O físico recifense José Leite Lopes (1918 – 2006) é considerado uma das figuras fundamentais para a introdução da física teórica e para a consolidação da física moderna no Brasil. Colaborou com criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e foi fundador da Escola Latino-americana de Física (Elaf). Foi presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF) de 1967 a 1971 e recebeu o título de presidente de honra da SBPC, por suas contribuições ao desenvolvimento da ciência e da educação no Brasil.
Em 1935 Leite Lopes ingressou no curso de Química Industrial da Escola de Engenharia de Pernambuco. Em 1937 apresentou no 3º Congresso Sul-Americano de Química, no Rio de Janeiro, um trabalho sobre o mecanismo molecular das reações químicas. No ano de 1940 iniciou o curso de Física da Faculdade Nacional de Filosofia, no Rio de Janeiro. Dois anos depois, foi convidado por Carlos Chagas Filho, com uma bolsa concedida por Guilherme Guinle, a trabalhar no Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). No ano seguinte, com uma bolsa da Fundação Zerrener, Leite Lopes foi para a Universidade de São Paulo (USP), onde aprofundou suas pesquisas. Em 1946 recebeu o título Ph.D. pela universidade de Princeton (EUA), sob orientação de Wolfgang Pauli, prêmio Nobel de Física em 1945. Retornou ao Rio de Janeiro e assumiu a cátedra interina de Física na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (FNFi). Nos anos de 1946 e 1947, trabalhou nas eliminações de contradições da eletrodinâmica, tendo em vista uma teoria desenvolvida por Mario Schonberg.
No ano de 1958, publicou a primeira avaliação correta da massa dos bósons vetoriais na prestigiosa revista Nuclear Physics. Nesse artigo ele apresentou a hipótese de que existiria uma partícula neutra mediadora das interações fracas 40 a 60 vezes mais pesada do que o próton. A conjectura de Leite Lopes - orientada pela busca da beleza nas leis da Natureza - estava muito além de seu tempo e foi um passo importante para a unificação das forças eletrofracas.
Seu esforço contribuiu para as pesquisas de três cientistas estrangeiros premiados com o Nobel, em 1979.
Na época da ditadura militar, foi acusado de ligação com o comunismo e, exilado, passou a fazer uma carreira de sucesso na Universidade Louis Pasteur, na França.
Lopes lutou por incentivos à ciência no Brasil e pela qualidade na formação dos alunos e pesquisadores. Foi o idealizador do Projeto SBPC vai à Escola, criado em 1995, no qual pesquisadores divulgam seus trabalhos nas escolas públicas, procurando despertar nos jovens o gosto pela Ciência.
Seu trabalho foi reconhecido nacional e internacionalmente. Entre os prêmios colecionados ao longo de sua vida estão a Medalha do Jubileu da SBPC, por serviços prestados à Ciência no Brasil (1973); Medalha da Universidade Louis Pasteur, Strasbourg, França (1986); Medalha de Ouro e o Prêmio Nacional de Ciência Álvaro Alberto (1989); Ordre National du Mérite, pelo Presidente François Miterrand, grau de Officier (1989); e Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico (1994).
Movido por um senso estético tão apurado quanto seu senso ético, Leite Lopes também se dedicou à pintura - para fazer as mãos trabalharem também junto com o cérebro, como dizia. Além de desenhos abstratos, gostava de pintar temas religiosos.
Leite Lopes dedicou toda a sua vida à criação de um ambiente propício ao desenvolvimento científico no Brasil e à criação de um país mais justo, muitas vezes opondo-se ao poder de forma contundente, sem perder a esperança no futuro.