66ª Reunião Anual da SBPC
Resumo aceito para apresentação na 66ª Reunião Anual da SBPC pela(o):
SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA
E. Ciências Agrárias - 3. Recursos Florestais e Engenharia Florestal - 2. Silvicultura
TAXA DE SOBREVIVÊNCIA E CAUSAS APARENTES DA DEBILIDADE DAS MUDAS EM PLANTIOS DE ENRIQUECIMENTO DE FLORESTAS DE PRODUÇÃO NO ACRE
Henrique José Borges de Araujo - Eng. florestal, Pesquisador da Embrapa Acre, Rio Branco, AC
Manoel Freire Correia - Biólogo, Assistente de pesquisa da Embrapa Acre, Rio Branco, AC
INTRODUÇÃO:
A exploração madeireira seletiva praticada na amazônica tem empobrecido a floresta e a capacidade de regeneração das espécies de valor comercial (COCHRANE e LAURANCE, 2002; ASNER et al., 2005). Essa situação tende a agravar e se tornar irreversível (SOUZA et al., 2008). Em razão da lenta recuperação da floresta após a colheita de madeira (CARVALHO, 2001) deve-se induzir a regeneração e o crescimento de espécies comerciais valiosas com a aplicação de tratamentos silviculturais periódicos que reduzam a competição por luz e nutrientes com as espécies sem valor comercial. Por meio de procedimentos e técnicas de restauração que considerem a escolha apropriada das espécies (características econômicas e ecológicas), florestas exauridas de espécies comerciais podem ser conduzidas de maneira a minimizar os efeitos da colheita seletiva que modificou sua estrutura original. O plantio de mudas é um dos métodos de regeneração mais praticados em florestas tropicais, principalmente por fornecer uma boa densidade inicial de plantas (LACERDA e FIGUEIREDO, 2009), além disso, plantios de mudas possibilitam a restauração mais rápida e eficiente da floresta, dado que as mudas já estão formadas e são plantadas em melhores condições de adubação, luminosidade e espaçamento (ARAUJO, 2013).
OBJETIVO DO TRABALHO:
Este trabalho objetiva avaliar a taxa de sobrevivência e as causas aparentes (identificadas por inspeções visuais em campo) da debilidade das mudas de plantios de enriquecimento com espécies madeireiras de alto valor comercial em áreas de florestas destinadas à produção sustentável (manejo florestal) localizadas nos municípios de Xapuri, Brasiléia e Rio Branco, no estado do Acre.
MÉTODOS:
Os plantios foram realizados em clareiras de florestas nos seguintes locais: Seringal Cachoeira (Xapuri-AC), Seringal Filipinas (Brasiléia-AC) e Campo Experimental da Embrapa Acre (Rio Branco-AC). As espécies utilizadas são consideradas sob intensa pressão exploratória e estão, portanto, em processo de escasseamento. Foram dez espécies: amarelão (Aspidosperma vargasii A. DC.), angelim (Hymenolobium sp.), cedro (Cedrela odorata L.), cerejeira (Torresea acreana Ducke), freijó (Cordia alliodora (Ruiz & Pav.) Oken), ipê (Tabebuia serratifolia (Vahl) G. Nicholson), itaúba (Mezilaurus itauba (Meisn.) Taub. ex Mez), jatobá (Hymenaea courbaril L.), mogno (Swietenia macrophylla King) e timbaúba (Enterolobium maximum Ducke). Os plantios foram em linhas com espaçamento de 5,0 m x 5,0 m (entre linhas e mudas). Foram utilizadas 100 clareiras de diferentes tamanhos, com média de 319,8 m2. Os plantios foram entre outubro de 2011 a março de 2012, totalizando 1.273 mudas. As mudas foram avaliadas e classificadas quanto ao vigor (1 - Saudável, 2 - Debilitada, 3 - Morta e 4 - Não encontrada) e causas aparentes da falta de vigor ou debilidade (1 - Insetos, 2 - Fungos, 3 - Física (quebra, pisoteio, etc.) e 4 - Desconhecida).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Onze meses após os plantios, a taxa de sobrevivência verificada (classificações 1 – Saudável e 2 – Debilitada) alcançou o percentual de 76,5% (974 plantas), significando uma taxa de mortalidade de 23,5% (299 plantas). Entre as plantas sobreviventes (974), 44,5% (433 plantas) foram classificadas como saudáveis e 55,5% (541 plantas) como debilitadas. Entre as plantas mortas (299), 49,2% (147 plantas) tiveram a morte constatada em campo e 50,8% (152 plantas) não foram mais encontradas nas áreas dos plantios. Uma parte significativa das mudas apresentou algum tipo debilidade ou falta de vigor (classificações 2 – Debilitada e 3 – Morta), 54,0% (688 plantas) do total de 1.273 plantadas foram assim classificadas. Para mais da metade das mudas debilitadas (55,1% ou 379 plantas), a principal causa isolada da falta de vigor registrada nas inspeções de campo foi o ataque de insetos, já quando combinadas a outras causas, os insetos incidiram em um total de 458 mudas, 66,6% das debilitadas. Outra causa importante da falta de vigor, com 22,5% de incidência (155 plantas) entre as mudas debilitadas, foi classificada como "desconhecida". As causas “fungos” e “física” incidiram, respectivamente, em 1,7% (12 plantas) e 8,9% (61 plantas) das mudas debilitadas. Entre os agentes causadores da falta de vigor das mudas registrados nas inspeções de campo constam os seguintes: lagartas, formigas, moscas, manchas (fúngicas), podridão, queda de galhos/árvores sobre a muda e atividades de colheita de madeira. Não foram constatados danos causados por animais herbívoros não insetos (roedores, cervos, aves, lagartos, etc.), no entanto, isso não pode ser descartado, visto que uma parte das mudas (11,9% ou 152 plantas) não foi encontrada e pode ter sido ingerida por esses animais. Quanto à presença de fungos associados à falta de vigor das mudas, foram realizados isolamentos em laboratório constatando-se, em algumas amostras, a presença de Verticillium spp. e Fusarium spp.
CONCLUSÕES:
A taxa de sobrevivência alcançada (76,5%) pode ser considerada satisfatória em razão de que as mudas ficaram totalmente expostas, sem qualquer tipo de defesa física ou química, as condições naturais adversas de florestas com alta diversidade de organismos fitófagos e patogênicos. O ataque de insetos foi a causa aparente mais importante (66,6% de incidência) das mudas classificadas com debilidade, o triplo da incidência da segunda causa mais importante, classificada como "desconhecida" (22,5% de incidência), deste modo, a participação dos insetos na debilidade das mudas pode ser ainda maior, dado que parte da causa "desconhecida” pode também ser relacionada à presença de insetos. A alta incidência dos insetos como causa da falta de vigor das mudas indica a necessidade de ações de pesquisa para tratar desse problema, a exemplo da identificação das espécies ocorrentes e possíveis formas de controle.
Palavras-chave: Regeneração florestal, Espécies florestais madeireiras amazônicas, Manejo florestal.