66ª Reunião Anual da SBPC
Resumo aceito para apresentação na 66ª Reunião Anual da SBPC pela(o):
SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 1. Sociologia
A COOPERAÇÃO AGRÍCOLA NOS ASSENTAMENTOS DA REFORMA AGRÁRIA E A TRADIÇÃO CAMPONESA
Gabriella Darold Vieira - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia
Yara Regina Alves Machado - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia
Deilton Wellington Ribeiro Nogueira - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia
Heldo Donat - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia
INTRODUÇÃO:
A inserção do pesquisador num espaço de construção da vida, como é um assentamento da reforma agrária, o obriga a elaborar uma metodologia que permita perceber a complexidade e a diversidade que ali estão contempladas (GEERTZ, 1989). Nesta perspectiva, buscou-se a inserção dos pesquisadores no cotidiano do assentamento, participando de atividades e de ações desenvolvidas pelos assentados. Assim sendo, a pesquisa permitiu compreender aspectos que são fundamentais para o desenvolvimento da mesma, o que possibilitou cotejar o presente estudo com anteriores. As experiências vividas no contexto destes assentamentos permitiram a construção de um novo ponto de vista sobre questões vivenciadas em outros.Os diferentes questionamentos percebidos mostraram que o processo de construção da ação coletiva deve levar em conta a convivência e a construção de laços de integração social, permitindo a todos os assentados identificarem nos indivíduos que o cercam o mesmo projeto de construção de relações econômicas e sociais que permitam a melhoria das condições de vida, forjando valores e objetivando a formação de uma consciência coletiva.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O presente trabalho tem como objetivo, tendo em vista a tradição do campesinato brasileiro, verificar teoricamente se o modelo de cooperação agrícola proposta pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra é viável nos Assentamentos Palmares e Margarida Alves e compreender quais as dificuldades que levam uma parcela de camponeses a não trabalharem coletivamente.
MÉTODOS:
Primeiramente, para subsidiar a pesquisa de campo, recorreu-se à pesquisa bibliográfica de clássicos que abordassem a questão agrária. Entre eles, destacam-se as obras de Karl Kautsky, Friedrich Engels, Marx, entre outros. Recorreu-se também à contribuição fundamental de autores brasileiros que discutem a questão agrária no Brasil, entre eles Ricardo Abramovay, José Eli da Veiga, José Graziano da Silva e José de Sousa Martins. Num segundo momento, confeccionou-se – partindo da fundamentação teórica de autores como Damatta, Geertz e Chizzotti – um questionário que visava possibilitar a análise a partir dos depoimentos dos assentados em função do que pensam e como representam o trabalho coletivo e individual na agricultura familiar, que quando associado com experiência empírica vivenciada pelos pesquisadores acerca do cotidiano dos Assentamentos Palmares e Margarida Alves, possibilitou a confecção de toda a pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os assentamentos Margarida Alves e Palmares situados no município de Nova União, no Estado de Rondônia, são projetos que já tem uma longa história de luta e conquistas na busca de uma melhor condição de vida dos assentados ali organizados. A cooperação já é uma questão bastante desenvolvida e a percepção de como ela deve ser trabalhada já permeia a maioria das ações desenvolvidas. Nesta perspectiva, através da análise das respostas do questionário, notou-se que a integração social e reconstrução dos laços sociais e culturais é fundamental para que as ações coletivas possam ser desenvolvidas. A credibilidade entre os assentados é fundamental para que exista o mínimo de confiança para o desenvolvimento de ações cooperativas. Quando se trata de um assentado que tem uma trajetória que vem desde a luta pela terra até a efetiva inserção no assentamento, pode-se perceber que a integração e a convivência cotidiana permite a ele acreditar nas ações dos seus pares. Entretanto, quando esta mesma questão é colocada para um assentado que não participou da luta pela terra e se instalou no assentamento por meio da compra de um lote ou pela troca de assentamento, a confiança já não aparece, e percebe-se que a integração com os outros assentados ainda não está definida de maneira adequada. As experiências com cooperação e a transição para a agroecologia se organizam em diferentes estágios entre os assentados, sendo que algumas atividades se encontram bastante avançadas e em outras, a utilização de produtos químicos para controle de invasoras e pragas é a base da organização produtiva. Neste sentido, observou-se que agronegócio e agroecologia – ou desenvolvimento sustentável - são formas de organização na agricultura brasileira que se contrapõe e buscam caminhos diferentes para o desenvolvimento do meio rural. Por fim, evidenciou-se que a cooperação nos assentamentos vai de encontro ao modelo individualista do agronegócio.
CONCLUSÕES:
Após a realização do presente pesquisa, observou-se que o processo de obtenção da terra é o principal laço entre os assentados, ou seja, indivíduos que não participaram desta etapa não se sentem pertencentes ao grupo social em questão, logo, tornam-se inseguros à adentrarem no sistema de cooperativismo. Sendo assim, percebeu-se que para que ocorra a transição do sistema tradicional – e individualista – de produção para o cooperativismo, necessita-se que ocorra a integração social e reconstrução dos laços sociais e culturais. Notou-se também que um dos entraves do cooperativismo é o agronegócio: um modelo desenvolvimentista, baseado na utilização e técnicas que priorizam a produção em larga escala e uso intensivo de insumos e produtos químicos para o controle de pragas e manutenção das lavouras, já a agroecologia se propõe a produzir de maneira sustentável, nos quais diferentes fatores se combinam para produção de alimentos ditos como orgânicos e que necessitam de ações cooperadas.
Palavras-chave: MST, Cooperativismo, Agroecologia.