(Agência SBPC) – As observações dos astros celestes foram essenciais para o desenvolvimento da humanidade em diversos sentidos, como na agricultura e na navegação. A astronomia, no entanto, é mais velha do que a própria humanidade, uma vez que todos os seres vivos, desde as plantas até os animais, olham para o céu – ou seja, reagem às mudanças na natureza. A afirmação é de Augusto Damineli, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), autor da conferência “O que a humanidade descobriu olhando para o céu”, ministrada nesta segunda-feira (13/07) na 61a Reunião Anual da SBPC, em Manaus. O pesquisador fez um passeio pela história e convidou a todos para participar do Ano Internacional da Astronomia, celebrado neste ano. “Esta é uma oportunidade para olhar em volta e descobrir o quanto de céu há na Terra”, sugere.
Mais do que os 40 anos da chegada do homem na Lua e dos 400 anos da primeira vez que Galileu olhou pelo telescópio, as comemorações se voltam para a criação do método científico na astronomia. Damineli afirma que a observação dos elementos perenes no céu – como o sol e as outras estrelas –, em contraste com elementos mutáveis na Terra, permitiu que o homem percebesse mudanças cíclicas que ocorrem na natureza. Baseado nesse conhecimento, os primeiros calendários de deslocamento do sol no zodíaco foram formulados. Esse processo, que ocorreu há cerca de dez mil anos, trouxe para a humanidade a possibilidade de previsão e, pela primeira vez, “estabeleceram-se relações de causa e efeito em grande escala”, conta o astrônomo da USP. Tais relações poderiam significar prosperidade ou morte para povos que viviam em zonas distantes do equador, onde o inverno é mais severo.
Além da agricultura, que permitiu uma produção de alimentos controlada e suficiente para manter a vida em comunidade, Damineli lembra que a observação do sol também foi responsável por outras alterações profundas na humanidade. Dentre elas, ele sugere que a simples observação da sombra de uma vara vertical pode ter sido responsável pelo surgimento das categorias mentais de espaço e tempo – e da relação entre elas. As observações astronômicas também teriam fomentado o desenvolvimento de civilizações inteiras e de outras ciências. “Na medida em que se explora o mundo lá fora, o seu espaço interno [a mente] também cresce”, conclui.
Vida aqui e lá fora – “A maior parte das pessoas não incorpora a ideia de que a Terra é um astro e que nós estamos no céu”, provoca Damineli, ao falar sobre as condições necessárias para a vida nos planetas. Para ele, o fato de existir vida na Terra só é possível porque cometas trouxeram água e outros elementos para cá. “Somos poeira de estrelas”, conclui, referindo-se ao fato de diversos elementos que compõem os seres vivos, como o oxigênio, carbono e nitrogênio, serem formados em estrelas de diferentes tamanhos. O resultado da combinação pouco especial de elementos químicos ser responsável pela vida, acredita o astrônomo da USP, pode ser provável pela a existência de vida em outras partes do universo onde haja os mesmos elementos.
Uma importante ferramenta para a busca da vida extraterrestre foi identificada há cerca de quatro anos, quando a nave espacial norte-americana Clementine identificou a simples presença de ozônio na atmosfera terrestre. A presença do ozônio, resultado da existência de grande produção de fotossíntese, passou a significar existência de vida. “Vamos usar os mesmos instrumentos e apontar para outros planetas. Se eles tiverem as mesmas assinaturas espectrais, poderemos dizer que lá existe vida. Aí vai ser uma festa muito grande”, torce Damineli.
O grupo temático “Ano Internacional da Astronomia”, da 61a Reunião Anual da SBPC, contará com mais cinco conferências e duas mesas redondas ao longo da semana, nas quais serão abordados a astronomia indígena, Galileu Galilei, astrofísica e o papel do Brasil na era da astronomia espacial.
Ana Paula Morales, da revista ComCiência, para a Agência SBPC