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Cidades devem se preparar para os impactos com o pré-sal

Por Moacir Loth 

Depois de historiar os processos de ocupação, urbanização e de modernização de capitais como Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Porto Alegre, Vitória e São Paulo, que têm em comum a intervenção radical do colonizador no meio ambiente (desmontes de morros, aterros, destruição de mangues etc), a pesquisadora Maria Cristina Leme, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, foi incisiva ao anunciar uma revolução na vida das cidades e das populações litorâneas a partir da exploração das potencialidades das camadas do pré-sal. Maria Cristina proferiu hoje (28/7) a conferência “Cidades brasileiras: interação com o mar”, realizada dentro da programação da 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece até o dia 30 no campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal.

Doutora em Arquitetura e Urbanismo, a conferencista Maria Cristina Leme lembrou que as cidades brasileiras sempre foram mediadas pelos conflitos com o mar. Citou que a construção dos portos foi determinante na formação e modificação dos espaços urbanos. “A relação entre porto e cidade definiu praticamente a modernização das cidades a partir do século XX”, exemplificou.

A intervenção do homem, segundo ela, levou em conta fatores econômicos, sociais e políticos que desprezaram qualquer preocupação com a preservação do meio ambiente. Nesse sentido, a derrubada de morros, os aterros e a destruição dos mangues foram comuns nos processos de urbanização.

A pesquisadora observou que as ações do homem se deram de forma bastante radical. Avançou-se sobre o mar numa espécie de experimentação, isto é, sem amparo de conhecimentos científicos e sem levar em consideração os riscos embutidos nessa operação. Os aterros, informou Maria Cristina, têm servido para o desenvolvimento de novas formas de se exercer a arquitetura, o urbanismo e o paisagismo. Ela também constatou a desvalorização gradativa dos centros históricos urbanos. “A centralidade das cidades vai se deslocando com a perda do poder político e econômico”. Os desafios comuns, sublinhou, passam pela renovação e revitalização desses espaços, privilegiando, sobretudo, opções para o entretenimento e a cultura. O mesmo fenômeno ela nota nas zonas portuárias.

Embora fugisse um pouco da temática proposta pela conferência, a pesquisadora colocou lenha na polêmica do pré-sal, prevendo uma revolução urbana decorrente da exploração das suas potencialidades. “O volume de dinheiro é impressionante e os impactos e conflitos serão inevitáveis”, alertou. Além dos impactos econômicos e sociais, Maria Cristina prevê reflexos sérios na pesca e nas reservas ecológicas. Afora a briga na partilha dos royalties, os conflitos passam pela infraestrutura urbana e pela adequação dos portos e rodovias à nova realidade. Ou seja, as polêmicas e desafios transitam, como no passado, pelos conflitos e identidades que banham os doces e salgados mares brasileiros.

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