66ª Reunião Anual da SBPC
Resumo aceito para apresentação na 66ª Reunião Anual da SBPC pela(o):
SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 6. Educação de Adultos
Contribuições da Psicologia em sala na Educação de Jovens e Adultos
Karina Maciel Nihari - Estagiária/PEMJA - COLTEC UFMG
Vanessa Biscardi Matos - Orientadora/PEMJA - COLTEC UFMG
INTRODUÇÃO:
O Projeto de Ensino Médio para Jovens e Adultos (Pemja), do Colégio Técnico da UFMG, tem como foco um ensino interdisciplinar para funcionários da Universidade e comunidade externa. A Psicologia atua com atividades em sala de aula, proposta pioneira, considerando que os estudantes que chegam ao projeto têm cada um a sua história, sua trajetória sócio-étnico-racial e a sua forma singular de lidar com essa experiência proposta pelo Pemja. Com ela pretende-se proporcionar a esses estudantes uma vivência de reconhecimento de si e do coletivo no processo de ensino-aprendizagem por meio do planejamento e do desenvolvimento de atividades que valorizem suas vivências pessoais e sociais. A principal ferramenta utilizada é a escuta atravessada pela psicanálise. Apostamos em uma possibilidade de mudança subjetiva a partir do uso de um espaço diferenciado de fala, onde as diferentes opiniões são ouvidas e acolhidas. Ao enunciar, o sujeito é ouvido em suas singularidades e a partir das atividades em sala constrói um conhecimento único, próprio, a respeito de si e da realidade que o cerca. Essa escuta foi adquirida através do tripé supervisão, leitura da teoria e análise pessoal.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Objetiva-se apresentar uma análise quanto à atuação da Psicologia em sala de aula e seus desdobramentos produzidos a partir da escuta orientada pela psicanálise na Educação de Jovens e Adultos.
MÉTODOS:
A fim de verificar a contribuição dessa proposta para o desenvolvimento dos estudantes, foi utilizado o estudo de caso como metodologia, tendo em vista a sua relevância em pesquisas na área educacional por favorecer o relato das práticas vivenciais, bem como fazer pensar e agir a teoria. As técnicas utilizadas foram a observação participante e a análise documental. O estudo foi realizado a partir das produções dos estudantes das duas turmas do primeiro ano – com idades entre 18 e 80 anos – do Projeto de Ensino Médio para Jovens e Adultos COLTEC-UFMG, a partir das atividades desenvolvidas em sala de aula ao longo do ano de 2013. O trabalho realizado tratou da temática Identidade por meio de dinâmicas de grupo, oficinas, grupos focais e atividades pedagógicas como redações, seminários e júri simulado. Tanto a orientação para o desenvolvimento das atividades quanto as intervenções feitas junto aos estudantes no decorrer das mesmas, foram norteadas pela escuta fundamentada pela psicanálise, a qual foi elegida como ferramenta visando favorecer transformações a nível de sujeito.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O espaço de escuta ofertado pela Psicologia através das atividades em sala proporcionou aos estudantes um reconhecimento de si e dos outros como sujeitos, ou seja, seres com histórias e trajetórias singulares. Tal acontecimento pôde ser observado a partir da iniciativa dos estudantes de fazer uso desse momento para discutir, sempre que necessário, sobre as dificuldades interpessoais, bem como sobre as queixas apresentadas sem receio quanto ao programa em termos de infraestrutura, metodologia e relacionamento professor-aluno, expressando o reconhecimento de um espaço acolhedor. Tais queixas, ouvidas e acolhidas, foram trabalhadas por meio de intervenções que visavam favorecer a elaboração dos estudantes quanto à responsabilidade de cada um nas situações incômodas. Assim, ao invés de respostas e soluções imediatas, muitas vezes foram dadas perguntas, as quais estimularam tal elaboração.
Um evento que ilustra o alcance desse objetivo foi a transformação de queixas ao programa em um documento elaborado e assinado pelos alunos das duas turmas apresentado à direção do Pemja. A escrita de uma carta foi sugerida por um aluno após a professora legitimar a queixa dos estudantes de que muitas coisas precisavam melhorar no projeto e indagar o que cada um poderia fazer para que mudanças ocorressem. Construir o documento é uma elaboração do que se denomina na psicanálise como “demanda”. Sair da posição de queixa e construir uma demanda é perceber o que incomoda, o que está em desacordo com o desejado, e transformar em ações possíveis de serem executadas.
Cabe ressaltar que durante esse processo de construção de uma demanda, houve uma implicação dos alunos, de modo que as mudanças solicitadas dirigiram-se não somente à direção do projeto, mas também a eles mesmos, ressaltando o que cada um poderia fazer para melhorar a qualidade do ensino-aprendizagem e do relacionamento interpessoal.
CONCLUSÕES:
Através do estudo de caso apresentado conclui-se que a psicanálise aplicada à Educação de Jovens e Adultos tem muito a contribuir como metodologia de intervenção em sala. Com a oferta de um espaço para a fala dos alunos e as intervenções feitas a partir dessa escuta, houve um processo de implicação dos sujeitos, com suas vivências singulares, o que contribuiu como um facilitador da aprendizagem. A aposta é em uma escuta diferenciada que proporcione a reflexão acerca de ideias que muitas vezes estão consolidadas e não são questionadas. O objetivo é favorecer reflexões que possam ser levadas para outros âmbitos da vida do sujeito como, por exemplo, a responsabilização de cada um frente ao projeto. Possibilitar a transformação de queixas em demandas possíveis de serem sanadas, bem como a implicação do sujeito, contribuindo com mudanças que beneficiem o ensino-aprendizagem no Pemja é a concretização de todo o trabalhado da Psicologia em sala.
Palavras-chave: Educação de jovens e adultos, Psicologia, Educação.