Clima da região está cada vez mais quente e seco,
inviabilizando a agricultura
de sequeiro. Assunto será abordado na 62a Reunião
Anual da SBPC.
A sensação compartilhada pelos sertanejos nordestinos
de que o clima da região onde vivem está se tornando
mais quente e seco nos últimos anos e que as chuvas
estão cada vez mais fortes e esparsas tem comprovação
científica. De acordo com metereologistas, as temperaturas
máximas e mínimas registradas no interior do nordeste,
na região mais conhecida como semiárido ou sertão,
estão, de fato, ficando, ano após ano, mais elevadas,
atingindo níveis muito superiores à média global. Por
sua vez, as chuvas estão ocorrendo com maior intensidade,
porém com menor frequência na região.
“Estamos observando, com base nas séries históricas
de dados de estações metereológicas continentais, que
há uma tendência de ‘aridização’ do semiárido nordestino,
ou seja, que a temperatura do ar está aumentando e
as chuvas estão se tornando mais episódicas na região”,
afirma o metereologista e pesquisador do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Paulo Nobre.
“Em alguns lugares do sertão nordestino a temperatura
máxima diária aumentou até 3º C nos últimos quarenta
anos, que é um número muito superior à média do aumento
da temperatura global verificado no mesmo período,
de 0,4º C”, compara. O especialista abordará esse assunto
em uma conferência que fará na 62ª Reunião Anual da
SBPC – evento que a Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência (SBPC) realizará de 25 a 30 de julho em
Natal (RN).
De acordo com Nobre, em Vitória de Santo Antão, no
sertão pernambucano, por exemplo, a temperatura máxima
diária aumentou mais de 3º C nas últimas quatro décadas,
saltando de 31,5º C para 35º C. Devido a esse aquecimento,
a água disponível no solo da região está evaporando
mais rapidamente e dando origem a nuvens maiores e
mais carregadas de vapores de água que, ao se precipitarem,
resultam em chuvas mais intensas, seguidas de longos
períodos de estiagem. “Em outras regiões do País, como
São Paulo e na Amazônia, isso também está acontecendo”,
indica o especialista. “Mas como chove muito nessas
regiões, essa variabilidade climática demora mais tempo
para ser percebida”, explica.
Impactos – O especialista aponta que um dos principais impactos
dessas mudanças climáticas no semiárido nordestino, onde as chuvas são anuais
e costumam ocorrer no período de fevereiro a maio, é a diminuição da disponibilidade
de água no solo da região. Em função disso, a prática da agricultura de sequeiro,
que depende da água de chuva para o cultivo de culturas de subsistência, como
feijão e milho, deve se tornar cada vez mais inviável no interior do nordeste.
“Hoje, em várias regiões do semi-árido nordestino, e no futuro, em todo o sertão,
as culturas agrícolas que apresentam uma alta demanda de água para plantio
de sequeiro estão definitivamente condenadas”, alerta.
Por outro lado, Nobre analisa que essas mudanças no
ciclo hidrológico nordestino beneficiam o cultivo de
frutas pelo sistema de irrigação por gotejamento, que
é praticado em cidades nordestinas como Petrolina,
no Pernambuco, e Juazeiro, na Bahia, em que são utilizadas
pequenas quantidades de água para a plantação de uva
e manga, entre outras frutas. Porém, como nem todo
o solo do nordeste é apropriado para esse tipo de atividade
agrícola e a água está sendo tornando escassa e cara
na região, a recomendação do metereologista é que a
economia nordestina seja baseada cada vez mais em atividades
que apresentem menor dependência desse recurso natural.
“É uma leitura equivocada imaginar que o desenvolvimento
sócio-econômico do semi-árido se reduza ao aumento
da disponibilidade hídrica para a produção agrícola”,
avalia. “É claro que a água é importante e necessária
para atender as necessidades da população nordestina,
mas é preciso estimular atividades econômicas que não
dependam diretamente dela, como as relacionadas aos
setores de tecnologia e energia renováveis, por exemplo”.
Na opinião do pesquisador, as mudanças climáticas estão
sendo vistas de uma maneira apocalíptica. Mas se forem
tomadas as medidas necessárias, será possível se beneficiar
das alterações do clima no futuro. Para tanto, é preciso
que haja uma capacitação em metereologia no Brasil
em nível municipal, de forma que os tomadores de decisão
recebam informações detalhadas sobre previsões de eventos
extremos, como chuvas e secas intensas, e possam planejar
suas ações de intervenção.
Serviço: A palestra do metereologista Paulo Nobre será realizada
no dia 25 de julho, às 10h00, durante a 62ª Reunião Anual da SBPC, no campus
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O evento, cujo tema
é “Ciências do mar: herança para o futuro”, contará com centenas de atividades,
entre conferências, simpósios, mesas-redondas, grupos de trabalho, encontros
e sessões especiais, além de apresentação de trabalhos científicos e minicursos.
Veja a programação em www.sbpcnet.org.br/natal/home/
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