Celso Furtado e o novo Brasil
Conferencista da reunião da SBPC, Francisco de Oliveira, professor da USP, considera o economista o último grande republicano
Do Recife (PE) - Ao contrário do que o título propõe, o 'novo Brasil' de certa forma é o oposto do que Celso Furtado pregava, explicou o professor Francisco de Oliveira, da Universidade de São Paulo (USP), durante a conferência "Celso Furtado e o novo Brasil", realizada na nesta segunda, dia 22, na 65ª Reunião Anual da SBPC, em Recife.
De acordo com Oliveira, o economista brasileiro foi um dos mais destacados intelectuais do país no século XX. "Suas idéias sobre o desenvolvimento e o subdesenvolvimento divergiram das doutrinas econômicas dominantes em sua época e estimularam a adoção de políticas intervencionistas sobre o funcionamento da economia", disse.
Furtado estudou na França, um dos estados mais intervencionistas da Europa. E lá, ele viu ações intervencionistas aplicadas em benefício da economia, implementadas para fortalecer a indústria francesa. Mas apesar do exemplo francês, Oliveira frisou que o economista não era intervencionista, nunca foi autoritário, mas tinha uma forte personalidade. "Celso foi o último grande republicano", afirmou o professor.
Na primeira parte da palestra, o professor Francisco apresentou informações sobre a vida de Celso Furtado, que nasceu no interior da Paraíba, na cidade de Pombal, em 1920. Ele mudou-se para o Rio de Janeiro em 1939 e no ano seguinte ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Em 1946, ele ingressou no curso de doutorado em economia da Universidade de Sorbonne e concluiu com uma tese sobre a economia brasileira no período colonial", destacou Oliveira.
Em seguida, o professor da USP enfatizou o desenvolvimento que Celso Furtado efetuou a partir da teoria da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) e que ele aplicou ao Brasil. "Furtado presidiu o Grupo Misto CEPAL-BNDES, que elaborou um estudo sobre a economia brasileira que serviria de base para o Plano de Metas do governo de Juscelino Kubitschek", lembrou Oliveira.
Filiado ao PMDB desde 1981, Celso Furtado foi ministro da Cultura do governo José Sarney, de 1986 a 1988, quando criou a primeira legislação de incentivos fiscais à cultura. Nesse período suas ações foram bastante contestadas por, na visão de seus críticos, terem promovido o sucateamento dos órgãos e entidades criados no período do regime militar, mas que garantiam a subsistência de várias áreas da cultura brasileira. "O neoliberalismo abandonou todas as referências ao que Celso pregava na sequência da CEPAL, e por isso os governos foram erráticos, sem uma linha programática", apontou Oliveira. Na ocasião também foi realizado o lançamento do livro de Rosa Freira D´Aguiar Furtado sobre o economista.
(Edna Ferreira / Jornal da Ciência) |