Reunião Regional da SBPC no Recôncavo da Bahia |
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana |
A mulher negra em Cruz as Almas: discutindo a inserção/ exclusão social |
Jamile Campos da Cruz 1 Miguel Cerqueira Santos 2 |
1. Universidade Federal do Reconcavo da Bahia 2. Prof. Dr. Universidade do Estado da Bahia |
INTRODUÇÃO: |
A desigualdade de gênero que envolve as relações entre homens e mulheres é mais perversa quando se trata da comunidade negra, onde a mulher negra, assim como seu trabalho, é extremamente desvalorizada. A questão de gênero enquanto um constructo social por si só é um complicador, mas somada às questões raciais significa maiores dificuldades para seus agentes. Devido a essas desigualdades que atribuem às mulheres uma posição de subordinação na estrutura familiar, as mulheres têm menores perspectivas profissionais e motivação para permanecer no meio rural do que os homens. Essas mulheres ao saírem do campo encontram dificuldades para se inserirem nos variados setores da comunidade urbana, fato esse demasiadamente aumentado caso a aspirante à vida urbana for vista pelo meio receptor como parda ou negra. Nesta feita, o presente trabalho visa analisar os processos de inserção/exclusão das mulheres negras oriundas do campo, buscando compreender como estas percebem a vida na zona urbana do município de Cruz das Almas - BA. A presente pesquisa torna-se relevante à medida que se propõe discutir o papel da mulher negra em nossa sociedade, sua importância para a manutenção e subsistência familiar e os diversos aspectos ligados a vida social, econômica e política destas mulheres. |
METODOLOGIA: |
O ensino e a pesquisa têm sentido se responderem aos problemas práticos colocados pelos agentes sociais, pelo que a comunicação Universidade/sociedade torna-se essencial. Para viabilizar a execução da pesquisa, foi fundamental a adoção de procedimentos metodológicos coerentes e que contribuíram para a definição dos encaminhamentos e elucidação dos questionamentos previamente suscitados. Assim, foi realizada uma revisão bibliográfica com o auxílio do acervo das bibliotecas da Universidade do Estado da Bahia, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, da Universidade Federal da Bahia, do Centro de Estudos Afro-Orientais e particulares. Foram coletados dados de 60 mulheres por meio de técnicas qualitativa da pesquisa como questionários e entrevistas. O método de análise qualitativa crítica não prescindiu um estudo quantitativo, que acrescentou ao trabalho dados estatísticos, objetivando uma melhor visualização dos dados em tabelas e gráficos. |
RESULTADOS: |
Na analise dos dados verificou-se que 65% das mulheres perceberam-se submetidas a práticas discriminatórias. Dessas, 75% indicaram o comércio da cidade como o lócus dessas práticas, o que veio evidenciar além de uma auto-percepção racial, a denuncia de uma seletividade do atendimento nesses estabelecimentos. As entrevistadas apontaram a desvalorização na esfera laboral refletida principalmente na remuneração. É imprescindível questionar a presença maciça destas mulheres nos trabalhos mais desvalorizados e de baixa remuneração como é o caso do trabalho doméstico representado 30%, empresas de fumo 15% e operária calçadista 15%. Encontrou-se um ciclo ininterrupto onde a exclusão educacional, a presença em trabalhos desvalorizados social e economicamente, a residência em moradias precárias e em bairros com infra-estrutura deficiente e a deficiência na área de lazer funcionam como empecilhos a inserção social e ao exercício da cidadania plena. A trajetória de vida de muitas dessas mulheres ratificam tal afirmação, muita luta por pouca visibilidade, pois o racismo tem dificultado a ascensão social destas mulheres que desta forma ficam condenadas à pobreza. O racismo ou preconceito ou ainda discriminação funciona como obstáculo de mobilidade social e como agressor de auto-estima. |
CONCLUSÃO: |
A pesquisa evidenciou a exclusão social e um modelo de urbanização excludente. O fator étnico aliado a origem rural dificulta a inserção nos diversos aspectos da vida urbana. A essas mulheres foram negado – no passado e no presente – o direito à cidadania, o direito à vida e à propriedade, o direito de ser politizada, o direito de participar da riqueza coletiva, o direito a saúde, trabalho, salário justo e a outros que segundo a Constituição Federal de 1988 são de todos os cidadãos brasileiros. |
Palavras-chave: Mulheres negras, Exclusão/inclusão, Percepção racial. |