65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
APRENDENDO CIÊNCIAS E ARTE NO SAMBAQUI: UMA EXPERIÊNCIA VALIDADA NA MEDIAÇÃO E NA COMPLEXIDADE
Josilene Erlacher Werneck Machado Falk - Mestranda do Programa de Pós Graduação EDUCIMAT - IFES
Marina Cadete da Penha Dias - Mestranda do Programa de Pós Graduação EDUCIMAT - IFES
Michele Pires Carvalho - Mestranda do Programa de Pós Graduação EDUCIMAT - IFES
Thamires Belo de Jesus - Mestranda do Programa de Pós Graduação EDUCIMAT - IFES
Carlos Roberto Pires Campos - Prof. Dr. do Programa de Pós Graduação EDUCIMAT – IFES
INTRODUÇÃO:
Ao apresentar as etapas do desenvolvimento de uma saída a campo, realizada pelos alunos do Mestrado em Educação em Ciências e Matemática-IFES, em um Sambaqui localizado no Município de Presidente Kennedy, extremo sul do Estado do Espírito Santo, o trabalho, fundamentado nas teorias da aprendizagem mediada de Vygotsky e na teoria da complexidade de Edgar Morin, pretende articular as bases teóricas elencadas com a aprendizagem de ciências e arte no ambiente de Sambaqui, de modo a enfatizar a relevância das aulas de campo, considerando que, descobrir as diferenças entre paisagens naturais e paisagens culturais, reconhecer os símbolos culturais e naturais (p.ex. Sambaquis) como agentes ativos, que ordenam a vida social, recriando-a continuamente; reconhecer que os significados dos símbolos não derivam simplesmente de sua produção mas de seu uso e de sua percepção pelos outros, sua fluidez, sua variação de acordo com contextos históricos e sua contínua transformação, são habilidades que só se desenvolvem em campo. A experiência de campo foi realizada num sítio pré-histórico o que denota a originalidade da investigação. Serviram como base argumentativa os conceitos de mediação e interação entre o sujeito e o ambiente de aprendizagem de Vygotsky e o paradigma da complexidade de Morin.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O trabalho busca debater tanto quanto possível uma experiência de ensino-aprendizagem de ciências a partir de uma saída a campo pondo em relevo as teorias da aprendizagem mediada de Vygotsky e da complexidade de Edgar Morin. Pretende-se articular as ideias dos autores acima com a aprendizagem de ciências e de arte, analisando a construção do conhecimento com base na interação com o meio.
MÉTODOS:
A experiência de campo foi realizada na localidade de Marobá, município de Presidente Kennedy-ES, da qual participaram 22 mestrandos do programa de pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática-IFES e 3 professores do programa. A saída a campo foi estruturada em três partes, a saber: o pré-campo, quando foram desenvolvidas aulas teóricas sobre o Sambaqui, paisagens e espaços de domínio humano, modos de vida, relação com a natureza e técnica e tecnologias na pré-história brasileira, e a importância das aulas de campo. A saída a campo onde houve, por parte dos professores, várias abordagens mediadas pelos objetos, pela paisagem e pelo assentamento humano de tempos pré-históricos. Em grupo, os alunos trabalharam aspectos do Sambaqui, quais sejam, 1) técnica, tecnologia e compreensão do espaço geográfico,2) composição malacológica, 3) estratigrafia do concheiro e presença de fogueiras e carvões no ambiente alcalino e 4) limites do sitio e estatística provável de sua altura e tamanho. Foram utilizadas varias ferramentas, tais como, bocas de lobo, enxadas, bússolas, trenas, peneiras, baldes, manuais de malacologia entre outros. Os dados foram coletados em diários de campo, organizados em forma de relatório. E por fim, o pós-campo onde os alunos prepararam relatórios e artigos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Após as discussões de uma perspectiva expositiva e dialogada acerca do Sambaqui, e a realização de atividades desenvolvidas pelos grupos, no pós-campo, com a análise do desenvolvimento e resultado da aula de campo à luz das Teorias de referência, buscamos evidenciar a validação desta experiência dentro dos propósitos das teorias em questão. A teoria da complexidade de Morin foi contemplada à medida que o saber construído não se apresentou fragmentado, produzindo um rico diálogo entre as disciplinas, biologia, geografia, física, matemática e química. Muitos dos princípios da inteligibilidade que são a base do paradigma da complexidade foram contemplados, tornado o momento de aprendizagem muito significativo e amplo. Da mesma forma, a teoria da mediação de Vygotsky pôde ser posta em prática visto que, durante a experiência de campo, o processo de aprendizagem do sujeito foi desenvolvido por meio da interação entre os sujeitos aprendentes, o ambiente e os objetos de aprendizagem. Esta relação foi constituída por uma interação dialética, em que ficou perceptível que modificamos o meio e, ao mesmo tempo, somos modificado por este. Tais interações externas são constituídas e potencializadas por meio da mediação da aprendizagem, sendo nesta experiência realizada pelo professor.
CONCLUSÕES:
A proposta de construir aprendizagem de conceitos de ciências por meio de um campo de estudos diferente, inédito, até, pode-se dizer, em um Sambaqui, envolvendo conhecimentos amplos, mas palpáveis, numa perspectiva da complexidade, de forma transdisciplinar e da mediação de Vygotsky, apresentou-se como viável, visto que, após minuciosa análise, foi possível validar esta prática dentro dos preceitos de cada teoria. A saída a campo a um sitio pré-histórico leva o aluno a uma reflexão profunda sobre a história da ciência. É possível contemplar todas as fases, desde a mítica, a técnica, tecnologia, até a científica e reconhecer que no sítio arqueológico pré-histórico há muito de ciências e muito de arte, num espaço em que os dois discursos se misturam. Ao destacarmos as lutas travadas pelos homens da pré-história brasileira contra a natureza e as técnicas que possuíam para dominá-la, mergulhamos na nossa própria história e tomamos consciência da nossa responsabilidade, devemos não só proteger o patrimônio arqueológico, mas também trazê-lo para nossas salas de aula e torná-lo parte de nossa pratica pedagógica.
Palavras-chave: Aula de campo, Aprendizagem mediada, Construção do saber.