Marinha quer se aproximar das empresas
Por Moacir Loth
Considerando a riqueza e o valor político-estratégico dos recursos do mar, o contra-almirante Marcos José de Carvalho Ferreira defendeu hoje (29/7) na 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Natal (RN), um maior envolvimento e comprometimento do setor produtivo nesta área. Além de investimentos em pesquisa, o coordenador da Comissão Interministerial de Recursos do Mar (CIRM) propôs a aproximação das universidades, das empresas e do Governo com as atividades científicas desenvolvidas pelos centros de pesquisa da Marinha. “As empresas preferem manter os pés na terra em vez de ir para o mar, que não é para amadores, oferece riscos, mas que precisam ser enfrentados”, advertiu na Conferência “Estudos estratégicos para os recursos do mar”.
O conferencista apresentou uma síntese das várias atividades científicas e dos dez programas realizados no âmbito da comissão que coordena. Com essa estratégia, pretendeu aproveitar a SBPC para difundir e popularizar a ciência, a tecnologia e a inovação desenvolvidas pela Marinha Brasileira em parceria com universidades, institutos e empresas. “Precisamos divulgar mais e melhor a nossa atuação científica”, reconheceu.
O contra-almirante reivindicou investimentos à altura da importância estratégica do mar. “A Comissão Interministerial não possui orçamento próprio e há carência de navios de pesquisa e de satélites”, revelou. No entanto, deixou claro que a carência de “ferramentas adequadas” para os desafios lançados não tem impedido avanços reais na pesquisa marinha. Ele reconhece que o anúncio do ministro da Ciência e Tecnologia (MCT), Sérgio Machado Rezende, durante a SBPC, de novos editais para contemplar a criação de dois Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) para o mar favorecerá a integração das pesquisas com as universidades. A área contará com R$ 30 milhões para a viabilização de dois INCTs, um abarcando o Norte e Nordeste e o outro cobrindo o Sul e o Sudeste. Ao mesmo tempo em que busca intensificar as parcerias nacionais, inclusive junto ao empresariado, a Marinha aspira ampliar a cooperação internacional, especialmente com o Japão, país que detém liderança nas pesquisas marítimas.
Ao fazer a defesa estratégica da prioridade política do mar, o conferencista lembrou que 80% da população brasileira vive a menos de 200 quilômetros do litoral, produzindo 78% da receita da União e consumindo 85% da energia elétrica. A extensão litorânea é de 7.491 quilômetros e a massa líquida oceânica soma o equivalente a 50% do território nacional. O contra-almirante observou que, gradativamente, a sociedade brasileira está acordando para essa realidade. Ainda ao falar dos investimentos nas pesquisas, referiu-se à camada do pré-sal e argumentou que 90% da produção nacional de petróleo é extraído do mar. “E isso é feito com extrema competência e total segurança, graças aos investimentos que a Petrobras faz em pesquisa”, ressaltou.
Na opinião do contra-almirante Marcos José de Carvalho Ferreira, a exploração do petróleo do pré-sal ensejará um “grande salto no desenvolvimento econômico e social do País”. As reservas, informou, encontram-se todas localizadas dentro das 200 milhas continentais. Significa que a sua exploração está assegurada pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar.
A mesma convenção, explicou, garante o direito “pleno e soberano” de explorar os recursos naturais do leito e subsolos marinhos, numa extensão de 650 quilômetros a partir da costa para dentro do oceano. A Amazônia Azul responde por 42% do território brasileiro, o que representa 13 milhões de km².
O coordenador da Comissão Interministerial de Recursos do Mar aproveitou para divulgar, além do pré-sal, a descoberta de jazidas minerais e uma biodiversidade que poderá contribuir para o tratamento de doenças como o câncer e a AIDS. Caso houver interesse, desde que tomadas todas as precauções ambientais, as empresas brasileiras, por exemplo, poderão extrair do mar ouro, diamante, ferro, cobalto, cobre, prata e zinco. De acordo com as pesquisas da Marinha, as algas calcárias poderão ser utilizadas na agricultura, na produção de cosméticos, na suplementação alimentar, no implante ósseo e na nutrição animal.
O levantamento e a avaliação do potencial biotecnológico da biodiversidade marinha são coordenados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), em articulação com as universidades. O seu objetivo, salienta o conferencista, é tornar viável o “aproveitamento sustentável dos organismos marinhos”, incluindo-se aí o “potencial farmacológico e medicinal”. Outras áreas estratégica de atuação da Marinha são o monitoramento oceanográfico e climatológico. Entre as suas funções, destacou a previsão meteorológica e o monitoramento de fenômenos climáticos externos. Uma das metas é aumentar a capacidade de prevenir secas e inundações.
Para acompanhar as demandas científicas e tecnológicas, o conferencista manifestou a necessidade da consolidação e expansão dos grupos de pesquisa e pós-graduação em Ciências do Mar. “A formação de recursos humanos é uma prioridade da Marinha”, enfatizou, informando que atualmente funcionam no país 40 cursos de graduação e 30 de pós-graduação ligados à questão do mar. As parcerias mobilizam universidades, institutos, órgãos governamentais e empresas. É essa relação que a Comissão Interministerial sonha azeitar para tirar os pés do chão para definitivamente ganhar o alto mar.
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