Reunião Regional da SBPC em Oriximiná
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
Sobre formação universitária e investimento subjetivo: formas de relacionar-se com os objetos de estudo e de cultura de estudantes universitários do interior do Pará – primeira aproximação
Tiago Aquino Silva de Santana 1
Marília Cristina da Silva Corrêa 2
Luiz Percival Leme de Britto 3
1. Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA
2. Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA
3. Prof. Dr./ Orientador - Instituto de Ciências da Educação- UFOPA
INTRODUÇÃO:
A Educação Superior no Brasil experimentou crescimento quantitativo expressivo nas últimas décadas, incorporando novos estudantes, oriundos segmentos sociais até há pouco alijados desse nível de ensino. Isso tem evidentes implicações teóricas e práticas para a compreensão do processo formativo e para as formas como se faz a organização do espaço acadêmico. A pesquisa busca compreender como se estabelecem os modos de o estudante universitário de região periférica, mais precisamente os estudantes de licenciatura da UFOPA, campus de Santarém, relacionar-se com os objetos de estudo e de formação cultural, com vista a avançar a percepção dos processos de formação acadêmica; consideram-se especialmente as maneiras de os alunos compreenderem seus processos formativos e sua forma de aproximação dos produtos culturais e intelectuais direta ou indiretamente afeitos à formação acadêmica, intelectual e profissional; isso inclui tanto os conteúdos e processos próprios da dimensão curricular como aqueles que se articulam com outras dimensões formativas. Admitindo que tais investimentos têm efeitos significativos na forma de o estudante compreender o conhecimento, buscou-se estabelecer relações entre as dinâmicas formativas e o desenvolvimento de sua postura acadêmica – isto é, a forma como organiza e realiza os estudos, participa das aulas, produz seus trabalhos.
METODOLOGIA:
A pesquisa foi dividida em dois momentos: 1. busca por bibliografia para o aporte teórico da pesquisa; e 2. aplicação de questionário fechado para um grupo de 200 alunos dos cursos de licenciatura da UFOPA – Santarém, seguido da devida análise dos dados; o questionário era composto de 42 questões subdividas em seis temas gerais de análise: identificação, Educação Superior, atividades extraclasse, atividade de leitura, atividade de estudo e, leitura de estudo; o critério empregado para análise dos dados foi o de análise simples de score total, utilizou-se como recurso o programa Microsoft Office Excel 2007®; fez-se a opção por esta metodologia por conta de o levantamento estatístico, apesar de apresentar panorama mais visível dos dados, demandar recursos e tempo de que não dispúnhamos; o sujeito estudado é o “aluno novo”, oriundo de segmentos sociais que até há pouco não alcançavam este nível de educação e que, em grande parte, assiste a cursos de IES periféricas, principalmente noturnos. Esse estudante estabelece relação com estudar e formar-se regida por concepções aligeiradas de conhecimento e fundamentalmente relacionadas com a preocupação de qualificação para o mercado de trabalho. É nossa assunção de que a maioria dos alunos de Santarém, tanto das IES públicas como das privadas, enquadra-se nessa categoria, uma vez que a expansão da educação superior na região é recente;
RESULTADOS:
Os resultados evidenciam a importância dada a conhecimentos de ordem prática, revelando formação voltada para o pragmatismo e para conhecimentos de aplicação imediata; a perspectiva de formação universitária não compreende toda a dimensão acadêmica; a frequência de leitura é motivada principalmente pelo cumprimento de tarefas acadêmicas, pouco havendo de leitura espontânea; quando, em perguntas referentes às motivações de leitura, percebe-se que se lê por motivos alheios à universidade, sem obrigatoriedade, observa-se que essa permanece no nível do senso comum, com ênfase na autoajuda, religião e textos instrutivos de caráter pragmático; quanto ao material de estudo, percebeu-se que os sujeitos pesquisados utilizam muito textos fotocopiados; os textos baixados da internet são utilizados com frequência razoável, mas não se sabe a qualidade e a forma de busca desses textos; as anotações de aula são poucas, indicando mudança de comportamento acadêmico; a utilização de textos em formato original é extremamente reduzida, indicando pouco acesso a livros e revistas acadêmicas; quanto às atividades de estudo, observou-se que o uso do espaço da biblioteca está abaixo de um nível considerado ideal; o que mais se faz é empréstimo de livros; há pouca cultura de ler revistas e jornal no espaço da biblioteca; é pequena a frequência de pesquisas bibliográficas.
CONCLUSÃO:
Os resultados sugerem que é significativa a tendência do estudante da Universidade periférica de estabelecer relação pragmático-instrumental com o conhecimento, havendo pouco investimento em acervo pessoal e em atividades intelectuais e culturais que transcendam a dimensão curricular e o viés pragmático; o investimento em organização de acervos pessoais não aparece como preocupação relevante; aliás, a formação tende a ficar submetida às fotocópias, para o que as práticas docentes também parecem colaborar; adquirir livros ou outros impressos é algo bastante limitado; os livros surgem não como primeira opção, mas como complemento ou segunda alternativa; a maioria dos alunos parece considerar ler e estudar práticas relevantes e lê com relativa frequência, mas, mais comumente, para auxiliar nas tarefas acadêmicas obrigatórias ou como autoajuda; a leitura de estudo é parte da tarefa escolar, não havendo sua inserção num corpo teórico maior nem extrapolação para dimensões intelectuais mais abertas; por isso mesmo, a leitura de estudo se concentra no próprio texto de aula. Isso indica a necessidade de uma política de formação que valorize a universidade como lugar de conhecimento e de experiência intelectual e que amplie as disponibilidades objetivas de acesso.
Instituição de Fomento: PIBIC-UFOPA-FAPESPA; PIBIC-UFOPA-CNPq;
Palavras-chave: estudante universitário