65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 17. Planejamento e Avaliação Educacional
O processo de dialogicidade pedagógica como meio de emancipação de jovens e adultos dos bairros Cristo e Rangel
Suerda Gabriela Ferreira de Araújo - Universidade Estadual da Paraíba
Kamila Borges Aragão Pessoa - Universidade Federal da Paraíba
INTRODUÇÃO:
O ingresso de jovens e adultos no processo de escolarização opera no sentido de produzir uma nova realidade. Iniciativas governamentais como o Programa Alfabetização Solidária (PAS), a Educação de Jovens e Adultos (EJA) e outras políticas educacionais promovem experiências de alfabetização e incentivam o melhoramento da leitura e da escrita a um amplo número de pessoas que na idade certa não tiveram acesso à escola, e se possuíram a abandonaram ou foram impedidas de continuar os estudos. Todavia, ainda que estes programas obtenham eficácia de forma quantitativa, qualitativamente não produzem resultados duradouros, uma vez que a tentativa de contextualizar o fazer pedagógico à realidade de quem se dispõe a ser alfabetizado e letrado não dialoga com o entorno sociocultural destes. Assim, se obtém uma contextualização limítrofe, acessível apenas enquanto se está presente em sala de aula, o que corrobora os altos índices de evasão escolar. Desta maneira, o entorno sociocultural do educando, se finda na posição de desestimulador, tendo em vista que as habilidades recém-adquiridas em sala, não serão aplicadas, o que impossibilita o desenvolvimento individual e local por meio da práxis. Com vistas a isso, este trabalho foi desenvolvido no intuito de romper a contextualização limítrofe aplicando os conhecimentos adquiridos numa realidade também transmutada contribuindo, assim, para a emancipação e aprendizagem dos educandos dos bairros do Cristo e Rangel.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Contribuir para a emancipação individual dos moradores do Cristo e Rangel, através de aulas dialógicas utilizando-se do método freiriano, contextualizando a realidade do educando às aulas, de modo que a realidade do e na qual o educando está inserido seja transformada, possibilitando um desenvolvimento tanto individual quanto local.
MÉTODOS:
Esse trabalho foi realizado no período de março a dezembro de 2012, com moradores dos bairros Cristo e Rangel, na em João Pessoa – PB, muitos desses, ex-alunos de turmas da EJA. Em 2011, os educadores participaram da capacitação oferecida pelo Programa Brasil Alfabetizado. Posteriormente, se iniciou o levantamento etnográfico, onde se buscou conhecer o cotidiano dos possíveis educandos e efetuar os primeiros contatos com estes e a comunidade, e, a partir dela, intervir construtivamente e estruturar conhecimentos aplicáveis aos problemas existentes em suas adjacências. Com o apoio da Rede Crer Ser (rede de escolas públicas de ambos os bairros) foi aplicado um questionário aos pais dos alunos sobre o domínio da leitura e escrita, e o desejo de retornar ou iniciar os estudos na tentativa de contribuir com a educação dos filhos. Feito isso, se deu as ligações individuais para os que assinalaram o desejo de estudar. As aulas estavam divididas em três momentos: 1º - discutiu-se junto à equipe técnica a metodologia freireano, que defende a emancipação humana por meio de métodos educativos que incentivam o pensamento crítico e o protagonismo individual; 2º - junto aos alunos realizamos rodas de conversas; 3º- trabalhamos juntos as especificidades dos educandos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os primeiros contatos com os pais dos alunos, via telefone, mostrou que muitos desses, ainda que alfabetizados, gostariam de retornar aos estudos, no intuito de melhor auxiliar os filhos em suas atividades escolares. No entanto, a ausência de tempo, se tornou mais forte do que a vontade de melhor educar os filhos. Nas primeiras aulas, o receio de aplicar o método tradicional e mais o dialógico, inibiu que as educandas aplicassem mais assuntos gramaticais, uma vez que os alunos é que comandaram por inteiro as aulas. Após conversas juntamente com a equipe técnica, viu-se que fundindo o método tradicional ao freireano se obteria uma otimizar na aplicação da práxis, Aos educandos mais assíduos, foi perceptível mais criticidade e participação em sala de aula, e desenvoltura em produção textual, leitura, escrita e dicção. Os próprios alunos comparam o método aplicado em sala com o utilizado na EJA, e optaram pelo diálogo, em vez do mais próximo do tradicional, executado na EJA.
CONCLUSÕES:
Como alguns educandos eram oriundos de turmas da EJA, relataram que os conteúdos trabalhados dentro dessa modalidade não satisfaziam suas expectativas de aprendizagem, pois o contexto explorado nessa modalidade não considerava aspectos diretos de sua realidade. Isso não quer dizer que o processo de aprendizagem utilizado na EJA não tenha sido eficaz, mas não se tornou aplicável à realidade do educando. De fato, as iniciativas de alfabetização, por parte do governo público têm maior abrangência do que ações locais realizadas por grupos universitários em pequenos bairros, todavia, sem articular o ensino a ações que englobem iniciativas socioculturais aplicáveis às adjacências dos educandos, favorecendo maior desenvoltura do conhecimento recém-adquirido, com vistas a eles próprios empreenderem iniciativas e soluções às problemáticas encontradas, ainda sim, não deixará de ser educação bancária, onde mesmo em meio ao diálogo, nenhuma iniciativa de sua própria mente virá a ser promovida.
Palavras-chave: Emancipação, Jovens e Adultos, Diálogo.