Após
anos em crise, estaleiros brasileiros estão defasados
em relação aos competidores mundiais. Assunto será abordado
na 62ª. Reunião da SBPC, em Natal.
Depois de décadas em crise, a indústria brasileira
de construção naval está passando por um momento de
recuperação proporcionada, em grande parte, pelos investimentos
que estão sendo realizados no setor de óleo e gás no
País. Mas para não sofrer um novo revés, os estaleiros
nacionais terão que reparar e não repetir os mesmos
erros que cometeram no passado, quando também se apoiaram
no mercado interno e em um único setor para viabilizarem
seus projetos, alerta o professor e chefe da área de
Transporte Aquaviário do Programa de Engenharia Oceânica
da Coppe da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), Floriano Carlos Martins Pires Junior.
“O Brasil já aprendeu a lição de que não se pode contar
somente com a demanda doméstica e de um único setor
para consolidar as atividades de uma indústria naval
em longo prazo”, afirma Pires Junior. “É preciso diversificar
a atuação para outros segmentos de transporte marítimo
e aproveitar essa nova oportunidade para aumentar a
competitividade internacional”, indica o especialista
que abordará esse assunto em uma conferência que fará
na 62ª Reunião Anual da SBPC – evento que a Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) realizará
de 25 a 30 de julho em Natal (RN).
De acordo com Pires Junior, o modelo de desenvolvimento
da indústria de construção naval adotado pelo Brasil
na década de 80, quando o setor viveu um de seus melhores
momentos, provocou efeitos desastrosos e que perduram
até hoje. Extremamente protecionista, o plano se baseou
em uma política de substituição de importação que previa
a construção de navios no País para atenderem à demanda
interna da marinha mercante. Porém, com a desregulamentação
do setor de navegação, a abertura do mercado nacional
e a entrada de competidores internacionais, a maioria
dos estaleiros brasileiros entrou em crise e fechou
as portas por falta de encomendas no mercado interno
e porque não tinham tecnologia para competir no exterior.
Os poucos estaleiros nacionais que sobreviveram à quebradeira
passaram a atender o mercado offshore, de
pequenas embarcações. E nos últimos anos, com as encomendas
que estão sendo feitas, principalmente pela Petrobras,
começaram a vislumbrar a possibilidade de voltarem
a fabricar navios de grande porte e de atender uma
significativa demanda por embarcações mais sofisticadas,
como plataformas e navios sondas, utilizados para perfuração
de poços submarinos. Entretanto, para isso, o professor
afirma que eles precisarão recuperar o atraso tecnológico
em relação aos concorrentes internacionais.
“Depois de tantos anos sem fabricar grandes embarcações
a distância tecnológica entre os estaleiros brasileiros
e os principais fabricantes mundiais aumentou muito”,
diz. “O perfil de profissional que nós temos hoje no
Brasil atuando nesse setor é o mesmo das décadas de
70 e 80. Será preciso qualificar e aumentar a quantidade
de recursos humanos para atender à demanda do setor
nos próximos anos tanto nas áreas de produção e operacional
como de engenharia”.
Segundo ele, as instituições de pesquisa e formação
de recursos humanos para o setor naval no Brasil, como
a Coppe/URFJ, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas
(IPT) e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Petrobrás
(Cenpes), estão se mobilizando e tomando iniciativas
para suprirem as deficiências tecnológicas e de recursos
humanos do setor. Mas ainda falta um maior engajamento
das indústrias em participar e se envolver diretamente
nesse processo.
Capacitação – De acordo com Pires Junior, os estaleiros brasileiros
têm capacitação em processo e planejamento de construção, mas não no controle
de produção e na fabricação de grandes embarcações. Para ele, essas deficiências
podem ser supridas por intermédio de parcerias como as que a maioria deles
está celebrando com fabricantes da Coreia e Japão – os dois países que dominam
as tecnologias de produto e processo de fabricação de navios. Mas chama a atenção
para a necessidade de as indústrias brasileiras desenvolverem paralelamente
sua própria capacitação tecnológica. “Esse tipo de parceria tecnológica entre
estaleiros brasileiros e internacionais é muito limitada, porque as tecnologias
de processo e de projeto, na realidade, não são transferidas”, diz.
O especialista estima que, com atual recuperação, a
indústria brasileira de construção naval não disputará
com os principais fabricantes de navios, que são os
chineses, seguidos dos coreanos e japoneses. Poderão,
no entanto, aumentar sua participação para 5% no mercado
mundial naval, contra 0% que registra hoje. “Eu não
diria que o Brasil pode ambicionar ser um grande fabricante
de navios. Mas uma indústria naval com o tamanho do
mercado brasileiro precisa tomar alguns cuidados para
ser competitiva internacionalmente ou ficar, literalmente,
a ver navios”, conclui.
Serviço: A palestra do engenheiro naval Floriano Carlos Martins
Pires Junior será realizada no dia 25 de julho, às 10h00, durante a 62ª Reunião
Anual da SBPC, que acontece de 25 a 30 de julho em Natal (RN), no campus da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O evento, cujo tema é “Ciências
do mar: herança para o futuro”, contará com centenas de atividades, entre conferências,
simpósios, mesas-redondas, grupos de trabalho, encontros e sessões especiais,
além de apresentação de trabalhos científicos e minicursos. Veja a programação
em www.sbpcnet.org.br/natal/home/
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