65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 2. Linguística Histórica
Marcas da Oralidade Popular Presentes em Impressos Recifenses do Início do Século XX.
Douglas da Silva Tavares - IFPE - Instituto Federal de Permanbuco - Campus Recife.
INTRODUÇÃO:
A relação entre o oral e o escrito tem sido objeto de reflexões as mais diferentes. O presente trabalho é o resultado de um estudo dos impressos recifenses dos trinta primeiros anos do século XX onde foi observada tal relação entre Oralidade e escrita. Para tanto, tomamos como referencial teórico os estudos de Oesterreicher (1994), Oesterreicher (1996), Pessoa (1997) e Marchuschi (2007) para os quais esta relação entre Oral e Escrito não se opera em termos de dicotomia, mas sim que estas duas modalidades estão em um continuum, resultando no fenômeno da presença de aspectos conceptuais tanto de oralidade em textos escritos quanto de escrita em textos orais. Também, temos Zumthor (1985) para uma abordagem dos índices de oralidade no texto escrito. Ainda, tomamos Souza Barros (1985), Moura (1991) e Burke (2009) para a realização de uma História Social do fenômeno aqui estudado. Assim, esta pesquisa, um dos trabalhos desenvolvidos pelo Grupo de Estudos em História Social do Português de Pernambuco – IFPE Campus Recife, apresenta-se como mais uma contribuição nos estudos históricos sobre a natureza das modalidades da língua e como estas têm sido realizadas em seus planos mediais em diferentes épocas da história da humanidade.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo do presente trabalho foi estudar, na perspectiva da história social das línguas, como, o porquê e em que escala se deu a representação da oralidade não padrão do português do Recife em impressos desta cidade nos trinta primeiros anos do século XX.
MÉTODOS:
Durante nossa pesquisa, realizamos visitas a centros de documentação como FUNDAJ, Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano, Biblioteca Pública Estadual e Arquivo Público Estadual. Em nosso trabalho, adotamos os seguintes passos: a) operamos uma pesquisa em jornais, tanto os maiores (Jornal Pequeno, Jornal do Recife, A Província e Diário de Pernambuco), como publicações menores e menos influentes (O Arara, O Boi, etc); b) formamos um banco de dados a partir da seleção e digitalização de textos de diferentes gêneros, os quais foram desde crônicas até charges, uma vez que observamos, durante a coleta de documentos históricos, a frequente e abundante ocorrência de representações da Oralidade Popular em diferentes espaços dos veículos impressos daquela época; c) associamos o estudo do contexto sócio-histórico da cidade do Recife no início do século XX, partindo de trabalhos de Souza Barros (1985) e Moura (1991) aos estudos de base linguística cujos referenciais teóricos foram Oesterreicher (1994) e Oesterreicher (1996), Pessoa (1997), Marchuschi (2007) e Zumthor (1985) para uma análise dos documentos históricos por nós selecionados; e d) levantamento de conclusões sobre o fenômeno da presença de marcas da oralidade popular nos impressos daquela época.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Como resultado, temos a constatação de que os impressos recifenses do início do século XX traziam, em seus diferentes gêneros textuais, uma grande quantidade de representações da oralidade popular. Tal fenômeno reforça as concepções de Oesterreicher (1994) e Oesterreicher (1996), Pessoa (1997) e Marchuschi (2007) para os quais o texto escrito pode trazer em seu corpo elementos conceptuais de oralidade. A presença de traços da oralidade popular em textos impressos do início do século XX foi possível de ser detectada, e consequentemente estudada, a partir das noções de Zumthor (1985), o qual levanta a noção dos “Índices de Oralidade” que são marcas deixadas em textos escritos referindo-se à oralidade. No caso dos textos aqui estudados, observamos que estas marcas variavam do itálico, passando por negrito, entre aspas, sublinhado como que apontando para o fato de que aquelas ocorrências não eram típicas da escrita. O porquê de tal fenômeno é explicado a partir de Souza Barros (1985) e Moura (1991), que nos dão um relato da população pobre de nossa cidade triplicar, em decorrência de migração. Permitindo-nos concluir ser este aumento de população carente o principal fato de uma maior visibilidade de sua língua, levando a uma frequente representação da mesma em textos impressos.
CONCLUSÕES:
A grande leva de migrantes chegados ao Recife torna ainda mais evidentes grupos sociais e suas variedades não padrão. Esta visibilidade fez com que os jornais, que embora não fossem pensados para serem oralizados, apresentassem uma considerável quantidade de elementos gráficos a remeterem para a modalidade oral, os “índices de oralidade” Zumthor (1985). Enquanto prova disso, temos, no tocante ao léxico destas variedades populares:
Bancar veado (acovardar- se); Bestidades (bobagens); Boqueirão (armadilha); Chelpa (dinheiro, coisa de valor), entre outros. Ou ainda, em termos fonéticos, como as repetidas vezes que palavras são grafadas como “Caixa Inconômica”, “Impregada Doméstica” em uma clara representação do falar popular daqueles idos. Estes termos não são encontrados nem em dicionários da língua portuguesa padrão, nem no “Vocabulário Pernambucano” de A. Pereira da Costa publicado na primeira metado do século XX. Assim, concluímos que, mesmo sendo estereotipada, a representação de variedades não padrão em jornais recifenses pode dar pistas que permitam uma relativa reconstrução do falar popular do Recife das três primeiras décadas do século XX.
Palavras-chave: Oralidade, Escrita, História Social das Línguas.