Reunião Regional da SBPC no Recôncavo da Bahia |
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 7. Etnologia Indígena |
Intersecções de saberes: investigando as conexões entre a produção acadêmica e as articulações políticas do Programa de Pesquisa sobre Populações Indígenas do Nordeste Brasileiro (PINEB) |
Jéssica Torres Costa e Silva 1 Suzana Moura Maia 2 |
1. Graduanda - Ciências Sociais - UFBA 2. Profa. Dra. em Antropologia - UFRB - Orientadora |
INTRODUÇÃO: |
O PINEB é um programa de pesquisa vinculado à Universidade Federal da Bahia, que se volta para o estudo sobre povos indígenas do Nordeste. Desde a sua criação, o PINEB atua junto a órgãos governamentais, notadamente o órgão indigenista oficial – FUNAI -, ONGs e junto ao movimento indígena. Em particular, possui uma relação direta com a ANAI – Associação Nacional de Ação Indigenista -, uma ONG criada em 1978 por pesquisadores também vinculados ao PINEB, e que possui uma incisiva atuação política em defesa dos direitos indígenas no Nordeste. Com base na leitura de textos que analisam o campo disciplinar da antropologia, procuramos identificar como se inter-relacionam a produção acadêmica e as articulações políticas desse programa de pesquisa e perceber como o discurso científico é construído nos textos produzidos pelos antropólogos do PINEB no que diz respeito às representações sobre a interação com os sujeitos da pesquisa. Além disso, procuramos analisar como esse discurso se articula com discursos não científicos produzidos por outros atores como o Estado, ONGs, e os povos indígenas. |
METODOLOGIA: |
A pesquisa foi realizada no período de um ano, de 2009 a 2010, durante o qual, procuramos identificar e reunir o material produzido pelos pesquisadores do PINEB sobre o Povo Pataxó. Para tanto, realizamos pesquisa tanto no acervo do PINEB quanto da ANAI, assim como reunimos material que estava disperso em mãos dos pesquisadores e artigos encontrados pela internet. Procuramos, então, na análise desses textos, identificar temas abordados, conceitos e metodologias de trabalho de campo e análise de dados, e principalmente as representações dos pesquisadores sobre o processo de interação com os sujeitos da pesquisa. A pesquisa teve como material de análise privilegiado os trabalhos escritos dos antropólogos vinculados ao PINEB, no entanto, a participação e acompanhamento da pesquisadora em eventos e outros espaços nos quais interagem os povos indígenas, antropólogos e representantes do Estado, também foram de grande importância para essa reflexão. |
RESULTADOS: |
O envolvimento direto dos pesquisadores do PINEB com as comunidades indígenas pataxós, inclusive na luta pelo reconhecimento de direitos, é explícito nas linhas dos textos acadêmicos e através da análise de suas trajetórias profissionais e de vida. Os antropólogos do PINEB atuam na construção de relatórios de identificação de terras indígenas, prestação de assessoria para o Estado, participação nas ações do movimento indígena, promoção de cursos tendo como público alvo os povos indígenas, assim como em campanhas pelos direitos indígenas. Percebemos que tanto o processo de construção, quanto os resultados da produção de um “discurso autorizado”, que a ciência e os especialistas assumem na representação da realidade, extrapolam as fronteiras acadêmicas. Não apenas as ações políticas no sentido estrito, mas os discursos formulados pela antropologia nas pesquisas técnicas e acadêmicas têm impactos políticos. Percebemos que hoje a antropologia se depara com o desafio de conseguir dialogar com lógicas diferentes como a jurídico-administrativa do Estado e as demandas dos próprios povos indígenas. Ao mesmo tempo em que ocorre uma apropriação e ressignificação da sua linguagem em contextos não-acadêmicos, seja nas políticas de governo ou na militância indígena e indigenista. |
CONCLUSÃO: |
Temos consciência que este trabalho é um esforço inicial, por parte da pesquisadora, de reflexão sobre o tema. Mas, o que percebemos através da análise das intersecções entre academia e política em um Programa de Pesquisa como o PINEB é que linguagens com dinâmicas de elaboração e aplicação diferenciadas tentam dialogar, não sem conflito, num complexo de arenas, atores e relações de poder, disputando ou convergindo sobre o discurso autorizado. |
Instituição de Fomento: CNPQ |
Palavras-chave: produção acadêmica, articulações políticas, povos indígenas. |