(Agência SBPC) – O pesquisador Glaucius Oliva, da Universidade de São Paulo (USP), fez uma conferência terça-feira (14/07), na 61ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), sobre a “Biologia de sistemas e as doenças infecciosas de ambientes tropicais: avanços para a identificação de novos medicamentos”.
A palestra teve como objetivo principal ressaltar a importância e a necessidade da utilização do método de abordagem “biologia de sistemas”, em que os metabólitos de plantas, usados pelos organismos como mecanismos de defesa de predadores, devem ser mais explorados, em detrimento do método reducionista, assim chamado por Oliva. “A abordagem um pouco mais reducionista, que inclusive também é utilizada por nós, é importante. Mas nós precisamos olhar para o futuro e utilizar o conceito de biologia de sistemas, pois as doenças são sistemas complexos que não dependem de um único gene ou de uma única molécula . É um conjunto de características do nosso organismo que precisa ser abordado simultaneamente”, afirma o pesquisador.
De acordo com Oliva, tem se percebido uma crescente redução na descoberta de novos fármacos, apesar dos crescentes investimentos na área. “Enquanto há dez anos tínhamos mais de 30 fármacos descobertos, aprovados e disponíveis no mercado, nos últimos cinco anos esse número tem caído para, no máximo, quinze a dezoito”, ressalta. O motivo da redução, segundo o pesquisador, seria a insistência dos pesquisadores em olharem apenas para um aspecto das doenças, quando, na realidade, deveriam empregar uma visão mais abrangente sobre elas.
A doença de Chagas e a leishmaniose – moléstias extremamente negligenciadas pelas indústrias farmacêuticas – foram algumas das doenças infecciosas de ambiente tropical citadas durante a palestra. Estima-se que, aproximadamente, 12 milhões de pessoas sejam portadoras da doença de Chagas - patologia que prejudica os indivíduos a desenvolveram suas atividades profissionais, elevando as despesas do País em saúde pública. Com a empregabilidade do método de biologia de sistemas, de acordo com o pesquisador, haveria a possibilidade de desenvolver medicamentos além do Benznidazol, que precisa ser utilizado pelo indivíduo logo após a contaminação.
Após a conferência o público pode interagir com o conferencista e debater questões relativas à necessidade das empresas farmacêuticas brasileiras abandonarem a visão provinciana, que ainda persiste, e passar a enxergar os dispêndios em pesquisa e os seus riscos como investimentos necessários para o desenvolvimento de novos fármacos.
Annyelle Bezerra , do Inpa, para a Agência SBPC