Reunião Regional da SBPC em Tabatinga - Tabatinga / AM - 2009 |
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 8. Botânica |
PLANTAS TINTORIAIS UTILIZADAS NA CONFECÇÃO DE ARTESANATOS PELA COMUNIDADE TICUNA DE BOM CAMINHO NO MUNICÍPIO DE BENJAMIN CONSTANT-AM. |
Carina Maciel Ocampo1 Maria del Pilar Díaz Garcia1 Anayasi Albert Rodriguez1 |
1. Universidade do Estado do Amazonas |
INTRODUÇÃO: |
Tingir o cabelo, pintar o corpo e tingir os artesanatos são manifestações culturais muito antigas que surgiram muito antes de qualquer forma da escrita. Nas florestas tropicais encontra-se uma série de vegetais empregados para tingir. Em épocas remotas os corantes vegetais foram muito procurados, competindo mesmo com os condimentos que eram extraídos de plantas. Naturalmente, quase todos os pigmentos de origem vegetal foram perdendo sua importância em face de emprego generalizado dos corantes sintéticos. A floresta amazônica apresenta uma grande diversidade de plantas que são utilizadas como tintoriais. Esses corantes naturais podem ser encontrados em todas as partes do vegetal e extraídos das raízes, madeiras, folhas, sementes, cascas, etc. O presente trabalho teve como objetivo conhecer mediante a identificação botânica as espécies de plantas tintoriais usadas para colorir as fibras têxteis na confecção de artesanatos pela comunidade Ticuna de Bom Caminho, no município de Benjamim Constant, além de observar e descrever a forma de preparação e aplicação do tingimento que este grupo étnico utiliza na confecção de seus artesanatos. |
METODOLOGIA: |
Realizou-se um levantamento bibliográfico das espécies vegetais utilizadas no uso de pigmentos naturais indígenas da Amazônia, a fim de subsidiar os trabalhos de campo, que se basearam na aplicação de questionário e entrevista semi-estruturada, utilizando técnicas de história oral, onde foi possível também realizar documentação fotográfica além das coletas de amostras de plantas que foram identificadas. |
RESULTADOS: |
A técnica de tingimento das fibras é realizada de acordo com a parte da planta utilizada, pois cada parte da planta requer um procedimento diferente para obtenção dos pigmentos naturais: Casca: raspa-se e põe-se para ferver, em seguida, coloca-se a fibra dentro da panela onde se encontra a casca(s) fervida e deixa agir por 24 horas ou até obter o tom desejado. Sementes: recolhem-se as sementes e se enrola todas em um pano, fazendo um pecúlio, logo em seguida se emerge dentro de uma taça com água. A seguir se passa em cima da fibra. Frutos e rizomas: são macerados e postos para ferver, depois de fervidas colocam-se as fibras têxteis dentro da panela com o material cozido por 24horas. Folhas: são depositadas em uma panela e fervidas, posteriormente, as fibras são colocadas junto ao corante por um período de 24 horas. Do crajiru (Arrabidaea chica Verl.) utiliza-se a folha para tingir o tucum com a cor vermelha. Do cumatê (Myrcia atramentifera Barb. Rodr) é usado o fruto para tingir o tucum e o arumã de vermelho fusco. As sementes do urucum (Bixa orellana L) tingem as fibras do arumão de amarelo-alaranjado. Já os frutos do tariri (Renealmina alpinia Rottb.) tingem de roxo o tucum. Do pau-brasil (Caesalpinia echinata Lam) é utilizada a casca para tingir de rosa as fibras do tucum e do arumã. E o rizoma do açafrão (Curcuma longa) tinge de amarelo o arumã. |
CONCLUSÃO: |
Constatou-se que muitas aldeias já utilizam pigmentos sintéticos na confecção de seu artesanato. Se por um lado isso torna a produção mais rápida, por outro se perde o conhecimento ancestral adquirido por esta etnia. A descrição botânica de algumas plantas tintoriais utilizadas pelos Ticuna, do método usado para extrair o corante das diferentes partes usadas, assim como o processo de pigmentação das fibras realizados nessa pesquisa é um importante registro deste conhecimento milenar para as futuras gerações, sendo necessário que mais estudos desse tipo sejam realizados. |
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo ao Ensino e Pesquisa do Amazonas |
Trabalho de Iniciação Científica |
Palavras-chave: Plantas tintoriais, Artesanato, Ticunas. |