Agronegócio avança
na Amazônia com a falta de marco legal
Contradições sobre limites
técnicos e legais da produção agropecuária
nas terras firmes da floresta amazônica facilitam
o avanço da atividade na região. Assunto
será debatido na 61ª. Reunião da SBPC
De
um lado, há o Ministério do Meio Ambiente
(MMA), lutando por preservar a área de reserva nos
estabelecimentos agropecuários amazonenses. Do outro,
o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa), pressionando pela ampliação da área
plantada e até pela redução do percentual
de reserva das unidades de exploração agropecuária
na Amazônia brasileira. No meio deles, tentando mediar
essa disputa, estão alguns pesquisadores brasileiros,
que avaliam que enquanto os dois órgãos de
governo não solucionarem esse impasse, será impossível
proteger a Amazônia Legal do avanço do agronegócio,
que se desenvolve na região no vácuo da indefinição
dos limites de exploração ao nível das
unidades de produção agropecuária.
“Temos que verificar se, efetivamente, a segurança
alimentar dos povos da Amazônia está ameaçada
e se haveria a necessidade de expandir a agricultura nas
terras firmes cobertas por florestas densas na região.
Eu tenho insistido na necessidade de proibir na região
toda a exploração agrícola que implique
em desmatamento e substituição da vegetação
original por lavoura de ciclo curto ou pastagem. Isso é possível
em outras terras no Brasil, como as do cerrado, mas não
na Amazônia”, afirma o professor da Universidade Federal
da Bahia (UFBA), Amilcar Baiardi. O pesquisador discutirá este
assunto e a polêmica Medida Provisória de regularização
fundiária da Amazônia, aprovada pelo Senado,
na quinta-feira passada (28/5), durante a 61ª Reunião
da SBPC – evento que a Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência (SBPC) realiza de 12 a 17 de julho em Manaus
(AM).
Baiardi avalia como insensato o argumento utilizado
por ruralistas para justificar a atividade agropecuária
na Amazônia, de que é preciso ampliar as fronteiras
do agronegócio no País, em busca de terras
férteis e baratas, como as encontradas na região. “A
necessidade da terra varia muito a partir do uso dela. Hoje
já existem tecnologias para reduzir progressivamente
a extensão de uso dela, e o próprio Censo Agropecuário,
do IBGE, demonstra isso: Que está havendo um aumento
da produção agropecuária brasileira,
sem a ampliação da extensão de terra”,
afirma o pesquisador.
Manejo sustentável - Na
opinião
de Baiardi, que começou a fazer pesquisas sobre a
economia rural da Amazônia na metade da década
de 70, é preciso limitar ao máximo as ações
de desmatamento na floresta densa de terra firme amazonense.
Porém, de acordo com o pesquisador, esse cuidado não
inviabiliza a prática da agricultura na região,
desde que seja realizada utilizando técnicas que garantam
o manejo menos agressivo da terra firme e que sejam aproveitadas
melhor as áreas de várzeas e de preservação.
“Podemos pensar na possibilidade de serem realizados extrativismos
coletivos na Amazônia, com a exploração,
com a utilização de técnicas de manejo
sustentável, de plantas que possam ser utilizadas
em medicamentos ou cosméticos, por exemplo. Outra
atividade rentável e alternativa ao agronegócio
seria a prestação de serviços florestais.
Mas tudo isso deve ser feito com embasamento científico
e tecnológico”, ressalva.
O pesquisador identifica
as mesmas contradições
de pensamento sobre os limites de exploração
sustentável da Amazônia pelo MMA e o Mapa, em
outros órgãos de governo, da área de
pesquisa agrícola, como na renomada Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que assessora
o Mapa nas decisões técnicas relacionadas à Amazônia.
“Há pesquisadores lá que defendem critérios
rigorosos em relação ao uso do solo amazônico
e a expansão da atividade agropecuária na região.
Também há outros que são mais pragmáticos
e vêem na Amazônia uma possibilidade de expansão
da área agrícola, utilizando tecnologia da
Embrapa. Mas estes últimos não garantem, de
forma nenhuma, a preservação da floresta densa
de terra firme, que é patrimônio da humanidade
e que não podemos deixar de protegê-la”, ressalta.
Serviço: A
palestra do geógrafo
Amilcar Baiardi será realizada no dia 15 de julho, às
10h30, durante a 61ª Reunião Anual da SBPC, que
será realizada a partir do dia 12 em Manaus (AM),
no campus da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). O evento,
cujo tema é “Amazônia: Ciência e Cultura”,
contará com 175 atividades, entre conferências,
simpósios, mesas-redondas, grupos de trabalho, encontros
e sessões especiais, além de apresentação
de trabalhos científicos e minicursos. Veja a programação
em www.sbpcnet.org.br/manaus
|