Sono e sonhos melhoram aprendizagem e desempenho das pessoas
Por Moacir Loth
Um auditório cheio manteve-se acordado e ansioso o tempo todo na conferência sobre “o papel cognitivo do sono e dos sonhos”, proferida hoje (26) pelo pesquisador Sidarta Ribeiro, do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, durante a 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Derrubando preconceitos da própria academia, as pesquisas do laboratório ligado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) começam a provar, cientificamente, que sonhos e o sono possuem relação direta com a memória das pessoas e dos ratos. O pesquisador, que doutorou-se nesse polêmico ramo da Ciência, foi apresentado aos presentes pela professora Regina Helena Lima, que, além de integrante do Instituto, também pesquisa a meditação e a ioga no desempenho cotidiano dos estudantes. A equipe de pesquisadores é liderada por Miguel Nicolelis, cientista potiguar que detém reconhecimento internacional.
Utilizando métodos e argumentos científicos, Sidarta partiu da sua experiência pessoal no doutorado. “Quando começava a trabalhar, caia no sono. Cheguei cochilar 16 horas por dia. Passei a pesquisar o assunto e descobri que o sono não estava me sabotando, mas me preparando”, contou. Os seus experimentos científicos foram realizados com ratos, cujo comportamento, nessa área, se assemelha ao dos homens. “O sono está para a memória como a alimentação está para a digestão”.
As duas fases do sono, localizadas no hipocampo e no córtex do cérebro, têm importância fundamental para a estocagem das memórias, que se aprofundam ao longo do tempo. “Geralmente não lembramos do que comemos no café da manhã, mas recordamos perfeitamente da merenda do nosso primeiro dia de aula”, exemplificou. A memória com o tempo, acrescentou, vai adquirindo ancoragem, ou seja, faz ligações com fatos correlatos. “O meu avô, por exemplo, dizia que para lembrar o nome de um novo aluno tinha que esquecer o nome de uma planta”.
Sidarta está, no momento, realizando pesquisas sobre os reflexos do sono na escola. Os primeiros resultados mostram que os alunos que tiram uma soneca absorvem muito melhor os conteúdos apresentados em sala. “Talvez possamos aproveitar a experiência futuramente em todos os níveis de ensino, inclusive na pós-graduação.”
O conferencista aprofundou ainda as questões relacionadas ao fortalecimento, à propagação e à reestruturação das memórias. Falou do papel do sono e dos sonhos na criatividade artística, intelectual e no desenvolvimento da ciência no mundo.
As pesquisas do instituto, sublinha Sidarta, recuperam pressupostos lançados há mais de 100 anos por Sigmund Freud, e na época ridicularizados, especialmente sobre o papel exercido pelos sonhos em relação aos desejos do ser humano. “Infelizmente ainda enfrentamos muita resistência e preconceito junto à comunidade científica”, lamenta Regina Helena Silva.
Atuando de forma interdisciplinar e mantendo parcerias com várias instituições no Brasil e no exterior, o laboratório está desenvolvendo simultaneamente diversos projetos de pesquisa interligados pela mesma temática. Sidarta citou, entre outros, a investigação da função oracular do sono, a busca do correlato natural do sono lúcido e o estudo de sonhos antecipatórios em vestibulandos. Os pesquisadores do laboratório consideram ser possível prever o futuro de uma maneira probabilística a partir dos sonhos. “A população acredita nisso. Falta, agora, convencer a academia”, concluiu Sidarta.
Científico ou não, o fato é que o sonho mobiliza as pessoas e o sono adequado melhora o seu desempenho. A própria conferência confirmou essa verdade.
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