65ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 7. Saúde Materno-Infantil
GASTROSTOMIA ENDOSCÓPICA PERCUTÂNEA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES: GANHO DE PESO, COMPLICAÇÕES E NECESSIDADE DE CIRURGIA ANTI-REFLUXO
Ilzen Cibele Bezerra de Farias - Aluna do curso de Medicina da Faculdade Pernambucana de Saúde
Margarida Maria de Castro Antunes - Professora adjunta de Pediatria da Universidade Federal de Pernambuco
Gustavo Jose Carneiro Leão Filho - Chefe do serviço de Endoscopia Digestiva do IMIP
Karolina Araujo de Carvalho - Aluna do curso de Medicina da Faculdade Pernambucana de Saúde
INTRODUÇÃO:
O número de realizações de gastrostomia endoscópica percutânea (GEP) vem aumentando drasticamente nos últimos anos. A principal indicação para a GEP em crianças é a disfagia associada a doenças neurológicas e a segunda causa para indicação de GEP é a desnutrição secundária a patologias crônicas. A GEP é de rápida realização, necessita de menor tempo de sedação e hospitalização, contudo não é isenta de riscos. Embora a maioria das complicações relacionadas à GEP seja de pequena gravidade: infecções cutâneas, granuloma de estoma e deslocação ou obstrução da sonda, os riscos de complicações graves são inerentes ao procedimento. Outra preocupação relacionada à instalação da GEP é a ocorrência de RGE causada pela modificação da anatomia do tubo digestório alto ao se ligar a parede do estômago a parede abdominal. Recente revisão sistemática concluiu que, em geral, a literatura disponível não demonstra um efeito causal da inserção de GEP na DRGE, embora as evidências sejam ainda inconsistentes. Apesar do benefício atribuído a GEP no estado nutricional de crianças com doenças crônicas e do aumento considerável de sua indicação, ainda existem diversas lacunas no conhecimento de seus benefícios, riscos e complicações.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Avaliar crianças e adolescentes submetidos a gastrostomia endoscópica percutânea no serviço de endoscopia digestiva de hospital terciário na cidade de Recife-PE num período de quatro anos, descrevendo a frequência de complicações, ganho de peso e necessidade posterior de cirurgia anti-refluxo.
MÉTODOS:
Todas as crianças e adolescentes submetidos à gastrostomia endoscópica percutânea no período de junho de 2008 a junho de 2012 num hospital-escola em Recife-PE foram avaliados. Os dados foram levantados dos registros do serviço em três momentos: a data do procedimento, a consulta três a seis meses e doze a dezoito meses após, levantando-se a ocorrência de complicações, tratamento para refluxo gastroesofágico e peso, classificados em escore z segundo a Curva OMS - 2007. Os dados foram armazenados e analisados por meio do software SPSS Statistics versão 13.0. Realizou-se dupla digitação dos dados e os mesmos foram comparados e eventuais diferenças e inconsistências foram corrigidas. Os resultados foram apresentados sob a forma de mediana e percentis e frequências absolutas e relativas. O estudo foi aprovado por Comitê de Ética registrado no Conselho Nacional de Saúde do Brasil.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Avaliou-se 46 pacientes com mediana de idade de 6,2 anos, sendo 67,4% meninos. A principal indicação da gastrostomia foi disfagia e 93,5% dos pacientes eram portadores de doença neurológica. A taxa de complicações foi de 46,3%, sendo que 17,1% foram precoces e 39%, tardias. Não ocorreram intercorrências durante nenhum procedimento. As complicações foram: infecções do estoma, tecido de granulação e problemas mecânicos da sonda. Dos 46, onze pacientes tinham diagnóstico de refluxo gastroesofágico e destes, três (6,5%) necessitaram fundoplicatura após mediana de 10 meses da gastrostomia. A frequência de baixo peso diminuiu de 75% para 64% dos pacientes após três/seis meses da gastrostomia e permaneceu nesse valor após seis/doze meses. Não se observou associação entre sexo, idade e desnutrição com a ocorrência de complicações após a gastrostomia.
CONCLUSÕES:
Os resultados desse estudo sugeriram que a cirurgia anti-refluxo profilática nos pacientes submetidos à GEP não é obrigatória e que as complicações associadas a esse procedimento são pouco frequentes e de pequena gravidade. Em relação ao estado nutricional houve uma redução de 10% dos índices de baixo peso num primeiro momento (três a seis meses após a GEP), contudo essa tendência não se manteve ao longo do período de observação (seis a doze meses). Esse achado retoma a questão da qualidade do suporte nutricional que é oferecido a esses pacientes e ainda que, o peso isolado, possivelmente, seja uma medida limitada para avaliação antropométrica nesse grupo. Novos estudos com desenho prospectivo e avaliação mais detalhada do estado nutricional e dieta utilizada seriam úteis em esclarecer os caminhos de suporte necessários a garantir melhor crescimento e condições de saúde para crianças e adolescentes com necessidades de alimentação especial.
Palavras-chave: Gastrostomia, Nutrição, Refluxo Gastroesofágico.