66ª Reunião Anual da SBPC
Resumo aceito para apresentação na 66ª Reunião Anual da SBPC pela(o):
SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA
G. Ciências Humanas - 5. História - 3. História Social
A LUTA PELA TERRA E A IGREJA CATÓLICA NO VALE DO ACRE E PURUS, 1970 A 1980
SANDRA TERESA CADIOLLI BASILIO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE
INTRODUÇÃO:
O Acre, historicamente inserido no contexto socioeconômico da Amazônia, teve, no extrativismo gumífero, sua base de formação e sustentação. A partir da década de 70, sofreu uma série de transformações, deslocando sua base produtiva sem gerar espaços de absorção da mão de obra vinda do extrativismo. A política dos governos militares, voltada para a incorporação da Amazônia ao espaço econômico nacional, estimulou o deslocamento de médios e grandes empresários para o Acre, que foram adquirindo grandes extensões de terra com o objetivo de implantar projetos agrícolas e pecuários nessa área de fronteira. Essas terras foram negociadas por preços aviltados, sem sequer serem definidas suas reais dimensões. Expulsar o homem para “limpar” ou “clarear” as terras foi a imediata ação dos fazendeiros, que ficaram conhecidos pelos seringueiros acreanos como “os paulistas”. A organização do sindicalismo rural marca o salto qualitativo fundamental na luta dos seringueiros e se confunde, em determinados momentos, com os encontros das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), explicitando a contribuição da Igreja no contexto dessa luta.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Estudar a trajetória da luta pela terra no Vale do Acre e Purus, pelos seringueiros, no período de 1970 a 1980, no sentido de consolidar sua condição de pequeno produtor extrativista autônomo e a Igreja Católica como parte integrante e articulada nesse movimento social.
MÉTODOS:
Foi usado o materialismo dialético, incluindo suas categorias, tais como, trabalho, classes sociais, processo de produção, dominação, exploração, capital, luta de classes, relações sociais de produção, estado, ideologia, valor, aparelhos ideológicos, hegemonia e outros presentes no contexto do trabalho. Além das referências bibliográficas, que já condensavam uma série de informações sobre o movimento histórico dos seringueiros, recorreu-se a arquivos públicos e privados, boletins informativos, revistas e jornais. Para coleta de informações utilizou-se também entrevistas diretas, e consultas a entrevista realizadas por outros pesquisadores, bem como outras anteriormente publicadas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A marcha em direção ao Vale do Acre e Purus, urdida pelos militares, deu início a uma operação de destruição indiscriminada da floresta e gerou uma frente de luta de fazendeiros contra seringueiros na região. Estes lutavam para assegurar sua reprodução enquanto trabalhador específico. Para os fazendeiros tratava-se de garantir a obtenção da renda da terra. Os seringueiros, também caracterizados como posseiros, operavam como desbravadores do território acreano, e concebiam o uso da terra de modo completamente distinto da forma como os pecuaristas passaram a usá-la. Em suas lutas, reivindicavam, além da posse da terra, também a conservação da floresta, por ser esta a condição para manter e desenvolver sua identidade. A prática da Igreja era de aproximação com os poderosos e de assistência espiritual e moral junto aos trabalhadores. Essa assimetria na ação da Igreja começou a se alterar na década de 1970, com a influência exercida pela reunião do episcopado , em Medelim, em 1968, quando a Igreja latino-americana aproximou seu discurso religioso da crítica ao modelo explorador praticado pelo capitalismo tardio. Neste contexto, a ala mais progressista da Igreja, via Teologia da Libertação e marxismo, promoveu o cenário para o desenvolvimento de afinidades entre a ação da Igreja e a luta dos trabalhadores extrativistas. A Igreja acreano-puruense, ao abrir-se para o mundo moderno, foi impactada pelos conflitos sociais que agitavam sua área de circunscrição religiosa e tomou uma posição pelos despossuídos.
CONCLUSÕES:
Foi preciso que a ditadura militar de 1964 atingisse a Igreja brasileira e a acreano-puruense para que sua confiança no poder fosse relativizada. As contradições políticas e econômicas que atravessavam a América Latina, como um todo, também atingiu o Acre, e, em particular, a Igreja Católica. Assim, parte da Igreja cumpriu um papel fundamental quando abriu espaço institucional para que a lógica da luta dos trabalhadores fosse ouvida, ao politizar a sua perspectiva religiosa em favor destes trabalhadores. Fez da comunhão religiosa um processo de solidariedade que marcou a formação de parte significativa das lideranças rurais. O processo de resistência dos trabalhadores, diante do alijamento de suas condições de trabalho, permitiu a construção de uma identidade coletiva. A Igreja acreano-puruense se tornou esteio desse movimento. Contudo, sua atuação esteve presa à legalidade, não conseguindo equacionar sempre a especificidade da luta dos seringueiros organizados de forma autônoma.
Palavras-chave: Seringueiros, Igreja Católica, Luta pela terra.