Em uma tentativa de minimizar os conflitos em Alcântara, o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Braga Coelho, divulgou na segunda-feira (23) várias medidas de estÃmulos para o municÃpio que abriga a Base Espacial do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), a 18,3 quilômetros de São LuÃs, capital do Maranhão.
Depois de ouvir as queixas de moradores quilombolas em defesa da regularização de terras e sobre a falta de investimento em educação e em infraestrutura em Alcântara, o presidente da AEB considerou fundamental a implementação de parcerias entre os governos Federal, Estadual e Municipal para fomentar a região. Dentre outras medidas, ele defendeu principalmente investimentos significativos na educação básica, técnica e universitária a fim de mudar a cultura na região.
"Para resolver essa questão definitivamente temos de mudar a cultura. E só muda a cultura pela educação. Se não formos capazes de mitigar os conflitos nas esferas de governo essas mazelas serão eternas", disse o presidente da AEB na mesa-redonda "BenefÃcios econômicos e sociais da Base de Alcântara para o Maranhão. Para quem e quando?", realizada na 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Mediado pelo reitor da universidade, o debate teve a participação de Leonardo dos Anjos, dirigente do Movimento dos Atingidos pela Base Espacial de Alcântara, e de Raimundo Soares do Nascimento, representando o prefeito de Alcântara. Na ocasião, o representante do prefeito de Alcântara reforçou o impacto negativo da Base Espacial na região e destacou a carência do municÃpio. "Antes as pessoas tinham a beira-mar e tinham a pesca como a principal atividade econômica e, agora, depois do deslocamento das pessoas para outras regiões a agricultura não deslanchou", disse.
Nascimento acrescentou que a economia do municÃpio ainda é presa aos modos tradicionais (artesanato), a população das agrovilas (comunidades) cresceu e a infraestrutura não acompanhou tal crescimento. "É necessário apoio e investimentos nessas áreas", disse, defendendo também capacitação técnica na região.
Com opinião semelhante, o dirigente do Movimento dos Atingidos pela Base Espacial de Alcântara acrescentou que a economia das comunidades rurais é movimentada hoje pela aposentadoria e pelos recursos do programa federal Bolsa FamÃlia, já que a agricultura enfrenta problemas de seca e está alocada em áreas não produtivas.
Solução conjunta - Maranhense, o presidente da AEB "ofereceu à Prefeitura apoio e companheirismo em prol de uma solução conjunta" para os moradores de Alcântara. Segundo ele acredita, a Base Espacial de Alcântara proporcionará à s comunidades quilombolas uma série de benefÃcios, dentre os quais, a geração de emprego. Dessa forma, Braga Coelho sugeriu o fomento em capacitação técnica dos quilombolas para trabalharem na Base de Alcântara, inclusive na gestão do empreendimento.
José Raimundo defendeu a participação de investimento do setor privado situado na região, como a Vale, a exemplo do que faz a Embraer no Parque Tecnológico de São José dos Campos do qual ele era diretor. Segundo disse, a Embraer investe consideravelmente em educação na cidade paulista.
"Meu objetivo é trabalhar juntamente com as comunidades. Vamos fazer muito esforço para mitigar essas mazelas", disse ele, citando que na véspera havia conversado com a governadora do Maranhão, Roseane Sarney e com o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Marco Antonio Raupp, além com o reitor da UFMA.
Promessas não cumpridas - Desconfiado, o dirigente do Movimento dos Atingidos pela Base Espacial de Alcântara cobrou a promessa realizada há dois anos para a qualificação profissional de 300 moradores da região para trabalharem na AEB. O presidente da AEB fez questão de frisar que, inicialmente, era estimada uma área de 60 mil hectares para a implementação da Base Espacial de Alcântara, o que seriam um "tamanho razoável", número que foi reduzido para oito mil hectares de terra, sob pressão judicial. A medida ainda precisa da aprovação da presidente Dilma Rousseff. Os quilombolas aceitam essa medida.
O presidente da AEB acrescentou não poder mudar o projeto que está em curso, mas pode mudar a rota dele, focando os investimentos na educação da população local, por exemplo. "O tamanho foi tremendamente reduzido e, portanto, suas aspirações e retornos comerciais proporcionalmente também serão reduzidos. Ao invés de instituir vários ciclos de lançamentos, agora, na melhor das hipóteses, serão três. Mas esse não é o problema maior. O problema é fazer isso de maneira harmônica", declarou o presidente da AEB.
Infraestrutura - José Raimundo destacou que a agência, juntamente com o MCTI, vai priorizar os projetos na região. Sem citar investimentos, ele falou sobre a construção do porto no Ancoradouro como um dos projetos mais importantes. "Estamos trabalhando para colocar isso no PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] porque é uma construção de infraestrutura portuária", declarou, afirmando que o projeto aguarda mais uma vez a liberação da licença ambiental para ser construÃdo.
Ele também citou a proposta de construir uma ponte "enorme" para viabilizar a mobilidade de São LuÃs à Alcântara, independentemente da oscilação da maré que varia seis metros de altitude (recua e sobe) para beneficiar a população que hoje não têm com se deslocar para a capital de barco quando a maré recua muito.
Além de permitir acessibilidade às cargas de foguetes espaciais da capital para a Base Espacial de Alcântara, a proposta é também estimular a educação para que moradores possam estudar em São Luis e vice-versa, destacou o presidente da AEB. Ele concorda que essa obra requer um investimento significativo. "É por isso que estamos saindo fora do nosso orçamento e sugerindo colocar isso no PAC", disse. Este ano o MCTI sofreu um novo corte no Orçamento de quase 23%.
(Viviane Monteiro - Jornal da Ciência)