Esta página utiliza Javascript. Seu navegador não suporta Javascript ou está desativado. Para visualizar esta página, utilize um navegador com Javascript habilitado. 65ª Reunião Anual da SBPC Untitled Document
Banner do Evento

REALIZAÇÃO
Logo da Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia - SBPC

Notícias

Burocracia X autonomia universitária: muito se discute, pouco se resolve

Tema recorrente de mesas de debate, a questão continua sendo alvo de críticas dos pesquisadores

Do Recife – A burocracia e a autonomia das universidades são temas recorrentes nos grandes encontros ligados à ciência, tecnologia e inovação. Nesta 65ª Reunião Anual da SBPC as questões foram debatidas, no dia 24, na mesa redonda "Burocracia x Autonomia na universidade brasileira", que foi coordenada pelo professor Sérgio Henrique Ferreira, da USP, e contou com a participação do ex-presidente do Conselho Nacional das Fundações de Amparo a Pesquisa (Confap), Mário Neto Borges; do reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Antonio Levi da Conceição; e da presidente da Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG), Luana Bonone. Pelo menos em um ponto os participantes foram unânimes: esses entraves precisam ser superados com urgência para que o país avance em CT&I.

Para Mario Neto Borges, a questão da autonomia universitária é discutida há décadas e pouco se resolveu. Ele mostrou a relação da produção de conhecimento, inovação e o desenvolvimento do país. "Estamos vivendo há certo tempo um crescimento exponencial da geração de conhecimento principalmente pelas universidades. Mas é preciso transformar esse conhecimento científico em tecnologia e inovação para que possam ser criados produtos competitivos internacionalmente e que possam trazer riquezas para o país", declarou.

Uma das dificuldades para realizar essa receita é exatamente a burocracia que representa um entrave à autonomia da universidade brasileira, que é capaz de gerar conhecimento, mas tem muita dificuldade de interagir com o setor empresarial. "Se conseguirmos isso, nosso PIB (Produto Interno Bruto) tende a subir e nós poderemos transformar o Brasil numa potência mundial em todos os aspectos", aposta.

Segundo Borges, o caminho para vencer esses desafios passa por mais investimentos em educação, políticas que priorizem CT&I. "Tem muita gente que acha que o Brasil já investe muito em educação, mas isso é controverso, a educação básica ainda é muito carente. Precisamos lutar pelos 10% do PIB para a educação. No campo da política de CT&I houve um passo importante recentemente, quando o governo não fez cortes no orçamento do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), afirmou.

Para o ex-presidente do Confap, a autonomia universitária expressa no artigo 207 da Constituição da República é fundamental para o país. "Está escrito lá que a universidade tem autonomia acadêmica, administrativa e financeira, mas na prática ela tem 90% de autonomia acadêmica, mas administrativa e financeira não tem. Não se pode usar recursos de uma coisa em outra, e por muitas vezes tem verba para comprar pneu e não pode comprar giz para a sala de aula. Isso, evidentemente, requer um novo arcabouço legal para a educação, ciência, tecnologia e inovação", disse.


Milagre cotidiano

O reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Antonio Levi da Conceição reforçou que a universidade é responsável pela geração do conhecimento científico. De acordo com ele, gerir uma universidade é um milagre cotidiano. "As universidades estão amarradas pela burocracia, precisamos operar com autonomia e capacidade de gestão para ultrapassar os limites temporais e das políticas momentâneas", afirmou.

Ele questionou como, apesar da falta de autonomia, as universidades conseguem desenvolver CT&I. Para ele, a resposta está nas fundações de apoio à pesquisa. "No caso das universidades federais suas fundações de apoio são responsáveis por viabilizar várias iniciativas que permitem desenvolver as atividades de pesquisa como a instalação de laboratórios e o funcionamento deles", citou. Mas, de acordo com Levi, esse tipo de solução é um improviso.

Para avançar nas mudanças, o reitor destacou a atuação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), além do trabalho das agências federais de fomento como CNPq, CAPES e Finep, e também das fundações estaduais de amparo à pesquisa. "É importante a função da SBPC por seu papel político, cobrando os apoios ao fomento para a CT&I ", acrescentou.

Uma ação prática em prol da autonomia das universidades foi sugerida por Luana Bonone: a iniciativa da autonomia participativa para as universidades envolvendo além da comunidade acadêmica, conselhos e os vários setores da sociedade. "Precisamos que a universidade esteja em diálogo com a sociedade e penso que esse seria um instrumento interessante até para aferir a inserção da universidade na sociedade", disse.

A presidente da ANPG afirmou que a burocracia enterra projetos inovadores que nascem nas universidades. Ela reforçou a necessidade da regulamentação do artigo 207 da Constituição.

No entendimento de Luana outro ponto que afeta as universidades federais é a ‘estrangeirização’ do ensino superior brasileiro que, segundo ela, vem crescendo nas instituições particulares. "É preciso que isso seja amplamente debatido, cabe uma pauta nossa sobre a regulamentação do ensino superior privado, que hoje detém cerca de 70% das vagas do ensino superior do país", afirmou.

Quanto à burocracia, a presidente da ANPG consegue enxergar uma função positiva. “A burocracia não é necessariamente algo ruim. Se ela é entendida como um instrumento para fazer que se funcione de forma padronizada, para identificar e evitar abusos, desperdícios e desvios de função. Ocorre que nas universidades a burocracia funciona para travar e não para promover um melhor funcionamento”, argumentou.

Ela encerrou sua participação reforçando a importância de se apoiar o debate sobre o novo março regulatório. "Esse é um ponto fundamental para o desenvolvimento da CT&I no país", resumiu.


(Edna Ferreira) / Jornal da Ciência)

 

 

 

Notícias