66ª Reunião Anual da SBPC
Resumo aceito para apresentação na 66ª Reunião Anual da SBPC pela(o):
SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 9. Educação Rural
EDUCAÇÃO DE SERINGUEIROS: ENTRE LUTAS, PORONGAS E LETRAS, A ESCOLA VAI AO SERINGAL
José Dourado de Souza - Autor/Universidade Federal do Acre - Ufac
INTRODUÇÃO:
Este trabalho analisa uma experiência de educação com seringueiros da região de Xapuri/Acre, parte da Amazônia Sul-Ocidental, sob a denominação de Projeto Seringueiro. Tal experiência, concebida numa perspectiva de Educação Popular, influenciada pelas ideias e práticas de Paulo Freire, da Teologia da Libertação e de um sindicalismo rural brasileiro, associado à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) no Acre, integra o Movimento Social, Ambiental e de Luta pela Terra.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O estudo analisa as circunstâncias e contextos sócio-históricos da emergência e realização desta educação, erigida no interior do Projeto Seringueiro, transcorrida entre 1981 e 1990. Explora alguns dos traçados mais gerais de sua estrutura e funcionamento, suas raízes e troncos. Apresenta e caracteriza, em especial, os atores sociais, individuais e coletivos envolvidos na proposta.
MÉTODOS:
As bases teórico-metodológicas da pesquisa orientam-se por um aporte sócio-histórico, nos marcos da História Social Inglesa, sobretudo no pensamento de Edward P. Thompson. Neste sentido, enfatiza que o trabalho no campo da história deve considerar as articulações entre as dimensões e contradições da realidade, em seus processos e dinâmicas, e que o enfrentamento entre ser social e consciência social faz surgir novos problemas, dando origem à experiência. O desenho metodológico da investigação baseou-se na análise documental, realizada mediante o levantamento e estudo de documentos de arquivos, do Centro dos Trabalhadores da Amazônia (CTA), prioritariamente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
As descobertas da pesquisa revelam um processo eivado de continuidades e descontinuidades, de buscas e conquistas, fruto dos protagonismos de seus atores, no qual a necessidade de aprender a ler, escrever e contar foi sendo apropriada. As estradas da escola, como as do seringal, foram se alumiando pela poronga que clareia a mata e, agora, clareia as ideias, quando transformada em cartilha escolar, no entendimento de seus seringueiros alunos e alunas. Procurou-se, pois, compreender os veios pelo quais aquele projeto educativo leva a escola ao seringal, reinventada, conquistada entre lutas, porongas e letras. A pesquisa orientou-se, em suma, por uma concepção que busca desvendar os elementos e dinâmica dos processos construídos pela ação dos atores sociais neles implicados, atenta à ação coletiva e ao dinamismo da práxis transformadora dos homens como agentes históricos.
CONCLUSÕES:
Esta educação foi concebida e gestada no contexto do Movimento Social dos Seringueiros e como um movimento por educação, vinculado aos movimentos de Luta pela Terra e de Defesa do Meio Ambiente. Dada a conjuntura política do período, no qual as políticas de Estado colocavam-se quase sempre contrárias aos seringueiros, estes buscaram parcerias com instituições e entidades não governamentais para que fosse possível concretizar as suas pretensões. A caracterização dos atores sociais, individuais e coletivos que interagiram no processo de constituição desta experiência educativa e a análise de alguns aspectos das relações entre eles, indicam que o percurso e dinâmica deste projeto educativo conteve convergências e divergências, continuidades e descontinuidades, e não apenas harmonia, linearidade, permanência. Os enfrentamentos, as contradições, as divergências estiveram muito presentes em todos os momentos do período estudado.
Palavras-chave: Projeto Seringueiro, Educação de Seringueiros, Movimento Social dos Seringueiros.