Reunião Regional da SBPC em Oriximiná
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 6. Morfologia e Taxonomia Vegetal
EXAME POLÍNICO DE MÉIS DE ABELHAS NATIVAS DO OESTE DO PARÁ
Jaílson Santos de Novais 1
1. Centro de Formação Interdisciplinar, Univ. Federal do Oeste do Pará - UFOPA
INTRODUÇÃO:
A Melissopalinologia compreende basicamente o estudo dos grãos de pólen encontrados em produtos relacionados às abelhas, como mel, pólen, própolis, geoprópolis e geleia real. A caracterização polínica de tais insumos é uma importante ferramenta para indicar quais espécies de plantas podem desempenhar um papel central na dieta das abelhas, especialmente aquelas manejadas com fins comerciais.
Para a Amazônia os estudos melissopalinológicos são escassos e centrados em poucas espécies de abelhas. Isso é preocupante, uma vez que determinados autores estimam existir nesse bioma acima de cem espécies de meliponíneos (abelhas nativas, indígenas ou sem ferrão), as quais contribuem para a polinização da maioria das espécies de Angiospermas. Além disso, a meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão) é uma atividade crescente em muitos municípios amazônicos e pode beneficiar-se do conhecimento das plantas úteis a estes insetos, a partir do melhoramento do pasto floral disponível para coleta de néctar e pólen.
Este trabalho objetivou apresentar o espectro polínico de amostras de mel de abelhas sem ferrão provenientes dos municípios de Belterra e Santarém, no Oeste do Pará, inferindo as espécies vegetais mais utilizadas pelos meliponíneos nas áreas de estudo.
METODOLOGIA:
Foram examinadas amostras de mel de Tetragonisca angustula Latreille (Apidae, Meliponina), uma espécie de abelha sem ferrão encontrada em diversas regiões do Brasil e que produz pequena quantidade de um mel muito apreciado por apresentar, segundo o conhecimento popular, propriedades medicinais.
Os meliponários de procedência das amostras estão localizados na sede da Associação de Meliponicultores do Município de Belterra, Belterra/PA, e na Escola da Floresta/Secretaria Municipal de Educação de Santarém, Santarém/PA.
As amostras foram coletadas entre 09/2010 e 04/2011, com o auxílio de seringas descartáveis e acondicionadas em potes de acrílico devidamente etiquetados. Em laboratório o material foi processado de acordo com técnicas usuais em Palinologia, com uso de acetólise (Erdtman, 1960). Para cada amostra foram confeccionadas quatro lâminas, usando gelatina glicerinada corada com safranina. Sob microscopia óptica os grãos de pólen presentes nas amostras foram identificados com base na palinoteca de referência da área de estudo e em catálogos polínicos. Foram contados ao menos 500 grãos de pólen por amostra, para o estabelecimento de classes de frequência: pólen dominante (PD, >45%), acessório (PA, 16 - 45%), isolado (PI, <16%).
RESULTADOS:
As amostras de mel oriundas do município de Belterra apresentaram 47 tipos polínicos, relacionados a 26 famílias botânicas. Destas, Fabaceae apresentou o maior número de tipos (11), seguida por Amaranthaceae, Asteraceae e Euphorbiaceae (três tipos cada), Anacardiaceae, Bignoniaceae, Malpighiaceae, Myrtaceae e Rubiaceae (dois tipos cada).
Enquanto isso, nos méis procedentes da Escola da Floresta, Santarém, foram reconhecidos 23 tipos polínicos, correlatos a 11 famílias. Dentre estas, novamente Fabaceae obteve destaque, com 12 tipos polínicos, seguida por Malpighiaceae (dois). Fabaceae já é uma família bem representada em análises polínicas de méis de diferentes regiões do Brasil, incluindo agora a Amazônia.
Quanto às classes de frequência, Cecropia (Urticaceae) foi PD em uma amostra de mel em cada município e Spermacoce capitata (Rubiaceae) foi PD em duas amostras oriundas de Belterra. Como PA foram registrados os seguintes tipos polínicos: Machaerium (Fabaceae), Microtea (Phytolaccaceae), S. capitata e Tapirira guianensis (Anacardiaceae), para Belterra; e Clidemia (Melastomataceae), Clathrothropis nitida (Fabaceae), Machaerium, Senna (Fabaceae) e T. guianensis, para Santarém. Tipos como Cecropia e T. guianensis já foram citados em análises polínicas de outras áreas amazônicas.
CONCLUSÃO:
A análise palinológica revelou espécies com possível potencial meliponícola, com destaque para espécies de leguminosas. Muitos tipos polínicos identificados têm afinidade botânica com espécies redurais, destacando a importância dessas plantas para a manutenção de colônias de abelhas nativas nas áreas de estudo.
O razoável número de tipos polínicos registrado para as amostras investigadas aponta para o hábito generalista de forrageio de T. angustula. Estudos adicionais focando esta e outras espécies de meliponíneos da região amazônica podem corroborar e ampliar a lista de espécies vegetais com capacidade de uso pelos meliponicultores locais, visando à ampliação da produção de mel e pólen.
Instituição de Fomento: (Apoio) Associação dos Meliponicultores do Município de Belterra (AMEMBEL); Escola da Floresta/Secretaria Municipal de Educação de Santarém (SEMED).
Palavras-chave: Palinologia