66ª Reunião Anual da SBPC
Resumo aceito para apresentação na 66ª Reunião Anual da SBPC pela(o):
SBEM - Sociedade Brasileira de Educação Matemática
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 8. Educação Matemática
ANÁLISE DO DESEMPENHO DE ALUNOS COM TRANSTORNOS PSICOSSOCIAIS
Wellington Davi dos Santos Lima - Programa de Ciências Exatas –UFOPA, Santarém – PA.
Eduardo Giordano Fernandes da Silva - Programa de Ciências Exatas –UFOPA, Santarém – PA.
Maik Fabrício da Silva - Instituto de Engenharia e Florestas - UFOPA, Santarém - PA.
Antonio Cerino Dias Ferreira - Programa de Ciências Exatas –UFOPA, Santarém – PA.
Aroldo Eduardo Athias Rodrigues - Orientador/Programa de Ciências Exatas –UFOPA, Santarém – PA.
INTRODUÇÃO:
Entender os componentes da Educação é um importante mecanismo para desencadear efeitos positivos. Assim, nos questionamos: O contexto socioeconômico, político e cultural interferem no rendimento escolar nos alunos? Quando o aluno é marginalizado devido a sua posição social, étnica, política ou econômica, qual a interferência no seu rendimento escolar? Os fatores psicossociais são, em suma, o resultado do confronto entre o psicológico do sujeito e o conjunto de características sociais que possui. Quando esse confronto produz resultados negativos, o indivíduo apresenta um transtorno psicossocial. Nesta pesquisa, foram considerados provocadores de transtornos psicossociais: marginalização socioeconômica, política e étnico cultural. Foram objetos de análise alunos com dificuldades em Matemática que, ao longo da observação, constatou-se serem justamente os segregados socialmente. Mas, ao final, aprendemos que a partir da conjunção conteúdo/cotidiano os alunos passaram a apresentar o potencial de aprendizagem que os levou ao nível da compreensão matemática e à aprovação no ano letivo.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Mostrar, a partir da análise de uma experiência vivenciada no Projeto de Extensão “Clubes de Matemática”, a influência de fatores psicossociais como a família, o contexto político, econômico e cultural sobre o processo de ensino-aprendizado dos alunos.
MÉTODOS:
As aulas do PAM aconteceram durante o ano letivo de 2013, uma vez por semana, no contraturno, com três horas em cada aula. A turma foi formada a partir de três turmas da 1ª série do Ensino Médio de uma escola conveniada à rede estadual de ensino, reunindo dezoito alunos com dificuldades no aprendizado de Matemática, selecionados pela professora de Matemática. Foram desenvolvidas atividades e aulas sobre Funções. Como critério de avaliação quantitativo da aprendizagem, foram realizadas duas atividades com os alunos, uma antes (teste I) e outra ao final (teste II) de todos os encontros. Também foram efetuadas entrevistas individuais com os mesmos, rodas de conversas e a análise da frequência e participação dos alunos, comparando-as com o levantamento da situação sociopolítica, econômica e cultural em que os alunos estavam inseridos. Através de alguns jogos apresentamos o assunto de maneira geral. Noutras aulas abordamos especificamente as funções exponenciais e logarítmicas, por meio de aulas expositivas, aplicando uma lista que continha uma quantidade abundante de exercícios. Em outro momento, questões foram formuladas e resolvidas pelos alunos. Todas as aulas serviram para reforço do conteúdo e análise do desempenho dos alunos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Dos alunos, aproximadamente 89% apresentam algum transtorno psicossocial, sendo que 87,5% destes são economicamente marginalizados. Buscando analisar o que eles dominam do conteúdo a ser trabalhado, aplicamos o primeiro teste. No teste I, que valia 100 pontos, a menor nota foi 20 pontos e a maior foi 80 pontos. Do total de alunos, aproximadamente 33% tiveram média entre 40 e 60 pontos, onze por cento dos alunos tiveram desempenho entre 60 e 80 pontos e 44% tiveram rendimento entre 20 e 40 pontos. Os alunos com maiores transtornos psicossociais são os que apresentaram menores notas nas provas. Setenta e dois por cento dos alunos conseguiram desenvolver as questões e apenas um aluno não conseguiu desenvolver qualquer questão. O teste II, apesar dessa denominação, não consistiu em uma atividade escrita, mas onde cada aluno recebeu um problema e teve que, além de resolvê-lo, explicar o método que utilizou, fazendo uso da linguagem matemática correta. Avaliaram-se os seguintes aspectos: leitura e interpretação; domínio de conteúdo e linguagem simbólica; desenvolvimento do problema; justificativa do método; e correção da resposta. A menor média, agora, foi de 60 pontos, e cinco alunos alcançaram a nota máxima, que é cem. Da turma, 44% obtiveram média entre 80 e 100 pontos e 22% tiveram nota entre 60 e 80 pontos. É válido ressaltar que todos os alunos conseguiram obter notas superiores das que tiveram no teste I, fator visto na média da turma que outrora era de 42,77 pontos e passou a ser de 86,67 pontos, ao final. As aulas, no geral, serviram muito mais para o incentivo dos alunos à prática matemática do que para uma cobrança conteudista. Isso, pois, acredita-se que o professor, mais que ensinar, precisa ser capaz de transformar. Embora os transtornos externos continuem a existir, os alunos aprenderam que aprender não depende essencialmente da opinião, mas das nossas próprias reflexões.
CONCLUSÕES:
A partir de um resultado favorável à nossa expectativa, é coerente afirmar que o acompanhamento assíduo e compreensivo gera no aluno não apenas conforto e segurança, como desperta habilidades que, às vezes, nem ele acredita ter. Inicialmente, puderam-se notar nos alunos inúmeras fragilidades como o medo de falar, de ir ao quadro e de errar na frente dos colegas. E essa dificuldade se deve principalmente à ausência de conteúdos que interfiram, de fato, na realidade dos alunos. Nossa análise permite afirmar que existe, de fato, uma forte influência do contexto no qual a educação se desenvolve no que tange o rendimento dos alunos com transtornos psicossociais. Esses transtornos, porém, não podem servir de limite para os alunos, pois, como demonstramos, a valorização do aluno e de sua forma de construir conhecimento é que conta, não apenas seus aparatos sociais.
Palavras-chave: Aprendizagem Matemática, Transtornos Psicossociais, Prática de Ensino.