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William Saad Hossne |
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William Saad nasceu em 1927. Seu pai, de 30 anos e a mãe de 20 e poucos o tiveram como primeiro filho e o pai faleceu antes de nascer. William Saad cresceu amparado pelos tios e um especial lhe foi muito importante. Ele mesmo numa entrevista para a Fapesp disse que esse tio foi como um pai. Mas, ainda na sua adolescência, teve este tio doente de câncer, vindo a falecer. Talvez por isso, William Saad, ao entrar para a Faculdade de Medicina, na USP, mostrava tanto interesse pela pesquisa e pela necessidade dos médicos basearem mais suas condutas em fatos objetivos. Foi um médico incrível que exercia várias outras atividades. E, indo pelo mais importante, construiu também uma família ótima com quatro filhos (Andréa, Camila, Rogério e Guilherme).
É importante lembrar de que Saad terminou a faculdade de medicina em 1951 quando se estava instalando o Conselho de Pesquisa e o Brasil estava em uma euforia grande no pós guerra. A medicina brasileira teve a sorte de, graças a grandes médicos que lutaram na Europa, aprenderam a importância dos Estados Unidos naquela época do mundo e, ao invés de continuar voltada para a Europa, passou a nortear os EUA. Ao contrário de países como Argentina.
William Saad cresceu nessa mentalidade e não ficou limitada a única instituição. Da USP foi para a Santa Casa e, mantendo os pés na USP, foi para Sorocaba. Wiliiam Saad, na década de 60, começou a atuar na pesquisa translacional em São Paulo e a construir um núcleo importante cirúrgico e juntando ao laboratório. Ele foi além e teve um sonho de construir quatro faculdades em uma só, em Botucatu.
Acabou consolidado na Fapesp, como segundo diretor científico da Fapesp e viveu períodos de crise. Primeira vez como diretor, em 1964, quando era proibido dar bolsa sem carimbo da SNI. Eles conseguiram criar uma exceção e teve um relacionamento com o CNPq, para liberação de bolsas. Voltou para a Fapesp em 1975 a 1979 e, com um grande numero de pessoas, traçou uma norma regida até hoje – que a Fapesp não tenha institutos próprios de pesquisa e apenas preze pela capacidade científica - e sem intervenção política - e com apenas 5% em administração.
Foi também vice-presidente do Conselho da Fapesp. Na SBPC teve uma participação importante nas décadas de 70 e 80. E na Universidade Federal de São Carlos, como reitor, conseguiu colocar entre a instituição entre uma das melhores do País.
Mas gostaria de chamar a atenção para o legado mais importante de William Saad: A Bioética. Desde a década de 50 e 60 para terríveis trabalhos que uma população negra nos EUA foi observada como exemplo de sífilis. Ele sempre citava este exemplo perverso.
Ele desenvolveu toda a questão de bioética no Brasil e mostrou a importância de fazer uma rede nacional para coordenar a pesquisa clínica no País. É injusto que todas as críticas que temos na Conep recaiam sobre o William Saad. É importante a Conep ser mantida aos órgãos de pesquisa. Era isso que ele defendia.
Professor Saad é um homem de todos estes sonhos. Não é fácil fazer a biografia de William Saad.
Ele mesmo dizia que cada salto tecnológico cria problema ético que não pode ser resolvido com o cientista de cada área. Tem que ser discutidos com pesquisadores de outras áreas, que representem a sociedade.
É uma grande alegria ver que o professor Saad viveu muitos anos e que, com certeza, poderia ter vivido mais realizando os sonhos. É muito bom para o Brasil ter tido o professor Saad.
Uma honra para a SBPC honrá-lo aqui. Ele merece todo nosso carinho.
Porto Seguro, 03/07/2016.
Texto proferido por Dr. Rubens Belfort
Conselheiro da SBPC.
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