(Agência SBPC) – O agronegócio na Amazônia é um desafio que ocupa as manchetes dos jornais, preocupa a opinião pública e gera brigas entre políticos ruralistas e ambientalistas. O polêmico tema foi debatido também pela comunidade acadêmica durante conferência de Amilcar Baiardi, professor da Escola de Agronomia da UFBA, durante a 61ª Reunião Anual da SBPC, em Manaus.
Baiardi apresentou logo de início as razões que fazem a Amazônia única e digna de proteção. A região heterogênea em biomas e ecossistemas é a maior área do planeta a abrigar florestas tropicais densas, responsáveis por fazer a manutenção do equilíbrio climático do planeta e prover recursos hídricos. Além disso, há a riqueza da diversidade biológica e potencial para a produção de biotecnologia.
“Em nenhuma hipótese a atividade agrícola pode vir a ameaçar o bioma de florestas densas. Para mim é a cláusula pétrea do contrato. Isso não se discute”, disse o pesquisador. “Por outro lado, há o direito das populações da Amazônia à alimentação, emprego, renda, segurança alimentar”.
Na busca por um equilíbrio entre as necessidades da população da região e a preservação da floresta, Amilcar Baiardi apresentou soluções que atenderiam a ambos os lados. Algumas alternativas seriam a produção animal e vegetal sustentável nas savanas naturais, antrópicas e já devastadas, com exceção das reservas ou lugares onde haja planos de reflorestamento; produção intensiva de lavouras de ciclos curtos; utilização de oito milhões de hectares de várzeas que oferecem condições para plantio de cereais ou tubérculos; produção animal confinada com alimentação por capineiras implantadas nas várzeas; extrativismo seletivo com retirada sustentável de madeira ou essências vegetais de alto valor agregado; atividades de ecoturismo envolvendo também recursos hídricos; formas semi-intensivas de piscicultura e aquicultura; e produção sustentável de oleaginosas e frutíferas nativas.
“Certamente o despertar dessa atividade do agronegócio amazônico vai necessitar intensamente da formação de agentes econômicos com a cultura da preservação e com sensibilidade para negócios sustentáveis. É preciso que as universidades aqui comecem a atentar para cursos dessa natureza”, alertou o pesquisador.
Durante a conferência, Baiardi foi questionado se a ocupação de terras devastadas na Amazônia não poderia acabar incentivando mais ocupação e mais desmatamentos de áreas de vegetação nativa, como aconteceu na época da ocupação do Cerrado pelo agronegócio. Segundo ele, foi justamente a ocupação desse bioma que aliviou a pressão sobre terras amazônicas.
“Houve uma devastação no Cerrado, mas foi melhor que desmatassem lá do que na Amazônia. O Cerrado é responsável por boa parte do sucesso da economia brasileira. Agora tem que começar a se pensar em conter a devastação e, quem sabe, até recuperar áreas de Cerrado através da melhora da produtividade das áreas onde já se produz. E isso só será possível com melhoramento genético”, opinou.
O pesquisador da UFBA defende os transgênicos como forma de aumentar a produção sem aumentar as áreas de cultivo. “Sou extremamente contrário à demonização da modificação genética. É fundamental para melhorar a produtividade da lavoura e reduzir as áreas cultivadas. A Embrapa, por exemplo, desenvolveu um feijão muito melhor do que o que a gente come. É um feijão modificado com gene da castanha do Pará”, contou Baiardi.
Entre as áreas já devastadas, a maioria foi destinada à criação de bovinos. Um dos maiores vilões do desmatamento continua sendo a pecuária. “Com relação a pecuária, é certamente uma das atividades que mais desmata. E o pasto é a pior alternativa para a terra firme. Em sendo terra firme tem que ser cultura agroflorestal”, ressaltou Amílcar Baiardi.
O conferencista chamou ainda a atenção para um outro fator que, na sua avaliação, precisa ser cuidado: o governo deve investir em informação e qualificação de agricultores assentados.
“Eu diria que não há agente mais desmatador da Amazônia do que o assentado do projeto de reforma agrária. No caso de Itacaré, na região da Mata Atlântica da Bahia, é estarrecedor. Receberam um assentamento e no dia seguinte não tinha nenhuma árvore em pé. Por isso vai deixar de fazer reforma agrária? Claro que não. Mas as ocupações devem se dar de acordo com as leis. Não se pode entregar a terra a qualquer um. Essa terra deve ser entregue a alguém que passe por um processo de seleção e a partir daí faça uma qualificação, porque vai ser um produtor”, afirmou o professor.
Daniela Amorim, do Jornal da Ciência, para a Agência SBPC.