66ª Reunião Anual da SBPC
Resumo aceito para apresentação na 66ª Reunião Anual da SBPC pela(o):
ABPMC - Ass. Bras. de Psicoterapia e Medicina Comportamental
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 1. Psicologia
O ATENDIMENTO EM EQUIPE MULTIPROFISSIONAL NAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA: O QUE PENSAM AS PSICÓLOGAS?
Madge Porto - Universidade Federal do Acre
INTRODUÇÃO:
Estudos demonstram que aproximadamente 1/3 das mulheres que passam pelos serviços de atendimento às mulheres em situação de violência, a rede de assistência especializada, retorna às situações de violência. Isso sugere a necessidade de avaliação da política pública que está sendo desenvolvida. Dessa forma, tem-se como hipótese para o estudo que as orientações da SPM, em especial, para a intervenção em equipe multidisciplinar, não estariam suficientemente adequadas para o atendimento de mulheres em situação de violência. Parece existir nessas orientações uma ambiguidade entre as atribuições das diferentes profissões, num entendimento equivocado de atendimento multiprofissional ou trabalho interdisciplinar em equipe multiprofissional. Assim, faz necessário identificar qual o entendimento de psicólogas, profissionais que compõem a equipe, do que vem a ser um trabalho em equipe multiprofissional, identificando as funções de cada categoria profissional que faz parte da equipe para a intervenção especializada.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo deste estudo é apresentar como um grupo de psicólogas, que atua no Acre, avalia as orientações propostas pela Secretaria de Política para as Mulheres - SPM da Presidência da República para o atendimento psicológico às mulheres em situação de violência no que se refere ao atendimento em equipe multiprofissional.
MÉTODOS:
A proposta metodológica foi de um estudo qualitativo, descritivo-analítico. Para tal foram realizados: um estudo documental e uma pesquisa de campo. Dessa forma, foram selecionados 12 documentos da SPM entre relatórios, manuais, termos de referência e normas técnicas, publicados de 2003 a 2010 e que, de alguma forma, se referiam aos atendimentos psicológicos para mulheres em situação de violência. Os trechos dos documentos que se enquadravam nesse critério foram transcritos para possibilitar a realização das análises pretendidas. Para a identificação desses trechos de interesse, foi utilizada a técnica de busca de palavras-chave como: psicólogo/a/os/as, psicologia, psicanálise. Após as primeiras análises, a pesquisa se estendeu para outras palavras. Na pesquisa de campo foi realizada uma entrevista semiestruturada. Foram entrevistadas 12 psicólogas, sendo seis com atuação em serviços especializados para mulheres em situação de violência e seis que atenderam essas mulheres, mas fora desses serviços. As psicólogas inscritas no CRP 20 seção Acre foram convidadas a participar da entrevista a partir de convite via mensagem eletrônica. Para análise dos documentos foi utilizado o método de Análise do Discurso e para a análise das entrevistas foi utilizada a Análise de Conteúdo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os documentos analisados apresentam orientações contraditórias e incipientes, no que se refere à intervenção em psicologia. A análise de conteúdo das entrevistas evidenciou, com relação ao papel da psicologia na equipe multiprofissional da política de enfrentamento à violência, três categorias: 1) acolhimento e ações educacionais – atribuições da equipe multidisciplinar. Nessa categoria foram agrupadas ideias de que há ações que podem ser desempenhadas por qualquer profissional, desde que treinados/as. A ação de conscientização da opressão de gênero é uma delas, e não seria algo que precise ser feito por psicólogas, mas estas, em suas ações, deveriam trabalhar este aspecto, não precisando ser dentro do padrão entendido pela SPM como necessário para o objetivo definido; 2) trabalho em parceria com foco na subjetividade. Aqui se percebe que há uma clareza do que cabe à intervenção em psicologia, independentemente da formação teórica da psicóloga: o foco da intervenção devendo ser nas questões da subjetividade, pois as informantes percebem que outras intervenções podem funcionar de forma terapêutica, mas o foco do trabalho com questões intrapessoais é atribuição da psicologia; por fim, a categoria 3) sobreposição de papéis, onde as psicólogas voluntárias de pesquisa destacam que é preciso definir o papel da psicologia tanto no que se refere aos locais onde as psicólogas desenvolvem seus atendimentos na rede quanto com relação às outras profissionais da equipe. As entrevistadas percebem uma sobreposição de papéis e de ações, tanto das próprias psicólogas distribuídas na rede de enfrentamento à violência contra as mulheres quanto de psicólogas e assistentes sociais das equipes multiprofissionais, o que, em ultima instância, promove uma revitimização das mulheres atendidas pela falta de definição do que cabe a cada ponto da rede de atendimento, a cada psicóloga de cada serviço e a cada membro de equipe.
CONCLUSÕES:
Conclui-se que as orientações oferecidas pela SPM para as ações em psicologia nas equipes multiprofissionais, nos serviços especializados, não são adequadas; o papel da psicologia apresenta-se ambíguo e contraditório; e por fim, constatou-se que os resultados das pesquisas documental e de campo foram convergentes. Os trabalhos em grupo, que podem ser realizados por outros/as profissionais da equipe multiprofissional, têm resultados importantes e podem, inclusive, serem terapêuticos, contudo, esses profissionais não terão como manejar intervenções com objetivos de trabalhar questões da subjetividade como um/a psicólogo/a está preparado/a para fazer. É preciso entender, conhecer os processos psíquicos, como eles se desenvolvem e quais as técnicas para uma intervenção adequada em cada caso. Os eventuais casos de má formação e falta de ética profissional não justificam que qualquer profissional possa realizar as ações da psicologia ou que esta deixe de ser desenvolvida.
Palavras-chave: Violência contra as mulheres, Psicologia, Atendimento multiprofissional.