e de suas possibilidades.
Mesmo diante das dificuldades do viver, que não foram,
e não são, poucas.

Tua clareza, às vezes confusa.
Espécie de clareza poético-científica de que o mistério, cheio de imperfeições, é bom de se viver.


Amélia teve uma aproximação interdisciplinar, com cientistas de diferentes campos de atuação, artistas, e profissionais das mais diversas áreas.

Como psicóloga, eu posso falar de sua rica interação com um grupo de psicólogos.

Uma interação de convergência, de descoberta de identidades insuspeitadas, de reconhecimento e de explicitação, conforme fala Ana Almeida Carvalho, que prepara um livro em sua homenagem.

Mas essa aproximação começou muito antes, na década de 80, quando Amélia participou de um curso sobre Imitação, que a Claudia Lemos e eu ministramos na Pós-graduação do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), na UNICAMP.

Alem de um interesse epistemológico genuíno, Amélia trazia uma perspectiva histórica sobre o pensamento científico.

Segundo Ana Almeida Carvalho, foi uma contribuição fundamental de Amélia a articulação entre as idéias de transformação e de estabilidade:

“Persistência é o complemento necessário da transformação: na ausência de persistência, é impossível qualquer comunicação (trânsito significativo de informação). A História, em seu sentido mais amplo, é constituída por transformação (dinâmica, novidade) e por estabilidade, qualquer que seja a escala temporal e o nível de fenômenos naturais que estejamos focalizando.”

Lembro ainda de Amélia Império Hamburger, irmã do criativo artista que foi Flavio Império.

Com ele, ela compartilhou o encantamento pelas artes, cenografia, teatro, cinema, que transmitiu aos filhos.

E com a artista plástica Renina Katz organizou e gerenciou o acervo de Flavio Império e publicou um livro sobre suas obras, pela EDUSP 2004.

Para finalizar, gostaria de compartilhar com vocês um poema de Amélia para Laurie Anderson, que evidencia sua imensa criatividade, a qual gerou vários frutos entre filhos, estudantes, colegas e amigos.

Enquanto poesia concreta, ela pode ser melhor apreendida se acompanhada visualmente.

IN
      FORMA
                    AÇÃO
FORMA
            INTENÇÃO
AÇÃO

INTENÇÃO
INTENSÃO

IN TENÇÃO TENSÃO
                                               LANGUAGE IS A VIRUS
                  UM PRINCÍPIO DE AÇÃO

A MENOR FORMA DE VIDA
DE FORMA E DE AÇÃO

IN FORMA AÇÃO
INFORMAÇÃO
VIDA VIS VIRTU VIRUS
EM TENSÃO
INTENÇÃO

 

Obrigada
Clotilde Rossetti-Ferreira

Goiânia, 10.07.2011


Clotilde Rosseti Ferreira - Sessão de Abertura



 

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