Após
60 anos a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência,
a nossa SBPC, retorna à cidade de Campinas. É um momento
de muito orgulho e emoção para todos nós representantes
da comunidade científica brasileira.
Temos
uma trajetória marcada por momentos que contribuíram
com a formação do Brasil de hoje. A 1ª. Reunião
Anual da SBPC, realizada no Instituto Agronômico, contou com
a participação de 104 cientistas e amigos da Ciência.
Esse primeiro encontro, em outubro de 1949, marcou a forma como
a SBPC se pronunciaria sobre os diversos eventos científicos
nacionais. A SBPC foi criada por um grupo de cientistas brasileiros
em um momento da história da humanidade marcado pelo fim
da Segunda Guerra mundial.
Em
todo o planeta as nações tomavam consciência
da necessidade imprescindível de incentivar a Ciência
para promover o desenvolvimento social e econômico. A SBPC
também foi criada com a preocupação de discutir
a função social da Ciência, como lembrou um
de seus fundadores, José Reis.
Foram
palavras dele: “Quando a fundamos, o Maurício Rocha
e Silva, Paulo Sawaya, Gastão Rosenfeld e eu, discutimos
muito essa questão e decidimos incluir entre as funções
da SBPC a necessidade de se criar ou difundir essa consciência
social entre os cientistas brasileiros.”
Hoje
permanecemos firmes no propósito de atuar como consciência
crítica da Sociedade. Para tanto devemos refletir e adotar
posicionamentos sobre os desafios que a Ciência brasileira
tem a enfrentar durante os próximos anos.
Nessas
últimas seis décadas o Brasil desenvolveu um sistema
forte de pós-graduação e pesquisa, e com isto
a nossa Ciência já tem papel de destaque no cenário
internacional. No entanto essa base científica, por peculiaridade
do desenvolvimento da Sociedade Nacional, resultou relativamente
separada das demandas da atividade econômica e do processo
de inclusão de regiões como a Amazônia e Semi-árido
no todo nacional.
Temos
que trabalhar para que esta situação não perdure,
e construirmos novas estruturas para que a Ciência e o conhecimento
possam levar os seus benefícios a todo o povo brasileiro.
Entendemos
que os desafios atuais devem ser considerados à luz das principais
características e paradigmas estabelecidos entre as duas
últimas décadas do século XX e a primeira década
deste século XXI: a Globalização; o Desenvolvimento
Sustentável; e a Economia do Conhecimento.
Os
componentes ou pilares básicos destes processos, necessários
a qualquer país determinado a enfrentar os desafios e inserir-se
no novo cenário internacional com vantagem competitiva, são:
-A Educação de qualidade massificada e disseminada
pelo país;
-A fluência em grande velocidade entre a geração
de conhecimento e a sua transformação em bens com
valor econômico;
-A interdependência entre a sustentabilidade econômica
com a ambiental e a político-social-cultural;
-E a competitividade das empresas referenciada no mundo global.
Os
desafios colocados frente às atividades de Ciência
e tecnologia no país devem ser equacionados com legislação
atualizada e políticas públicas que abram caminho
para uma nova fase de desenvolvimento.
São
estes os desafios que hoje norteiam as ações da SBPC:
- Revolução educacional de grande escala e em todos
os níveis, buscando qualidade, universalização,
profissionalização, criatividade e flexibilidade;
- Superação das desigualdades regionais, promovendo
a ocupação plena, racional e bem distribuída
do território, com atividades educacionais e de P&D,
ocupação esta estratégica e preparada para
a incorporação das novas fronteiras do desenvolvimento,
com especial referência à Amazônia;
- Promoção da inovação nas empresas,
superando o fosso ainda existente entre a Universidade e o setor
produtivo;
- Criação de uma rede metrológica e de padrões
ampla, com base científica muito forte, diversificada e atuante,
com capacidade de promover qualidade nas relações
exportação x importação, produção
x consumo.
Para
o enfrentamento destes desafios, o requisito ainda mais importante
é o da ampliação da nossa base de pesquisa
– pós-graduação e ensino universitário,
agora buscando mais qualidade do que nunca e uma distribuição
justa e estratégica por todo o território nacional.
Vivemos
um bom momento, animados pelas iniciativas do governo federal, no
plano quadrienal da Ciência – Tecnologia – Inovação.
Também temos o Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE), Bem como o magnífico exemplo do Sistema de Apoio à
Pesquisa do Estado de São Paulo, que hoje se alastra pelo
país, com destaque para os estados do Rio de Janeiro, Minas
Gerais, Bahia e Amazonas.
A SBPC
certamente exercerá sua capacidade de mobilização
e engajamento para colocar a comunidade científica do país
como protagonista desses novos tempos.
Conta
com a parceria, em pleno desenvolvimento, da Academia Brasileira
de Ciências, e seu dinâmico presidente, professor Jacob
Palis.
O tema
desta 60ª Reunião Anual da SBPC, Energia – Ambiente
– Tecnologia, pretende explorar e discutir os caminhos que
devemos seguir para buscar a inserção do conhecimento
científico no setor produtivo, e como conseqüência,
na capacidade de inovação de nossas empresas e serviços
públicos com responsabilidade social e ambiental.
Para
comemorar os 60 anos da SBPC prestaremos homenagem a alguns de seus
pioneiros, e recordaremos os momentos mais marcantes da sua história.
Um
vídeo-documentário, especialmente produzido pela TV
Cultura, será exibido durante o evento, com depoimentos de
alguns dos principais personagens e protagonistas da comunidade
científica brasileira, que contribuíram com a formação
da história da SBPC.
A 60ª
Reunião Anual já é um sucesso pelo significado
próprio que abriga o crescimento, fortalecimento e continuidade
do trabalho de milhares de cientistas, pesquisadores, professores
e estudantes que têm se reunido na SBPC ao longo das últimas
seis décadas.
É
também um sucesso garantido por todo o esforço e competência
demonstrada pelos organizadores do evento na Unicamp. Durante meses
eles trabalharam com os funcionários da SBPC, para garantir
que seja esta uma reunião capaz de mostrar toda a riqueza
do universo da Ciência brasileira atual.
Encerro
esta minha fala lembrando novamente algumas palavras de José
Reis:
“O
cientista verdadeiro precisa ter a noção de que a
Ciência que ele faz, seja a Ciência pura, aparentemente
desvinculada de qualquer relação, ou a Ciência
aplicada, que muitas vezes nasce da Ciência pura e outras
vezes a inspira. Essa Ciência, em última análise,
deve ser feita tendo em mente uma função social para
atender ao bem estar da Humanidade".
Campinas,
13.07.2008.
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