65ª Reunião Anual da SBPC |
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 6. Enfermagem Psiquiátrica |
CONCEPÇÕES DOS PROFISSIONAIS DE UM SERVIÇO DE ATENDIMENTO MÓVEL DE URGÊNCIA PSIQUIÁTRICA SOBRE O DEPENDENTE QUÍMICO E AS REPERCUSSÕES NA ASSISTÊNCIA PRESTADA |
Aline Mesquita Lemos - Departamento de Enfermagem- Universidade Federal do Ceará Helder de Pádua Lima - Departamento de Enfermagem- Universidade Federal do Ceará Sarah Lima Verde da Silva - Profa. Esp. Faculdade Terra Nordeste Ana Paula de Sousa Martins - Faculdade Terra Nordeste Violante Augusta Batista Braga - Profa Dra. Departamento de Enfermagem- Universidade Federal do Ceará Maria Dalva Santos Alves - Profa Dra. Departamento de Enfermagem- Universidade Federal do Ceará |
INTRODUÇÃO: |
De acordo com a Portaria n.º 1.864/GM, de 29 de setembro de 2003, o componente pré-hospitalar móvel da Política Nacional de Atenção às Urgências foi instituído por intermédio da implantação de Serviços de Atendimento Móvel às Urgências – SAMU 192, em municípios e regiões de todo o território brasileiro, no âmbito do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2006). Respondendo por 12% de todas as missões, as urgências psiquiátricas são causa frequente de chamadas para serviços de atendimento móvel, igualando-se as emergências traumáticas e neurológicas. Os motivos mais frequentes para as chamadas são intoxicação alcoólica, estados de agitação e comportamento suicida (PAJONK, 2008). Focar o SAMU, um serviço altamente medica¬lizado que, para alguns, não é compatível em nada com os objetivos antimanicomiais e de desinstitucionalização da Reforma Psiquiátrica brasileira, se torna um desafio que abre possibilidades para pensar em potenciali¬dades ainda não exploradas. Apesar de o SAMU ter um histórico de hesitações no atendimento a casos psiquiátricos, o que inclui uma falta de adesão aos treinamentos e capacitações sobre o tema, de acordo com atribuição da Portaria 2048/GM de 5 de novembro de 2002, a demanda psiquiátrica continuará chegando até ele. |
OBJETIVO DO TRABALHO: |
Analisar as concepções dos profissionais do Serviço de atendimento móvel de urgência psiquiátrica sobre o dependente químico e as repercussões na assistência prestada. |
MÉTODOS: |
Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa, desenvolvido com quinze profissionais – condutores de veículo, técnico de enfermagem e bombeiro militar - atuantes na USB pertencente ao Serviço de atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Fortaleza – Ce, exclusiva para atendimento de urgências psiquiátricas. Os critérios de inclusão foram: idade igual ou superior a dezoito anos, tempo de serviço mínimo de seis meses na USB mencionada, condições físicas e emocionais para responder aos questionamentos e que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A captação dos sujeitos para a coleta de informações iniciou-se em julho de 2012 e encerrou-se em agosto do mesmo ano com base na técnica de fechamento por exaustão. Foram aplicadas entrevistas através de um roteiro contendo questões sobre a rotina de atendimento no serviço, abordagem ao usuário e o encaminhamento dos casos atendidos. As entrevistas foram registradas em gravador digital e transcritas na íntegra. O anonimato dos participantes foi resguardado. Realizou-se a análise temática dos dados e os resultados foram fundamentados de acordo com as políticas nacionais de Saúde Mental e de Atenção às Urgências. |
RESULTADOS E DISCUSSÃO: |
Os resultados denotam que as concepções do profissional sobre o dependente químico interferem no atendimento prestado e este, nem sempre, corresponde às diretrizes da Reforma Psiquiátrica. Nos discursos dos participantes, o usuário de drogas surgiu como: doente, drogado, viciado, dependente químico, dominado pelo vício, desvio psíquico. Os participantes faziam ainda uma divisão dos usuários em dois grupos: o alcoólatra e o usuário de drogas em si (medicamentos, maconha e crack). Em geral, os sujeitos atribuíram ao dependente químico termos como: coitado, louco, doido, jovem, traficante, homicida, ameaçado por outro traficante. A percepção do dependente químico como aquele sujeito agressivo, pratica o mal com a pessoa que quer ajudar, quer espancar, perde totalmente o controle de si e que pode estar armado fundamentava práticas conjuntas com a polícia. A Política Nacional de Atenção às Urgências ainda aponta a crise psiquiátrica como objeto de intervenção da polícia, mesmo diante do seu completo despreparo para esse tipo de atuação e de seu caráter histórico de agente de repressão e manutenção da ordem. Isto não significa que a ajuda policial não possa ser solicitada ou que medidas mais drásticas não possam ser tomadas no caso de um paciente em crise que esteja ameaçando de forma concreta sua própria vida ou a de terceiros (BONFADA, GUIMARÃES, 2012). |
CONCLUSÕES: |
A dependência química tem se configurado problema de saúde pública no município e ilustram o modo como o SAMU tem se inserido neste contexto. Fatores como as concepções do profissional sobre o dependente químico interferem no atendimento prestado e este, nem sempre, corresponde às diretrizes da Reforma Psiquiátrica. Os achados sugerem caminhos para uma maior adaptação das políticas e práticas de saúde às necessidades dos dependentes químicos. A articulação com a rede de saúde mental, a efetivação do apoio matricial, o investimento em capacitação profissional são medidas que podem contribuir para a consolidação de uma intervenção em crise pelo SAMU mais humanizada e articulada com a reforma psiquiátrica brasileira. Os achados sugerem caminhos para uma maior adaptação das políticas e práticas de saúde às necessidades dos dependentes químicos. |
Palavras-chave: Saúde mental, Emergências, Intervenção na crise. |