Reunião Regional da SBPC em Oriximiná |
C. Ciências Biológicas - 2. Biologia Geral - 1. Biologia da Conservação |
ESTUDO E DINÂMICA COMPORTAMENTAL E POPULACIONAL DE BOTOS (inia geoffrensis e sotalia fluviatilis) ATRAVÉS DE MÉTODOS DE FOTO IDENTIFICAÇÃO NA RESERVA BIOLÓGICA DO RIO TROMBETAS-PA |
António Miguel Borregana Miguéis 1 Fleimar de Oliveira Castro 2 Zelva Cristina Amazonas Pena 3 |
1. Prof. Dr. / Orientador - Instituto de Ciências e Educação - Programa de Biologia – ICED/ UFOPA 2. Faculdade de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Pará - UFPA 3. Instituto de Ciências da Sociedade (ICS)/ UFOPA |
INTRODUÇÃO: |
Em toda a bacia amazônica botos exibem sua beleza perpetuando o misticismo que os imortalizaram ao longo dos tempos. Crenças e lendas associadas a estes animais influenciam direta ou indiretamente o cotidiano dos caboclos ribeirinhos da Amazônia. Se os botos eram no passado considerados animais de veneração e devoção, hoje a realidade é bem diferente. Desde o ano 1999, um novo tipo de técnica de pesca envolvendo a morte ilegal de botos (Inia geoffrensis) tornou-se uma prática normal entre as comunidades ribeirinhas do Estado do Amazonas, no entanto a mesma vem já se expandindo e acontecendo desde 2008 no Oeste do Pará. A matança dos animais é violenta e cruel empregando arpões, terçados e paus nos animais até a sua morte. Esta carnificina é a consequência da técnica de pesca da piracatinga (Calophysus macropterus), um peixe que se alimenta à base de matéria orgânica morta. Depois de mortos, a carne destes é usada como isca para atrair e capturar a piracatinga. Face a este vergonhoso cenário este trabalho propôs-se a estimar a dinâmica populacional destes animais e conscientizar a sociedade acerca da importância dos botos e o papel que estes desenvolvem na cadeia ecológica visando de modo geral a sua conservação. |
METODOLOGIA: |
A área de estudo centrou-se na Reserva Biológica do Rio trombetas (Oriximiná-PA), compreendendo a área que se estende desde o Lago Erepecú, a partir da Base do Erepecú (S 01°24’09.6” e W 056°26’20.2”) e Base Santa Rosa (S 05°62’62.02” e W 056°41’54.3”). O esforço de observação foi realizado entre 2008 e 2012. Mensalmente, durante uma semana, nos períodos da manha (das 6.30 da manhã até às 13 horas)e tarde e à tarde (das 17 às 19.30), a coleta de dados ocorreu alternadamente em três áreas de grande densidade populacional de botos com a ajuda de um barco (voadeira) com 5m de comprimento com motor Yamaha 15 HP e rabeta de 5HP. As técnicas de foto-identificação foram realizadas seguindo o método proposto por Mazzoil et al., 2004. Fotos foram batidas até um máximo de 50 metros do ponto móvel de observação para identificação dos animais e do estudo de marcação/recaptura com o auxílio de uma câmera fotográfica digital câmera digital Sony modelo DSRL-A200, com lente Sony de 75-300 mm, e dois cartões de memória de 2GB e 4GB. Posteriormente, em laboratório as fotos foram analisadas e classificadas de acordo com sua qualidade e foram utilizadas para gerar o catálogo somente aquelas que permitiram uma identificação inequívoca dos animais. |
RESULTADOS: |
As duas espécies de cetáceos Inia geoffrensis e Sotália fluviatilis poderam ser encontradas na área de estudo. Algumas fêmeas utilizam os lagos como refúgio para procriação já que foram observadas 95% das vezes em associação com seus filhotes. Foi possível perceber que alguns indivíduos apresentaram fidelidade á área (45%), outros porém são semi-residentes (34%), apresentam idas e vindas á área ou não-residentes (21%), que apenas foram observados uma única vez. Verificou-se neste estudo um decréscimo populacional significativo destas espécies entre os anos de 2008 e 2012 (34%). Aliado a estes resultados estão as inúmeras matanças de botos que ocorrem abertamente por todo o oeste do estado do Pará. Estimamos que numa só comunidade cerca de 7200 botos sejam abatidos por ano intencionalmente. A par deste descalabro se contam também as mortes em conjunto intencionais em que apenas numa hora cerca de 200 botos morrem são mortos em conjunto numa área de intensa atividade de pesca. Se ainda se adicionarem as inúmeras mortes acidentais em malhadeiras e outras por causas naturais é possível compreender a razão porque nosso estudo verificou uma redução tão drástica em apenas quatro anos de estudo. |
CONCLUSÃO: |
Contrariamente a alguns autores é possível realizar a identificação dos botos através da técnica de foto-identificação pela distinção de marcas naturais permanentes, variação na pigmentação e cortes provocados por contato social ou mutilações em redes de pesca, que funcionam como impressões digitais, pois são únicas em cada indivíduo. Os motivos da redução no número de indivíduos observados é devida provavelmente ás inúmeras matanças intencionais de animais que estão ocorrendo na região do Oeste do Pará que esta colapsando as populações de botos a números que se aproximam da rota de extinção. Uma outra hipótese é que esteja ocorrendo uma migração por conta da diminuição na disponibilidade de alimentos, ou devido a poluição no rio Trombetas derivado das descargas de uma mineradora de bauxita presente na área de estudo. É de extrema importância a continuação deste estudo e relacionar os dados fotográficos com os dados das matanças de botos que ocorrem na região de modo a poder calcular taxas de natalidade/mortalidade e analisar as flutuações populacionais. Deste modo poderemos calcular estimativas populacionais e montar modelos de conservação e ações de mitigação para que as matanças desenfreadas possam desparecer. |
Instituição de Fomento: Whale Dolphin Conservation Society (WDCS) |
Palavras-chave: Foto-identificação |