Helena Nader demonstra preocupação com os rumos da ciência
Ariano Suassuna é lembrado pela presidente da SBPC em seu discurso de abertura da Reunião Anual em Recife
"É muito difícil você vencer a injustiça secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos". A frase de Ariano Suassuna foi lembrada pela presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, em seu discurso na abertura da 65ª Reunião Anual da entidade, realizada ontem (21) na Universidade Federal de Pernambuco, no Recife. De acordo com ela, o Brasil mudou, mas ainda há muito o que mudar. "Vemos que não são poucos e nem fáceis os desafios", disse.
Helena demonstrou bastante preocupação sobre os rumos da educação, da ciência e da tecnologia no Brasil. Falou, no entanto, também sobre algumas conquistas. A platéia e os participantes da mesa tiveram a oportunidade de ouvir uma breve prestação de contas sobre a atuação da SBPC no último ano, sobretudo no que se refere à atuação da entidade junto ao Congresso Nacional.
Ao falar sobre o tema do evento - "Ciência para o Novo Brasil" - a presidente da SBPC lembrou que o Brasil é a 7a economia do mundo, mas tem ainda que vencer grandes desafios para estar realmente inserido na chamada Economia Baseada no Conhecimento, que implica na crescente necessidade de pronto acesso ao saber, à informação e a altos níveis de aptidões pelos diferentes setores da sociedade. "Embora nosso país seja responsável por 2,7% da produção científica mundial, o que lhe confere a 13a posição no ranking, ocupa apenas o 58o lugar em inovação entre 141 países", comparou a pesquisadora.
As manifestações de rua que vêm ocorrendo nas principais cidades brasileiras também foram abordadas. "Elas têm em sua pauta de reinvindicações a melhoria da educação. O Brasil ainda está em débito com seus cidadãos no que se refere à oferta de um ensino de qualidade, desde a pré-escola até o ensino superior", opinou Helena Nader, que usou dados sobre o ensino básico para evidenciar sua má qualidade. "O país ainda tem 6% de analfabetos e 21% de analfabetos funcionais, ou seja, quase um terço da população não consegue utilizar o conhecimento da língua para se inserir nas práticas sociais. O desempenho de nossos estudantes em exames internacionais e nacionais, mostram baixo rendimento quando avaliados na capacidade de entender e interpretar textos, matemática e ciências", lamentou.
Helena Nader anunciou ainda que a SBPC passará a partir do próximo ano a contar com a presença nas suas reuniões anuais das co-irmãs AAAS, CAST (Chinese Association for Science and Tecnology), EuroScience (Associação Européia para Ciência) e do Congresso de Associações de Ciência da Índia (ISCA) "Essas cinco sociedades realizarão durante um dia nas suas reuniões anuais, debates em torno de um tema comum de impacto em política científica buscando ao final de dois anos apresentar aos governos uma proposta conjunta", planeja.
(Jornal da Ciência)
Leia o discurso na íntegra:
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=88261
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