Reunião Regional da SBPC no Recôncavo da Bahia
E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 2. Economia e Sociologia Agrícola
QUANDO O ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICA E A FORMAÇÃO DE PREÇOS VÃO ALÉM DA SIMPLES DESMISTIFICAÇÃO DOS NÚMEROS: CONTRIBUIÇÕES AO PROCESSO DE INCUBAÇÃO
Juliana Rodrigues Sampaio 1
Isabel de Jesus Santos 2
Regys Fernando de Jesus Araujo 3
Tatiana Ribeiro Velloso 4
1. Estudante de Agronomia - CCAAB - UFRB
2. Engenheira Agrônoma - INCUBA/UFRB
3. Estudante de Engenharia de Pesca - CCAAB - UFRB
4. Professora Assistente - CCAAB - UFRB (Orientadora)
INTRODUÇÃO:
No ensejo da Economia Solidária (ES), o Estudo de Viabilidade Econômica (EVE) e a Formação de Preço (FP) configuram-se como importantes ferramentas participativas para o método de incubação e no processo decisório de Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) ao fomentar a emancipação das pessoas através da reapropriação de suas experiências de vida e de trabalho, desmistificação da contabilidade e exercício da gestão democrática, na mesma medida em que permitem ao facilitador o contato com questões que perpassam os princípios cooperativistas, reafirmando-os ou contrapondo-os, bem como a co-responsabilidade no processo de aprendizagem. Pressupondo a partir da experiência da INCUBA/UFRB junto aos EES que exista ainda na gestão social e na cultura dos órgãos de fomento as dicotomias racionalidade instrumental/substantiva, opressor/oprimido e consequente interferência motivacional, o presente trabalho objetiva suscitar o debate sobre as contribuições à metodologia de incubação que as ferramentas EVE e FP podem compor ao explicitar as relações internas e externas inerentes aos EES, sob a ótica dos princípios que embasam a ES levando-nos à reflexão consciente quanto aos limites e possibilidades da autogestão.
METODOLOGIA:
O EVE e a FP foram conduzidos com respeito ao saber popular a partir do qual se deu a construção coletiva do conhecimento sobre etapas, custos e condições necessárias ao desenvolvimento das atividades produtivas. Optou-se pela metodologia e referencial teórico das oficinas da CAPINA. Deu-se inicialmente o diálogo sobre as atividades produtivas e a reconstrução da simbologia destas para o contexto comunitário e territorial constituindo o processo de reapropriação e valorização identitária. Incitou-se a reflexão sobre a organização do grupo operacional, competências e responsabilidades individuais e inter-relações, bem como sobre relações com a comunidade e com o mercado. Deste diálogo as perguntas e respostas geradas subsidiaram a construção participativa da atividade incorporando os conceitos básicos contábeis contextualizando-os no cotidiano dos grupos. Indicativos de tensão e concordância viabilizaram a correlação entre os princípios e valores praticados nos EES, ES e na INCUBA/UFRB.
RESULTADOS:
No decorrer das atividades com os grupos sobressaíram-se a expertise quanto às necessidades qualitativas e quantitativas dos recursos relacionados à produção e ao gerenciamento efetivo para reapropriação consciente dos meios de produção e da gestão democrática.
Em alguns grupos puderam aflorar questões de gênero vinculadas ao poder pela apropriação do saber sobre o uso de recursos ou procedimentos de etapas da cadeia produtiva e, supremacia ou submissão entre grupos por afinidades/preconceitos de atividades produtivas ou por laços sociais. Nas relações externas, os EES mostraram-se receptivos à intercooperação na aquisição de recursos e produtos e intercâmbio de saberes. As resistências indicaram crise entre os princípios norteadores da ES e a individualização e sentimento de competição que ainda persistem aliados a processos históricos e socioculturais intra e intercomunitários.
Para a determinação dos custos de forma sustentável, fizeram-se necessários conhecimentos sobre a Legislação normativa e tributária, compreensão das relações de mercado “oferta/demanda” e indissociabilidade entre base social e empreendimento enquanto entidade jurídica de representação suscitando o diálogo quanto às responsabilidades, comprometimentos e competências e necessidades operacionais dos EES.
CONCLUSÃO:
O EVE e a FP vão além da demonstração contábil ao explicitarem a cultura dos EES e possibilitarem sua superação ou otimização de modo que não estejam à margem do processo produtivo e do mercado. As fragilidades derivam da gênese dos EES aliada ao processo formativo para uma prática de trabalho coletivo, solidário e autogestionário que (re)surge em um contexto socioeconômico onde a racionalidade instrumental, por vêzes, ainda encontra-se enraizada nos educadores, educandos e órgãos fomentadores.
Palavras-chave: Economia Solidária, Sustentabilidade, Autogestão.