Reunião Regional da SBPC no Recôncavo da Bahia
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 2. Enfermagem de Saúde Pública
IMPLICAÇÕES DAS RELAÇÕES DE GÊNERO NA VULNERABILIDADE DE MULHERES DO INTERIOR À INFECÇÃO PELO HIV/AIDS
Ninalva de Andrade Santos 1
Mirian Santos Paiva 1
1. Universidade Federal da Bahia
2. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
INTRODUÇÃO:
A infecção pelo HIV/Aids, inicialmente, apresentava predominância de transmissão sexual, principalmente entre homo/bissexuais. Posteriormente passou a apresentar expressivo número de casos entre mulheres. Compreender esta vertente epidemiológica requer consideração dos fatores sócio-econômicos e culturais, bem como das questões de gênero que contribuem para aumentar a vulnerabilidade feminina à epidemia. A problemática apresenta risco progressivo de transmissão vertical, pois muitas mulheres soropositivas encontram-se em fase reprodutiva e, portanto, predispostas a uma gravidez. A maior vulnerabilidade das mulheres decorre de fatores biológicos e/ou sócio-culturais, tais como, as relações de gênero imbricadas na incapacidade que as mulheres têm para negociar o uso dos preservativos. Além disso, no imaginário da população existe uma associação entre aids e multiparceria. Desta forma, aquelas que possuem parceiros fixos ou tenham tido poucos parceiros não se percebem em situação de risco o que aumenta sua vulnerabilidade à infecção pelo HIV. O estudo que teve como objetivo conhecer as implicações das relações de gênero na vulnerabilidade de mulheres do interior à infecção pelo HIV/Aids, constitui recorte de dissertação de mestrado em enfermagem.
METODOLOGIA:
Trata-se de estudo com abordagem multimétodos, do tipo descritivo e exploratório, cujos eixos teóricos foram a Teoria das Representações Sociais de Moscovici, gênero e conceito de vulnerabilidade. A pesquisa foi realizada no município de Jequié, localizado no interior da Bahia. Os dados foram coletados junto a 25 informantes, portadoras do HIV/aids, cadastradas em uma unidade municipal de referência em diagnóstico e tratamento de doenças sexualmente transmissíveis. A coleta dos dados foi realizada através de entrevistas semi-estruturadas e Teste de Associação Livre de Palavras, que teve como estímulos indutores: aids, HIV, sexo, sexualidade e vulnerabilidade feminina à infecção pelo HIV/aids. Os dados obtidos pelo TALP foram submetidos à Análise Fatorial de Correspondência, obtida através do software Tri-deux-Mots, sendo as entrevistas submetidas à análise temática do conteúdo
RESULTADOS:
Os resultados evidenciaram que, apesar das informantes terem como representações a prevenção, nota-se que no cotidiano, os preservativos não são usados. Sabe-se que a não adesão ao uso do condom está associada a vários fatores, a exemplo da concepção de que o preservativo diminui o prazer sexual. Deve-se considerar entre outros fatores, as relações de gênero que implicam em subordinação das mulheres junto ao sexo masculino, o que resulta na impossibilidade de negociar práticas sexuais e o uso do preservativo, principalmente quando a relação se torna estável. O aumento do número de casos da infecção HIV/aids entre as mulheres com parceria fixa desnuda a emergência de se discutir os padrões de comportamento que determinam as relações de infidelidade. Guimarães (1996) destaca a passividade e a tolerância do sexo feminino em relação à infidelidade masculina, pois esse comportamento masculino já é, de certa forma, esperado na maioria dos relacionamentos, ao passo que ser fiel é uma condição feminina. Sabe-se que a feminização da infecção pelo HIV/aids está associada a não utilização do preservativo
CONCLUSÃO:
Assim, conclui-se que os profissionais de saúde, em particular a equipe de enfermagem, têm papel importante na implementação de programas de educação continuada onde, através de disponibilização de informações claras e objetivas, possam direcionar as mulheres à compreensão dos múltiplos fatores que aumentam a vulnerabilidade feminina ao agravo, pois só dessa forma será possível promover atitudes que assegurem o exercício pleno da sexualidade sem risco para a sua saúde.
Palavras-chave: HIV/Aids, gênero, vulnerabilidade.