Esta página utiliza Javascript. Seu navegador não suporta Javascript ou está desativado. Para visualizar esta página, utilize um navegador com Javascript habilitado. 64ª Reunião Anual da SBPC Untitled Document
Banner do Evento

REALIZAÇÃO
Logo da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC
Logo da Universidade Federal do Maranhão - UFMA

Notícias

24/7/12 - Começa a 64ª Reunião Anual da SBPC

A cerimônia de abertura do maior evento científico da América Latina foi realizada na noite deste domingo (22), na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Durante uma semana a capital São Luís será palco dos principais avanços e debates sobre políticas científicas e sua contribuição para o enfrentamento da pobreza, onde a comunidade acadêmica e gestores irão dialogar diretamente com as comunidades tradicionais e os saberes populares.

Com um discurso enfático e direto, a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader chamou a atenção para as preocupações e desafios da comunidade científica atualmente. Entre eles os cortes de verbas na área de ciência e tecnologia, a luta por recursos do royalties do petróleo para C,T&I e Educação, o PLC 180/2008, que traz mudanças no acesso ao ensino superior e o Código Florestal.

Helena apontou as graves consequências dos cortes nos recursos da área de C&T nos últimos dois anos, sobretudo ao considerar os compromissos do governo com o progresso social e econômico do País por meios sustentáveis. "No momento em que se assume a tão almejada mudança de patamar para o status da ciência no País - ou seja, sua elevação à condição de política de Estado -, é impensável uma volta atrás", destacou. Em seu discurso, ela ressaltou que "além de manter o sistema de produção científica nos níveis alcançados, a pasta necessita de mais recursos para ajudar a viabilizar atividades de pesquisa e desenvolvimento com vistas a aumentar a geração de inovações tecnológicas no País".

A presidente da SBPC alertou ainda para a ameaça de extinção dos recursos dos royalties do petróleo pela atual redação do projeto de lei que tramita no Congresso, que originalmente não destina recursos para o Fundo Setorial de Petróleo e Gás (CT-Petro). Ela afirmou que "é inimaginável conviver com tal perda ou mesmo com alguma redução" nesses recursos e nomeou de "nefastas" as consequências desta ameaça para as atividades de C,T&I no País. Helena destacou que a falta da explicitação de Educação, Ciência e Tecnologia, tanto no regime de concessão como no novo regime de partilha dos royalties, frustra uma oportunidade de o País dar um novo salto em direção ao desenvolvimento.

Sobre o Código Florestal, Helena destacou que apesar de toda a mobilização realizada, as recomendações dos cientistas não foram consideradas no relatório da Medida Provisória, aprovado na comissão mista do Congresso na semana passada, trazendo mais retrocessos na legislação.

A presidente da SBPC criticou também o projeto de lei que tramita no Senado, o PLC 180/2008, que proíbe a realização de exames vestibulares ou o uso do Enem, obrigando que o processo seletivo para ingresso nas universidades adote, exclusivamente, a média das notas obtidas pelos candidatos no ensino médio. "Desta maneira o ingresso no ensino superior passa a ser subordinado a critérios distintos de avaliação de cada escola espalhada por esse país. Não existe um ensino forte, não existe um ensino de qualidade e não podemos tapar o sol com a peneira", enfatiza.

Helena deixa claro que a SBPC e a ABC são favoráveis a programas de ações afirmativas que já são adotados por muitas universidades há anos, por meio de diferentes modelos adequados à realidade de cada instituição. Para a presidente, o projeto, que não foi analisado pela Comissão de Educação da casa, é de teor questionável e reitera que "o acesso dos brasileiros à educação superior é tão importante quanto o grau de excelência desta educação e que a oferta de oportunidades educacionais de qualidade é a garantia de cidadania e do desenvolvimento sócio econômico do Pais".

Em seu discurso, Helena elencou como motivo de comemoração a aprovação do Plano Nacional de Educação com a meta de investimento de 10% do PIB na área, luta que a SBPC participou diretamente. "A meta é para ser alcançada nos próximos dez anos, é importante frisar isso, não estamos sendo levianos".

Casa - Por sua vez, o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, disse que estava voltando a sua "casa", já que foi presidente da SBPC e é membro da entidade "há algumas dezenas de anos". Ele lembrou também que foi escolhido para o cargo de ministro por sua vida pregressa na ciência. "Minha bancada continua sendo a do laboratório e meu partido é o da comunidade científica ", assegura.

Para o ministro, o mundo está prestando atenção no Brasil e "nós temos tudo para dar o exemplo ao criar um modelo de desenvolvimento sustentado que combina, de modo equilibrado, crescimento econômico com inclusão social e preservação ambiental". Compatibilizar essas necessidades é um grande desafio e, ao mesmo tempo, uma grande oportunidade. "Nesse arranjo, a ciência e a tecnologia passam a ter uma atuação sem precedentes na vida nacional. A tendência é que contribuam cada vez mais com a formulação de políticas públicas em áreas como saúde, educação, transporte, meio ambiente e habitação", declarou.

Raupp ressalta alguns pontos chave para o desenvolvimento da ciência no Brasil, como o avanço do conhecimento científico, sobretudo a respeito da biodiversidade. "Temos uma posição tímida no estudo da biodiversidade. Ter a maior diversidade do mundo e não conhecê-la pode equivaler a não ter nenhuma", alega, recordando que usar a biodiversidade para promover o desenvolvimento sustentável remete a recuperar a tradição das cerca de 200 comunidades indígenas do País que já a utilizam.

Outro ponto destacado pelo ministro se refere a destinar os royalties do pré-sal para C,T&I e Educação, reivindicação também abraçada pela SBPC. Raupp ainda recordou a necessidade de estabelecer logo o novo marco legal de C,T&I, "que necessita urgente adequação". "Não creio que a ciência tenha a solução para todos os problemas, mas é o instrumento pelo qual a razão se manifesta, oferecendo um conjunto de soluções", acredita, lembrando a tendência de os cientistas cada vez mais contribuírem para políticas públicas.

Natalino Salgado Filho, reitor da Universidade Federal do Maranhão, destacou que a Reunião Anual da SBPC é um "feito histórico", e que também representa um momento de transição da universidade, que está se consolidando como cidade universitária. Ele também destaca que o tema do evento "Ciência, cultura e saberes tradicionais para enfrentar a pobreza" vai ao encontro do lema adotado por sua atual gestão, que une ideias de inovação e inclusão social.

"A pobreza é uma chaga aberta no mundo contemporâneo e o Brasil ainda é um país com índice de desigualdade enorme", ressalta, lembrando que a "a ciência se faz com imaginação e sagacidade" e que "na cultura do homem comum se encontra a pedra bruta em que se pode lapidar o conhecimento"."O pesquisador, o universitário e o professor são instrumentos de mudança, catalisadores de igualdade e construtores de maior equidade entre os brasileiros", resume.

Participação - Entre as autoridades que participaram da solenidade de abertura estavam o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Jorge Guimarães, que representava o ministro da Educação; a secretária de Ciência e Tecnologia do Estado do Maranhão, Rosane Guerra, que representava a governadora do estado; o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Glaucius Oliva; o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Glauco Arbix; o secretário executivo do MCTI, Luiz Antonio Elias; os presidentes dos conselhos nacionais de Secretários Estaduais para Assuntos de C&T (Consecti), Odenildo Sena, e do conselho das Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap), Mario Neto Borges. Estavam presentes também o secretário da SBPC no Maranhão, Luiz Alves Ferreira; o acadêmico Jailson Bittencurt de Andrade, representando a Academia Brasileira de Ciências; a presidente da Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), Luana Bonone; o presidente do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), Jorge Avila; e os professores Sergio Mascarenhas e Ennio Candotti, presidentes de honra da SBPC .

Acessibilidade - A secretária geral da SBPC e coordenadora da Reunião Anual, Rute Maria Gonçalves de Andrade afirma que o tema central da Reunião, 'Ciencia, Cultura e Saberes Tradicionais para Enfrentar a Pobreza', abre espaço para incorporar a "questão da inclusão de forma definitiva nos eventos da SBPC", sublinhando as ações de inclusão que permearam toda a organização do evento, desde reformas na infraestrutura da Universidade para maior acessibilidade até a tradução simultânea para deficientes auditivos das conferências do encontro, o que já aconteceu na sessão de abertura.

Rute destacou também a participação de comunidades tradicionais em todo o evento, inclusive na programação científica. "A SBPC, sempre empreendendo ações para promover o progresso da educação e da ciência e, consequentemente, da sociedade brasileira, não poderia estar fora deste movimento pelo direito de todos ao acesso seja ao que for, onde, como e porque for", enfatiza.

Representando as comunidades tradicionais, o quilombola Ivo Fonseca da Silva, coordenador nacional das Comunidades Negras, Rurais e Quilombolas do Maranhão e membro do Conselho Nacional de Igualdade Racial, alega que a ciência deve ajudar no desenvolvimento dos povos pobres. Ele sublinha que "a pobreza não é apenas ter fome" e que é preciso enfrentá-la em "todos os elementos que envolvam o desenvolvimento do ser humano", como educação, espaço e direitos. Ele lembrou que a luta pela inclusão e reconhecimento de seus direitos não é apenas dos quilombolas, mas também de indígenas, comunidades de terreiro, garimpeiros, pescadores, artesãos e "todos os povos que lutam pela sobrevivência".

Por sua parte, Lourdes Maria Bandeira, ministra interina da Secretaria de Políticas para as Mulheres, recordou o papel da SBPC na luta pelos direitos femininos e lembrou que a Reunião de 1980 entrou para história porque abriu as portas para as discussões sobre o papel da mulher na sociedade brasileira. "A SBPC associa-se à política nacional da Secretaria das Mulheres ao alavancar o trabalho delas na ciência", pontua, destacando, no entanto, que o aumento do nível da escolaridade feminina ainda não vem acompanhado de reconhecimento profissional em cargos qualificados e salários justos.


(Clarissa Vasconcellos e Renata Dias - Jornal da Ciência)

Notícias
Credenciamento de Jornalistas
Atendimento à Imprensa