65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 2. Linguística Histórica
AS DIFERENTES GRAFIAS ATESTADAS EM TEXTOS ANTIGOS: INVESTIGAÇÃO COMPARATIVA DE DOCUMENTOS PORTUGUESES DOS SÉCULOS XVII E XVIII E BRASILEIROS DO SÉCULO XIX
João Henrique Silva Pinto - Mestrando em Linguística / Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB
Bruno Pacheco de Souza - Departamento de Estudos Linguísticos e Literários – UESB
Jorge Viana Santos - Departamento de Estudos Linguísticos e Literários – UESB
Cristiane Namiuti - Departamento de Estudos linguísticos e Literários - UESB
INTRODUÇÃO:
Os manuscritos de época têm um grande alcance testemunhal da língua que se falava. Por isso, muitos autores ressaltam a importância das fontes judiciais para o conhecimento da história de uma língua. Alguns autores advertem que as variações (orto)gráficas presentes em documentos antigos, principalmente aqueles produzidos por mãos pouco hábeis podem: dar pistas sobre o funcionamento das línguas; dar luz à compreensão da estrutura linguística; e fornecer dados para estudar e datar mudanças. Mãos pouco hábeis são produtores de texto sem muita familiaridade com a escrita e, ao analisar textos desses produtores, percebemos que eles podem apresentar algumas especificidades em relação à variação de grafias e indicar algumas mudanças prosódicas e fonológicas. Os textos escritos em condições ordinárias são facilmente mascarados pelas convenções ortográficas, já em um estado estagnado de aquisição de escrita, os "autores" acessam mais facilmente à Fonologia da língua. Por isso, deve-se buscar nesses documentos pistas que procurem explicar a estrutura do Português Europeu e do Brasileiro e analisar as diferentes mudanças dessa língua escrita na Europa e aqui no Brasil em um dado período de tempo no passado.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Investigar a variação ortográfica presentes e atestadas em textos portugueses seiscentistas e setecentistas e em textos brasileiros oitocentistas.
MÉTODOS:
Para os textos portugueses escolhemos trabalhar com as cartas de denúncia da Inquisição portuguesa, disponíveis no Corpus Tycho Brahe, já transcritas e editadas. Esses documentos foram utilizados por Marquilhas (1997). Para os textos brasileiros investimos na transcrição de cartas de alforria oitocentistas pertencentes ao corpus DOVIC. Após a transcrição das cartas e reportação dos manuscritos transcritos do corpus DOViC para o meio digital, levantamos os dados de variação de grafia separadamente, opondo, assim, a variação encontrada nos textos portugueses à variação encontrada nos textos brasileiros. Utilizando a catalogação por corpus, descrevemos os dados de acordo com os tipos de variação gráfica encontrados. Os dados foram agrupados em quatro tabelas (processos fonológicos com metátese e epêntese; alterações vocálicas; variações gráficas; e segmentação). O corpus Mãos Inábeis apresentou estes quatro tipos de variação e o corpus DOViC apresentou apenas três. Os dados foram organizados em três tabelas de acordo com o tipo de desvio de grafia (alterações vocálicas; variações gráficas; e segmentação). A quantificação foi utilizada para extrair as frequências para elaboração de gráficos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Percebe-se que há uma grande variação (orto)gráfica entre os textos seiscentistas e setecentistas portugueses e os documentos oitocentistas brasileiros. A metátese e a epêntese faz parte da grafia inábil, o que não se verifica nos textos do corpus DOVIC. Considerando os números de fenômenos nas vogais, há cerca de sessenta dados que representam redução e elevação de vogais, além de outros fenômenos envolvendo vogais no conjunto de cartas que faz parte do corpus de Mãos Inábeis; a produção desse mesmo tipo de fenômeno cai drasticamente nas cartas de alforria do corpus DOVIC, além de apresentar qualidades de vogais diferentes no envolvimento dos fenômenos. Tal fato pode evidenciar uma diferença na pronúncia portuguesa e brasileira captada na escrita, pois se sabe que o ritmo do Português Europeu atual é caracterizado pela drástica redução das vogais pretônicas enquanto o ritmo do Português Brasileiro possui as sílabas com seus centros vocálicos bem pronunciados. As frequentes reduções observadas na escrita inábil do século XVIII pode ser uma pista do início do padrão prosódico do Português Europeu de hoje.
CONCLUSÕES:
Assim concluímos que tanto os textos portugueses quanto os textos brasileiros possuem uma gama de variação na grafia. No entanto, a variação gráfica é diferente nos dois continentes. Enquanto na Europa a variação relevante se concentra nas alterações vocálicas e nos processos fonológicos de metáteses e epênteses, na América ela está na segmentação.
Palavras-chave: Grafia, Mudança Linguística, Variação Gráfica.