O cientista não tem a formação necessária para fazer divulgação científica, diz especialista
O cientista não tem a formação necessária para fazer divulgação científica, por isso, precisa se unir a profissionais que conheçam de arte, como jornalistas, designers e artistas – pessoas que saibam dizer o que o pesquisador quer comunicar. A opinião é do diretor do Espaço Ciência e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Antonio Carlos Pavão, e foi dada na sua conferência ‘Produção e divulgação científica: o binômio necessário’, da programação da 65ª Reunião Anual da SBPC.
Pavão acredita que a apropriação do conhecimento deveria ser social. “Temos que entender que a construção do conhecimento é coletiva”, explicou. “Quando construo uma teoria alguém também trabalhou antes para o desenvolvimento da pesquisa, com outras teorias que ajudaram na conclusão do projeto.” Segundo ele, produção, divulgação e ensino de ciência são termos indissociáveis.
Para ele, a saída para que o pesquisador faça divulgação científica é aproveitar todos os espaços. “Temos que usar todos os espaços disponíveis porque tudo tem ciência: a imprensa, a publicação de artigos, a participação em eventos científicos”, disse. Na opinião de Pavão, é preciso que o cientista se aproprie dos conceitos de divulgação científica, afinal o conhecimento é para ser compartilhado e discutido e não para ser propriedade de alguém.
Para aproximar os cientistas dos estudantes e da sociedade, Pavão acredita que uma das soluções seriam palestras organizadas por museus de ciência e programas de educação. “Essas instituições deveriam ter a obrigação de gerar um caminho para divulgar o trabalho dos cientistas”, defendeu. Antes, na opinião do pesquisador, a divulgação das pesquisas era mais simples, natural e clara. “Hoje, muitas vezes, nem o próprio pesquisador entende o que ele está escrevendo”, brincou.
No entender de Pavão, a produção e a divulgação científica devem ser disseminadas na sociedade. “Os cientistas precisam ser mais claros ao dar entrevistas, enquanto os jornalistas precisam se preparar melhor ao coletar as informações”, disse. Para Pavão, a mídia tem um papel fundamental para a disseminação do trabalho, mas ressaltou que os profissionais da área precisam se preparar.
Ele deu exemplos, para deixar claro o que pensa. “Quem cobre esporte sabe muito sobre o assunto, e quando vai fazer uma pergunta para um treinador, por exemplo, a faz com embasamento”, disse. “A mesma coisa deve ser feita quando ele vai entrevistar um cientista. Se ele fizer uma pergunta banal, não irá tirar a melhor resposta do entrevistado.” Ao mesmo tempo, Pavão acredita que o cientista deve ser claro em suas declarações. “Ninguém é obrigado a entender termos técnicos”, disse. “O cientista precisa usar caminhos para que a pesquisa possa ser entendida pelo público.”
O professor da UFPE disse ainda que o sonho de todo cientista é aparecer na grande mídia. “Todos têm sonhos de que suas pesquisas sejam passadas na Rede Globo”, afirmou. “Mas isso só vai acontecer se a pesquisa tiver uma grande repercussão. Ou seja, que ela tenha um grande impacto na sociedade como aconteceu com um trabalho que fiz com meu grupo ao conseguimos reproduzir os ‘raios-bola’ em laboratório.” Segundo Pavão, essa repercussão aconteceu porque havia um grande mistério diante da bola luminosa que acontecia durante a queda de um raio. “Existiam diversas histórias, como por exemplo, que esses raios entravam nas casas e matavam as pessoas”, explicou.
O professor lembrou que, ao longo da história humana, as nações que mais se desenvolveram foram as que detinham o conhecimento, que sempre foi utilizado como sinônimo de poder. Por isso, é necessário reconhecer a importância social e política do saber científico como fator de mudança da história. Ele citou alguns fatos históricos que mudaram o rumo da humanidade, como a criação da bomba atômica e as grandes navegações realizadas por Portugal e Espanha, que buscavam cravo, pimenta e outras especiarias da Índia. “As descobertas ajudaram a desenvolver a Europa”, explicou. “Os produtos eram estratégicos para esses países.”
(Vivian Costa) |