66ª Reunião Anual da SBPC
Resumo aceito para apresentação na 66ª Reunião Anual da SBPC pela(o):
SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 2. Geografia Humana
AGRICULTURA FAMILIAR E PRESERVAÇÃO AMBIENTAL: O CASO DA GLEBA CASCATA EM RONDONÓPOLIS-MT
Jessica Nayara Nicácio dos Santos - Instituto Federal de Mato Grosso Campus Rondonópolis
Beatriz Portela Goettert - Instituto Federal de Mato Grosso Campus Rondonópolis
Wilson José Soares - Instituto Federal de Mato Grosso Campus Rondonópolis
INTRODUÇÃO:
O municipio de Rondonópolis tem sua trajetória baseada na produção rural, conforme Suzuki (1996), esse processo iniciou voltado para o cultivo de subsistência e abastecimento do comércio local. A partir da década de 1970, o município passou a produzir soja nas áreas de cerrado e a pecuária evoluiu com o uso de tecnologia através do melhoramento genético.
Este processo de produção trouxe em seu bojo a desagregação do espaço natural, a contaminação e a erosão do solo, a poluição das águas com produtos químicos de diversas características e o assoreamento dos rios. Os debates produzidos nos últimos anos por algumas organizações sociais têm buscado alternativas de amenizar esses problemas, dentre elas destacam a preservação das nascentes e o cultivo de alimentos sem o uso de agrotóxicos.
Nesta perspectiva este estudo elegeu como problemática compreender quais os conhecimentos e práticas realizadas na agricultura familiar por um grupo de assentados remanescentes na Gleba Cascata município de Rondonópolis-MT, quanto a preservação do meio ambiente.
Realizar esta pesquisa significa compreender melhor as práticas produtivas nas pequenas propriedades rurais e pensar propostas de sensibilização e até mesmo de conscientização quanto à importância da preservação dos recursos naturais.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Este estudo teve como objetivo conhecer as práticas de preservação ambiental na agricultura familiar em um assentamento no município de Rondonópolis região Sul do estado de Mato grosso.
MÉTODOS:
Este estudo está assentado nos fundamentos da pesquisa qualitativa interpretativa, abordagem mais apropriada para a nossa investigação, uma vez que entendemos que o nosso estudo se preocupa mais com o processo do que com o produto ou resultado final.
Para a apropriação de um conhecimento mais amplo sobre o assunto realizamos um levantamento bibliográfico que discuta as questões ambientais, em seguida, passou se para a segunda fase, a identificação dos depoentes.
Conforme Queiroz (1988), a entrevista é a forma mais antiga e a mais difundida na coleta de dados orais e já foi considerada como a técnica por excelência nas ciências sociais. Outra característica da entrevista está na possibilidade de se coletar dados originais ou se confirmar os já obtidos por outras fontes.
O número de camponeses selecionados para a segunda etapa da pesquisa foi de seis agricultores que moram na região desde o início do assentamento. A última fase foi a análise dos resultados e a produção do relatório final.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os resultados deste projeto de pesquisa realizado junto aos camponeses nos possibilitaram identificar uma série de problemas ambientais que não estão em relevo no rol de suas preocupações, no entanto, esse fato não é sinônimo de irresponsabilidade. Os motivos para esta situação estão fundamentados em dois pontos bem definidos: o primeiro se refere as raízes históricas e culturais do homem do campo e; a segunda está pautada na falta de assistência técnica com orientações adequada aos trabalhadores com baixíssimo nível de escolaridade ou ausência total da mesma.
Nesta perspectiva, ao serem questionados sobre a produção e ao uso de agrotóxicos, as respostas apresentam as mesmas características: o cultivo de hortaliças para subsistência, criação de pequenos animais e de gado leiteiro. O cultivo é realizado com uso de agrotóxicos para evitar pragas nas plantações e para limpeza das pastagens. Quanto ao destino final das embalagens as respostas são diversificadas, porem, todas inadequadas a legislação atual. Um dos depoentes afirma queimá-las acreditando estar resolvendo o problema, outro diz que enterra no meio da pastagem e os demais dizem que estão guardando em um depósito, no entanto, não souberam afirmar o que farão com essas embalagens no futuro, já que devolver no posto de coleta na sede do município é muito complicado devido a burocracia e a distância de suas propriedades.
Quanto a preocupação com a própria saúde no manuseio destes produtos as informações também são preocupantes, todos afirmam não usar os EPIs (Equipamento de Proteção Individual) para aplicação dos agrotóxicos, um dos entrevistados afirma contratar outra pessoa para a realização desse trabalho, mas não oferece nenhum material de proteção.
Essa problemática não é fácil de ser resolvida, pois trata se de um grupo de pessoas acima dos cinquenta anos e que sempre trabalharam na agricultura utilizando essas práticas de produção.
CONCLUSÕES:
Consideramos com este estudo que os assentados remanescentes na Gleba Cascata não tem incorporado em suas atividades produtivas uma preocupação com as questões ambientais e nem com a sua própria saúde quando se trata do uso de agrotóxicos, sendo boa parte dessas práticas estar associadas a falta de conhecimentos e orientação técnica.
Os depoentes neste trabalho deixam evidente que suas práticas produtivas são as mais tradicionais possíveis, queimar e enterrar as embalagens de agrotóxicos como forma de descarte é uma prática rotineira no assentamento, com isso contaminando o ar, solo, as águas superficiais e subterrâneas. Sem nenhuma orientação técnica esses produtores fazem aquilo que entendem como correto, uma cultura que é repassada de geração para geração.
Palavras-chave: Meio ambiente, Camponeses, Memórias.