66ª Reunião Anual da SBPC
Resumo aceito para apresentação na 66ª Reunião Anual da SBPC pela(o):
SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA
G. Ciências Humanas - 2. Arqueologia - 1. Arqueologia
LOCALIZAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DE SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS ATRAVÉS DE BIO-INDICADORES NO MÉDIO VALE DO JAMARI
Marcos Paulo dos Santos - Autor / Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia - IFRO
Patricia Soares Ferreira - Autora / Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia - IFRO
Valdir Luiz Schwengber - Orientador / Espaço Arqueologia
Flávio Leite Costa - Orientador / Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia
INTRODUÇÃO:
No decorrer dos trabalhos de arqueologia em campo foi realizado em três municípios da região do Médio Vale do Jamari, Rondônia, sendo estes: Ariquemes, Monte Negro e Cacaulândia, observaram-se a ocorrência restrita de algumas espécies vegetais, que aguçaram a curiosidade, procedendo-se então o aprofundamento da análise dos diversos fatores que interagem e integram a ligação dos sítios arqueológicos através do ser humano que ali residiram com as plantas, quer sejam para utilização como alimento, coberturas para habitação, vestimentas, confecções de redes ou pelo uso de algumas toxinas para a caça e tratamentos medicinais. A partir dos resultados dessa pesquisa, foi possível construir alguns parâmetros de identificação de sítios arqueológicos mediante a presença de espécies botânicas ainda vivas e dispostas exatamente sobre as áreas de ocupação quer seja pré-histórica através dos grupos indígenas já extintos ou históricos nos antigos acampamentos dos primeiros exploradores em especial os seringueiros os bio indicadores são importantes para correlacionar com um determinado fator antrópico ou um fator natural com potencial impactante, representando importante ferramenta na avaliação da integridade ecológica e evidenciando locais de antigas ocupações.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Resgatar e identificar sítios arqueológicos nas áreas de implantação e alagamento das PCH´s (Pequenas Centrais Hidrelétricas) Santa Cruz, Canaã e Jamari.
MÉTODOS:
As pesquisas foram realizadas em cinco etapas: diagnóstico arqueológico, prospecção sistemática, salvamento, Programa de Monitoramento arqueológico e Educação Patrimonial, com objetivo de levantar os remanescentes da cultura material, através da identificação e resgate de sítios arqueológicos na área de implantação das PCH´s. A partir da pesquisa bibliográfica, documental e de intervenção arqueológica, a divulgação dos resultados na forma de educação patrimonial em escolas nos municípios afetados diretamente pelos empreendimentos, tendo como ponto chave para a pesquisa durante a realização do monitoramento acompanhando a etapa de supressão vegetal na área de lago das três usinas.
Para realizar observações sobre a ocorrência dessas plantas nos sítios arqueológicos, todas as atividades foram acompanhadas desde a derrubada de árvores para a limpeza da área de lago, até o resgate dos sítios encontrados, sempre observando a presença de espécies com características não pertencentes ao entorno agrupadas exatamente nos locais de sítios arqueológicos. Para se estabelecer os conceitos e ideias, procedeu-se à realização de pesquisas bibliográficas, com historiadores e descendentes de seringueiros da região do vale do Jamari a fim de saber sobre a utilização e importância destas espécies.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Foi constatado que nos sítios arqueológicos tem-se um padrão de referência com relação a presença de plantas pertencentes ou não ao ambiente nativo que estão reagrupadas em locais com a presença de vestígios arqueológicos. Dentre estas plantas destacamos sempre a grande quantidade da palmeira (Scheelea phalerata) conhecida popularmente como bacuri, deve-se levar em consideração que apesar desta palmeira ter sua ocorrência natural na região, esta quando em presença de sítios arqueológicos encontram-se em quantidades muito superiores aos padrões locais de dispersão natural, nos quais entende-se que estes aglomerados de palmeiras deve-se ao replantio feito pelos povos indígenas que ali residiram e utilizavam da palmeira. Esta perspectiva não implica, todavia, em afirmar que a palmeira bacuri é uma espécie domesticada, isto é, que sua reprodução dependa da intervenção humana direta, a exemplo do que ocorre com mandiocas (Manihot spp.). Implica, por outro lado, em considerá-la como uma espécie bio-indicadora da presença de sítios arqueológicos nos locais cuja sua ocorrência é aglomerada, Berta Ribeiro faz o seguinte esclarecimento:
"Silvestres ou domesticadas, diversas espécies de palmeiras representam substancial fonte alimentar para os aborígenes, seja o fruto, o palmito, a castanha da qual se faz azeite para comer, para iluminação, para repelir insetos; seja para a cobertura das casas, para trançar cestos, esteiras; seja a fibra mais fina para fio e tecido; ou, finalmente, a madeira para inúmeros fins". (Ribeiro, 1995:203).
O fato destas plantas ainda estarem em meio as lavouras não sendo cortadas como nas demais variedades se deve a crença regional de que onde se tem o bacuri (Scheelea phalerata) a terra é considerada de ótima qualidade, não deixando de ser verdade já que as mesmas estão nas terras pretas indígenas. Desta forma, estes agricultores jamais cortam as palmeiras levando em consideração que a presença delas aumentam o valor financeiro de suas terras.
CONCLUSÕES:
Os resultados obtidos levam a um novo ponto de vista com relação à arqueologia moderna já que esta pode ser multidisciplinar e englobar a biologia e a botânica como ferramentas na localização de sítios arqueológicos, podendo-se levar em considerações que estas espécies não só revelam o local de ocupações, mas podem revelar o tipo de alimentação, confecção de vestimentas e abrigos, tratamentos medicinais, técnicas de caça e pesca e até mesmo de cunho econômico para a época.
Esta constatação nos mostra que as diversas etnias ameríndias também desenvolveram complexas estratégias de utilização dos recursos naturais existentes nos ecossistemas, explorando-os através das formas de manejo ambiental, das quais ainda pouco ou praticamente nada se conhece em profundidade. Daí a relevância da realização de pesquisas nos campos da arqueologia, etnoarqueologia e etnobotânica, dentre outros, para uma melhor compreensão de temáticas referentes às relações entre sociedades indígena e meio ambiente.
Palavras-chave: Sítios arqueológicos, Plantas, Bio indicadores.