65ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana |
AUTO-ORGANIZAÇÃO DO CONJUNTO HABITACIONAL PADRE MIGUEL: ANÁLISE DA APLICABILIDADE DO MÉTODO BAMBU |
Rodrigo Luiz da Silva Rodrigues - Depto. de Ciências Geográficas- UFPE Vanessa Vasconcelos Barbosa - Depto. de Ciências Geográficas- UFPE Glauce Dias dos Santos - Depto. de Ciências Geográficas- UFPE Fillip Grimily Pereria Farias - Depto. de Ciências Geográficas- UFPE Ítalo Cesar de Moura Soeiro - Depto. de Ciências Geográficas- UFPE Sara Nathaly Brasil de Andrade Ferreira - Depto. de Ciências Geográficas- UFPE |
INTRODUÇÃO: |
Os saberes populares são elementos potenciais indispensáveis para a construção de uma educação ambiental dialógica freiriana. Quando se vivencia a mudança de um ambiente inadequado para outro que ofereça condições mínimas para uma vida digna, a percepção ambiental, e até mesmo de convivência coletiva sofrerá alterações. Assim, a comunidade Padre Miguel foi transferida das palafitas para um conjunto habitacional que, diferentemente de grande parte das habitações construídas pelo poder público para ser destinadas a pessoas de baixa renda, encontra-se próxima ao local de origem da comunidade, favorecendo a manutenção de sua rotina habitual. Ao mesmo tempo, a insuficiência de um acompanhamento profissional na transferência dos moradores do ambiente insalubre em que se configura a palafita para um local cuja estrutura física comporta elementos como água encanada e energia elétrica acabam por gerar conflitos que podem tomar grandes proporções e causar desentendimentos entre os moradores, dificultando a mobilização popular necessária para a resolução dos problemas de interesse geral. Assim, deve-se fazer presente um método que consiga viabilizar o trabalho coletivo de forma organizada, selecionando as prioridades coletivas de forma hierarquizada e incentivando-os a trabalhar em grupo. |
OBJETIVO DO TRABALHO: |
Este trabalho tem como objetivo promover o poder coletivo através do estímulo à participação em busca da autonomia popular frente às suas dificuldades cotidianas, por meio da aplicação de uma oficina de método bambu, que representa um instrumento de resolução interna para os moradores do conjunto Habitacional Padre Miguel, gerando externalidades para possíveis intervenções dos órgãos competentes. |
MÉTODOS: |
Em setembro de 2012 realizou-se no centro comunitário do Conjunto Habitacional Padre Miguel uma oficina de Método Bambu, que teve como público alvo adultos a partir de 20 anos, contando com a participação de três representantes de cada bloco. Primeiramente, foi realizada uma apresentação informal entre todos os participantes da oficina, e iniciou-se um diálogo onde se pôde identificar elementos que caracterizam a mudança de hábitos dos moradores com a relocação, a forma como eles veem o processo no qual estão inseridos, e suas percepções da dinâmica coletiva que se instalou desde a mudança. Em seguida, a aplicabilidade do método foi demonstrada por meio da construção de um mapa onde os problemas coletivos presentes no conjunto puderam ser visualizados de forma hierárquica, por ordem de importância, dimensão e tempo, facilitando a mobilização popular. Por fim, foi realizada uma oficina de reaproveitamento de alimentos, onde foram distribuídas cartilhas com o passo-a-passo do método supracitado, livros de receitas, e a demonstração de várias receitas prontas, que puderam provar e acompanhar a eficácia dessa ação, a fim de consolidar os objetivos do método bambu, salientando as potencialidades do habitacional, incentivando o trabalho em grupo e a prática da Educação Ambiental. |
RESULTADOS E DISCUSSÃO: |
A liderança comunitária esteve envolvida em todo o processo de transferência, desde a escolha do terreno até a distribuição das moradias. Nesta perspectiva, o acompanhamento feito pela Prefeitura Municipal do Recife através do trabalho de assistentes sociais mostrou-se insuficiente, visto que os moradores não possuíam autonomia, nem um espaço em que pudessem se expressar individualmente de forma a contribuir para um entendimento coletivo. Quando os instigamos a relatar suas percepções de coletividade, os moradores nos reportaram que, enquanto nas palafitas, as relações eram muito fragilizadas, visto que não havia um espaço de manifestação pessoal que contribuísse para um entendimento de grupo. Segundo Dallari (2000, p.21), cada indivíduo sofre influência da sociedade em que vive, mas, ao mesmo tempo, exerce alguma influência sobre ela. O simples fato de existir, ocupando um espaço, sendo visto ou ouvido, precisando vestir-se e consumir alimentos, já é uma forma de influir. Por isso, todos os problemas relacionados à convivência social são problemas da coletividade e as soluções devem ser buscadas em conjunto, levando em conta os interesses de toda a sociedade. |
CONCLUSÕES: |
A partir da realização da oficina em questão, os moradores desenvolveram uma forma de articulação na qual buscaram estabelecer as prioridades da comunidade, sendo este o grande desafio encontrado: quando e como despertar essa sensibilidade, incentivando-os ao entendimento coletivo para melhoria de sua qualidade de vida. Vimos então a importância de uma aproximação junto aos moradores do atual conjunto habitacional Padre Miguel, e a necessidade de uma maior percepção desses sobre o poder de mudança que se encontra em suas mãos, afinal, o processo de conscientização envolve, segundo Dallari (2000, p.51), dar uma contribuição para que as pessoas percebam que nenhum ser humano vale mais ou menos que os demais e que todos podem e devem lutar constantemente pela conquista ou preservação da liberdade de pensar e de agir e pela igualdade de oportunidades e responsabilidades. É a partir desse exercício que o método bambu vem a contribuir para que os ideais comuns se fundam e passem a trabalhar concomitantemente. Assim se configura a potencialização da autonomia da comunidade, possibilitando sua auto-organização. |
Palavras-chave: Habitacional, Método Bambu, Auto-organização. |