Reunião Regional da SBPC em Boa Vista
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 3. Saúde de Populações Especiais
Mortalidade por suicídio no município “mais indígena” do Brasil
Jesem Douglas Yamall Orellana 1
Maximiliano Loiola Ponte de Souza 1
1. Sociodiversidade em Saúde - Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/FIOCRUZ)
INTRODUÇÃO:
A OMS apontou a mortalidade por suicídio como a 13ª causa de morte no planeta. No Brasil, em 2005, a taxa de mortalidade por suicídio (TMS) foi de 6,5/100.000, valor baixo, quando comparado aos reportados em países do leste europeu, da Ásia e inclusive das Américas. Além das variações regionais, tal como observado em países como a Noruega, Austrália, Canadá e EUA, no Brasil, há indícios que pelo menos alguns grupos indígenas apresentam TMS que em muito diferem da taxa média nacional. Exemplo desta situação foi a descrita entre os Guarani Kaiowá e Nhandeva de Mato Grosso do Sul, onde se observou uma taxa média de suicídio de 118,4/100.00, para o período de 2000 a 2007. Os poucos estudos sobre as estatísticas de mortalidade por suicídio no Brasil costumam privilegiar populações essencialmente não indígenas, localizadas em sua maior parte nas regiões sul e sudeste do país. Portanto, reconhecendo a exigüidade de dados e de estudos epidemiológicos sobre o suicídio em contextos sócio-culturais diferenciados, o objetivo deste trabalho foi analisar as taxas e as características dos suicídios ocorridos em São Gabriel da Cachoeira (SGC), Amazonas, no período de 2000 a 2007
METODOLOGIA:
Estudo retrospectivo e descritivo, realizado com o propósito de analisar as taxas e as características sócio-demográficas e clínico-epidemiológicas do suicídio no Município de SGC, utilizando dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Todos os registros classificados como óbitos devido ao suicídio nos códigos X60 a X84 (“lesões auto-provocadas voluntariamente”) da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10) foram considerados casos de suicídio. Taxas de mortalidade por suicídio ajustadas, seguindo o método de ajuste direto da idade, foram calculadas. A análise descritiva dos dados foi realizada mediante as freqüências relativas, absolutas e medidas de tendência central. Foram realizados testes de proporções e de mediana. O nível de significância estatística considerado admitiu um p-valor <0,05. A entrada de dados e suas respectivas análises foram realizadas com o auxílio do software SPSS versão 9.0.
RESULTADOS:
No período investigado foram registrados 44 suicídios. Do primeiro ao último biênio analisado, a taxa de mortalidade por suicídio ajustada (TMSA) apresentou incremento de 3,7 vezes, passando de 6,7 para 24,5/100.000. As taxas de mortalidade por suicídio mais elevadas foram observadas na faixa etária de 15 a 24 anos, e foi verificado um progressivo e consistente aumento nestas taxas, passando de 16,1 para 83,1/100.000 do primeiro ao último biênio. A maior parte dos suicídios foi cometida por indígenas (97,7%), do sexo masculino (81,8%) e solteiros (70,5 %). Os óbitos ocorreram em sua maioria no final de semana, em casa (86,4%) e foram realizados, predominantemente, por enforcamento (97,7%). Abordou-se a mortalidade por suicídio, num contexto sócio-cultural e sanitário singular, SGC, cidade brasileira com a maior proporção de auto-declarados indígenas do país. Este olhar focalizado em SGC permitiu identificar uma realidade sanitária específica, na qual o suicídio é um problema de saúde real e sério. As características sócio-demográficas e clínico-epidemiológicas dos suicidas de SGC as aproximam do perfil suicida observado em contextos essencialmente indígenas, na medida em que se observou uma predominância de homens, jovens, solteiros e o enforcamento como meio letal mais comum.
CONCLUSÃO:
Para além da inédita descrição e análise da mortalidade por suicídio, no município mais indígena do Brasil, também evidenciou-se o caráter singular e a pluralidade dos contextos sócio-culturais nos quais estes eventos ocorrem no país. A redução do suicídio nessas populações demanda conhecimentos gerados a partir de diferentes campos disciplinares, incluindo estratégias voltadas á promoção da saúde e que envolvam, os diferentes grupos e atores sociais, mediante relações dialógicas e respeitosas.
Instituição de Fomento: Instituto Leônidas e Maria Deane
Palavras-chave: suicídio, epidemiologia, índios sul-americanos, juventude, Brasil