65ª Reunião Anual da SBPC

G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia

Recuperação de Áreas Degradada: Comparação entre a recuperação Natural e utilização de Sistema Agroflorestal.

Paulo Roberto da Silva Gonzaga - Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Agricultura Familiar Univ Fed de Goiás Mariana Crepaldi de Paula - Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Agricultura Familiar Univ Fed de Goiás

INTRODUÇÃO:

O retiro Barrufada, situado no município de Mineiros está a 35 km da área urbana. Região com relevo de furnas e chapadão, tem uma grande área de cerrado, podendo ser reconhecido cerrado de mata de transição, veredas, cerrado stricto sensu e aflorações de cerrado rupestre. Abandonado por 6 anos, retém um longo histórico de práticas agropecuárias, com predominância de pastagem nas áreas planas do chapadão. A preocupação com a necessidade de preservação e conservação da fazenda levou à introdução de práticas agroecológicas de produção. A implantação de SAFs se apresenta enquanto uma tentativa de gerar produtos recuperando o ambiente e tem sido direcionada para locais onde os modelos tradicionais de exploração se caracterizam por desmatamento seguido pela atividade agropecuária, que já exportaram muitos nutrientes (AQUINO e ASSIS, 2005). 6 anos de repouso formaram uma área de capoeira com predominância de gramíneas e arbustos, o solo em certos lugares está exposto e compactado sem a presença de pioneiras arbóreas. Visto que a área estava em processo de recuperação mas visivelmente fragilizada, a regeneração ocorria de maneira lenta e deficiente. Para a implantação do SAF foi feito o manejo das plantas existentes e a introdução de aproximadamente 70 espécies de árvores e pioneiras.

OBJETIVO DO TRABALHO:

Comparar uma área degradada testemunha com a recuperação de uma área recuperada por plantio de SAF de alta biodiversidade de maneira a produzir alimentos orgânicos, aumentar a diversidade local, acelerar a sucessão natural, aumentar a cobertura vegetal e o acúmulo de nutrientes, diminuir o escorrimento superficial da água da chuva, melhorar a permeabilidade do solo e produzir alimentos orgânicos.

MÉTODOS:

A área a ser recuperada e a testemunha foi cercada, é de 2 hectares e está sendo plantada por etapas. 1000m2 foram plantados em outubro de 2012. foram introduzidos 55 ninhos de bananeiras. Como não havia horizonte A no solo (que seria a terra mais fértil), foi acrescentado esterco de bovinos curtido como adubo. Em cada ninho de bananeira foi feito um buraco (ninho) de aproximadamente um metro de diâmetro e 35 cm de profundidade, foi adicionado 60 litros de adubo (esterco) na terra retirada. Ambos foram misturados homogeneamente. Cerca de 30% da mistura foi colocada no buraco, o restante ficou em volta do buraco formando um anel. No centro do ninho foi introduzida uma muda de bananeira e no anel foram plantadas ramas de mandioca ou maniva. Ao lado das manivas, foram plantadas em média 70 sementes de plantas de ciclo curto (abobora, feijão...) médio (quiabo, cacimba...) e arbóreas (aroeira, ipê...). A localização dos plantios ao lado das manivas permite a rápida localização das espécies a serem preservadas no momento de podar o SAF. Foram plantadas entre os ninhos e em volta destes pioneiras não arbóreas (mamona, capim elefante...) cuja poda fornece Matéria Orgânica (MO) periodicamente. A comparação foi feita por meio de análises visuais da cobertura vegetal e do escorrimento superficial, pesagem da matéria orgânica e dos alimentos produzidos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO:

Quatro meses após o plantio do SAF, a antiga área de pastagem encontra-se com uma alta produtividade de plantas pioneiras. Os alimentos gerados no SAF serviram de alimentação para a unidade familiar. Apenas arroz, óleo, sal, açúcar, biscoitos e pães são importados na propriedade, diminuindo a compra de mantimentos. O excedente de milho, maxixe, melancia e abobora foi comercializado na feira da cidade. O SAF plantado encontra-se com o solo coberto por matéria orgânica, mais úmido, sendo agora possível uma maior penetração de água da chuva. Não se encontram mais traços de escorrimento superficial. Após a poda dos adubos verdes tornou-se nítido o acúmulo de matéria orgânica depositada e o aumento significativo da vida no solo. Ao contrário, a área testemunha apresenta sulcos de escorrimento superficial. O SAF produziu a primeira colheita de milho, feijão, melancia, abóbora, cabaça, pepino, maxixe, e quiabo livres de veneno que contribuíram ecofisiologicamente no SAF enquanto espécies pioneiras. Bananeiras, mandiocas e plântulas de árvores, também nasceram em abundância, (aroeira, ipê, baru, jatobá, anjico...). Espécies como feijão guandu, capim elefante, margaridão e mamona que foram plantadas em volta dos ninhos contribuíram de maneira significativa para a cobertura vegetal.

CONCLUSÕES:

Produzir alimentos orgânicos livres de venenos e ao mesmo tempo aumentar a biodiversidade, a fertilidade do solo e a integração homem natureza são características dos SAFs de alta biodiversidade. O Sistema agroflorestal iniciado no retiro Barrufada, já vem colhendo alimentos. Para que haja uma boa produção é imprescindível observar a natureza e imitá-la. Após o plantio, o SAF necessita apenas de manejo e atenção com as plantas que produzem alimentos, pois uma vez plantado para sempre produzira alimentos ao homem e aos animais da floresta. O solo que antes estava compactado e exposto ao sol e à chuva agora está coberto por matéria orgânica proveniente do próprio sistema. Com a introdução de diversas sementes, as de ciclo curto já estão trazendo retorno para o retiro, pois alem de alimentar a unidade familiar, o excedente está sendo comercializado na feira da cidade. A comparação com a área testemunha deve ser feita no final do período de chuvas porém as observações preliminares apontam para uma diferença gritante no escorrimento superficial da área manejada que não apresenta nenhum traço de escorrimento superficial.

Palavras-chave: Agrofloresta de Alta Biodiversidade, Agricultura Familiar, Recuperação do Solo.