65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 11. História
OS SENTIDOS RELIGIOSOS NA PRÁTICA ESCOLAR
Maiza Pereira Lôbo - Colegiado de História da UFT
Vasni de Almeida - Prof. Dr/orientador- Colegiado de História da UFT
INTRODUÇÃO:
No projeto de iniciação científica que desenvolvemos cujo tema é “Práticas educativas dos batistas em Araguaína, TO (1998-2010)” , buscamos entender, por meio do levantamento documental, a estrutura organizacional da Escola Estadual Batista Margarida Lemos Gonçalves , organizada pelos evangélicos batistas em Araguaína. A unidade escolar foi criada na cidade de Araguaína em 1989, e funcionou de 1989 a 1992 num sistema de convênio com o município. Entre os anos de 1993 e 1996, transformou-se em extensão da Escola conveniada ASPA . Apenas em 1997 a 1ª Igreja Batista assinou o convênio com a Secretária de Educação e Cultura, passando assim a escola a fazer parte do Programa Escola Autônoma de gestão compartilhada do estado do Tocantins. Em nosso estudo, procuramos investigar como os princípios de moral cristã e os valores estabelecidos pela religiosidade batista influenciam na escolha e reprodução de conteúdos dentro da estrutura escolar. Analisamos a forma encontrada pela escola para se encaixar nos parâmetros exigidos pelo governo, o que ela faz sem excluir os princípios protestantes que regem seus saberes escolares.
Esse projeto torna-se relevante, já que pretende contribuir para a supressão das lacunas existentes, propondo percorrer as propostas pedagógicas e curriculares da Escola Batista Margarida Lemos, verificando as relações possíveis entre as práticas escolares e os processos de civilidade embutidos na filosofia da Igreja Batista.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Pesquisaremos as práticas educativas dos evangélicos protestantes em Araguaína, TO, buscando compreender, através do levantamento de dados, a estrutura organizacional de uma escola fundada com fins religiosos. Investigar como os princípios de moral cristã e os valores estabelecidos pela religião influenciam na escolha e reprodução de conteúdos dentro da estrutura escolar.
MÉTODOS:
Realizamos a leitura de exemplares do Jornal Batista, de livros que retratam a formação das instituições educativas da região e sobre a dedicação da missionária Margarida Lemos, à educação e evangelização no então norte de Goiás, atual Estado do Tocantins. Mais do que conhecer o trabalho de Margarida Lemos, tencionamos, com as leituras, conhecer a proposta evangelizadora da Igreja Batista para essa região na qual Araguaína está inserida. A metodologia aplicada foi, dessa forma, a leitura e interpretações de textos atinentes a educação missionária batista.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Não é sem motivos que a Escola Batista de Araguaína homenageia a missionária Margarida Lemos Gonçalves. Na verdade, essa escola é uma das muitas no Estado que presta homenagem à missionária. Nascida em 1927, no estado de Espirito Santo, Margarida Lemos iniciou muito cedo sua empreitada religiosa. Sua vocação para o trabalho missionário é relatado, na literatura sobre ela, como se a mesma houvesse nascido com uma espécie de Dom natural para a religiosidade. Em meados da década de 1940, a missionária chegou a esta região, fixando-se primeiramente na cidade de Carolina, onde atuou por um tempo como professora do Instituto Batista daquela localidade. No entanto, foi na região de Tocantínia que Margarida fixou-se por longo tempo, e que, segundo o jornal Batista, se referia como “terra que abracei como minha, vivendo com esse povo que chamo de meu” (2012:22).
Em referência a ela é comum encontrar menções à sua vocação de expandir o evangelho, levando a “Palavra do Senhor” ao povo do sertão. A própria Margarida Lemos relata que “Esta é realmente a faceta mais importante do trabalho missionário: apresentar a mensagem de Cristo de tal sorte que as pessoas a aceitem e vivam uma vida diferente neste mundo e na eternidade tenham morada com Deus” . A trajetória de Margarida Lemos é marcada por renúncias pessoais para a vida em prol da evangelização. Muito cedo se encantou pelo “sertão” e nele depositava a esperança de desenvolver um bom projeto educacional na região.
CONCLUSÕES:
A partir das considerações envolvendo os sentidos religiosos e ação humana na vida em sociedade é possível perceber as motivações históricas que levaram os batistas a assumirem, desde o século XIX, a educação escolar como meio de ressignificar as sociedades que os acolhe. Inicialmente, a escola e a igreja, ambas as instituições fundadas e respaldadas socialmente, são invariavelmente produtoras de uma cultura histórica, isso porque são ao mesmo tempo produtoras de uma Cultura Material e Imaterial.Os batistas como um grupo organizado e detentor de um modo de pensar específico, preservam, através de uma série de mecanismos matérias; revistas, jornais, livros, panfletos, dentre outros, uma herança vasta que é preservada, transmitida e retransmitida de forma que tem “consciente ou inconsciente, o caráter de pedagógico de ensinar e reproduzir os mesmos objetos e usos dos materiais que culminam quase sempre com a guarda de uma memória específica” (p-14-15), que no nosso caso, seria a memória dos batistas.
A escola age assim, como um elemento criador e reprodutor dessa cultura histórica, que “se estabelece justamente na interface dos processos de apropriação/reprodução/conservação da cultura material e imaterial”. (Antunes, 2011:15) Ensinar, para os sujeitos de uma determinada expressão de fé, não se resume a oferecer uma instrução técnica. No ato de ensinar há todo um esforço em impor uma visão de mundo, uma visão que expresse as crenças que os mantém ligados ao sagrado.
Palavras-chave: Religião, Educação batista, Margarida Lemos.