Políticas de C,T&I precisam se adequar à nova lógica global da produção e uso do conhecimento
Por Elton Alisson
O Brasil deu um salto significativo nos últimos anos em questões cruciais para promover o desenvolvimento científico e tecnológico do País, como o aumento da disponibilidade de recursos financeiros e a criação de instrumentos de estímulo à pesquisa, desenvolvimento e inovação (P, D&I) nas universidades e empresas. Porém, ainda precisa corrigir algumas distorções desses mecanismos e aprimorar suas políticas públicas de ciência, tecnologia e inovação (C, T&I), para que elas possam se adequar à nova realidade global da produção e utilização do conhecimento. A avaliação é da presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), Lucia Carvalho Pinto de Melo.
“Os modelos de políticas de ciência, tecnologia e inovação dominantes no século 20 não respondem mais às necessidades atuais”, analisa. “É preciso reformular a maneira de organizar a agenda de investimentos em C, T&I no Brasil”, apontou durante a conferência que proferiu na manhã de hoje (29/07) durante a 62ª Reunião Anual da SBPC – evento que a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência realiza até amanhã no campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal (RN).
De acordo com a especialista, o fenômeno da globalização e o advento das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), entre outros fatores, estão causando impactos diretos nos investimentos mundiais em C, T&I. A internet, por exemplo, possibilitou que pesquisadores dos centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de empresas e instituições de pesquisa, situados em diferentes lugares do mundo, estejam conectados em rede e desenvolvam pesquisas em tempo real em colaboração em áreas que envolvem diferentes especialidades, como a biotecnologia.
Em função dessa nova lógica da produção de conhecimento no mundo, em que muitos conhecimentos e diferentes atores, de culturas e com interesses diversos, se relacionam, Melo afirma ser necessário que as políticas de ciência, tecnologia e inovação no Brasil tenham foco na capacitação de recursos humanos para atuar nesse novo contexto. E que, além disso, também possam contribuir para o desenvolvimento de conhecimentos apropriados às necessidades do País e para a criação de indicadores que possibilitem analisar e avaliar os avanços conquistados, que representam um dos maiores gargalos das políticas de C, T&I no Brasil.
Iniciativas – Uma das ideias apresentadas pela especialista na conferência para promover o aprimoramento das políticas de C, T&I no País é a criação de centros de pesquisa interdisciplinares em universidades para capacitação de profissionais para a formulação de políticas científicas, tecnológicas e de inovação, para que possam trabalhar em conjunto com os geradores de conhecimento no meio acadêmico e no setor privado.
“Estamos propondo ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) o lançamento de um edital com esse objetivo para recuperar uma agenda que existiu no Brasil na década de 80, que formou muita gente que está atuando hoje em instituições como o BNDES e o próprio CNPq”, explica. “Eu mesma sou egressa dessa geração de pesquisadores que foi estimulada a estudar essas questões no exterior”, contou.
Outra sugestão de Melo é a criação de comunidades que integrem geradores de conhecimento nos setores público e privado e tomadores de decisão em políticas de C,T&I, a exemplo dos que existem na Europa e nos EUA. O Reino Unido, por exemplo, criou o ESRC (Conselho de Pesquisa Econômica e Social, na tradução do inglês) para formular e executar políticas científicas, tecnológicas e de inovação. E elegeu como estudos estratégicos os relacionados às ciências sociais, como as causas e sustentabilidade do crescimento dos países emergentes, a exemplo da China e do Brasil.
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