65ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 4. Sociolinguística |
AS ATITUDES LINGUÍSTICAS: O QUE DIZEM OS MARANHENSES SOBRE A LÍNGUA MARANHENSE. |
Valdinete Vieira dos Santos - Depto.de Letras CESC-UEMA Frankilson Carvalho da Silva - Depto.de Letras CESC-UEMA Antonio Luiz Alencar Miranda - Profº. Me./ Orientador - Depto.de Letras - CESC-UEMA |
INTRODUÇÃO: |
O presente trabalho faz parte do projeto “As atitudes linguísticas dos falantes no Maranhão”, dentro da área da Sociolinguística variacionista que enfoca a língua como um elemento interativo entre indivíduo, cultura e sociedade. Os estudos das atitudes linguísticas são discutidos com base na variação e mudança, conforme Weinreich, Labov e Herzog (2006 [1968]) e estão relacionados com o problema da avaliação linguística. A atitude será positiva se os sentimentos gerados pelo objeto são agradáveis; será negativa se são desagradáveis (SANTOS, 1996, p. 11 apud MOLLICA, 2008). Atitude aqui é entendida como a manifestação de preferências e convenções sociais acerca do status e prestígio de seus usuários, que Segundo Lambert (1967) pode se constituir de três componentes colocados no mesmo nível: o componente cognoscitivo, saber ou crença implicando convicções sobre o mundo; componente afetivo, a valoração alicerçada a juízos de valor (estima-ódio) a cerca das características da fala; componente conativo, conduta ou predisposição comportamental sob determinados contextos e circunstâncias. Vem demonstrar também o interesse em se trabalhar com as crenças e as atitudes linguísticas, área pouco explorada nas universidades brasileiras, mas de muito interesse aos estudos sociolinguísticos. |
OBJETIVO DO TRABALHO: |
Objetivo Geral Analisar as atitudes linguísticas dos falantes maranhenses em relação a sua língua. Objetivos específicos Pesquisar as atitudes linguísticas dos falantes maranhenses em relação a sua língua. Verificar os fatores que estão contribuindo para as variações e mudanças nos pronomes tu e você na fala maranhense. |
MÉTODOS: |
A pesquisa é de caráter qualitativo e quantitativo. Qualitativo, por constituir uma avaliação subjetiva na busca de percepções sobre as atitudes linguísticas dos falantes, e quantitativo, porque além de captar as atitudes linguísticas conscientes, permite mostrar tabelas de percentuais dos dados. Tomamos como base os princípios teóricos e metodológicos da Sociolinguística Variacionista (Labov 1966 [2006], 1969, 2008 [1972], 1991), e os estudos de crenças e atitudes linguísticas (Lambert 1967) mediante aos parâmetros (cognoscitivo, afetivo e conativo) de análise adotada aqui. As entrevistas foram gravadas numa situação de registro chamada (DID) diálogos entre Informante e documentador, e para isso, utilizamos um questionário contendo 22 perguntas abertas e fechadas. A amostra foi composta de 36 informantes de Caxias, Estado do Maranhão, nascidos ou que tenha vindo morar em Caxias até com sete anos de idade, divididos homogeneamente pelas variáveis sociais de sexo (masculino [M] e feminino [F]), escolaridade (analfabeto aos nove anos de escolaridade [9] e dez anos de escolaridade em diante [X]) e faixa etária (18 a 35 [1], 36 a 49 [2] e 50 a 65 anos em diante [3]), em relação às atitudes e às variedades linguísticas do tu e do você. |
RESULTADOS E DISCUSSÃO: |
Quanto ao fator sexo os homens se posicionaram mais positivamente (50%) do que as mulheres (50%) atitudes negativas. Mantém-se vivo o mito do maranhense falar o melhor português por informantes do sexo masculino. Houve atitude positiva quanto ao componente afetivo e cognoscitivo. Quanto à faixa etária, os informantes da 1ª e 2ª faixa etária manifestaram mais atitudes positivas quanto ao componente afetivo e apontaram a escola como indicador de manutenção do melhor português. E a 3ª faixa etária demonstrou resignação, acomodação e solidariedade linguística expressando posicionamentos negativos. Em relação à variável escolaridade [9] 33% e a escolaridade [X] 67% manifestaram atitude positiva. A escolaridade [X] demonstrou sensibilidade linguística e consciência global quando descrevem em termos metafórico-emocionais se referindo ao que é típico da fala maranhense como o ‘falar bem explicado, lento’ pontuando uma variação intradialetal e interdialetal. Os informantes também demonstraram que o pronome sujeito tu conjugado com verbos de segunda pessoa em -s como sinalizador de mudança para verbos de segunda pessoa sem o - s. |
CONCLUSÕES: |
O intuito maior deste trabalho foi descrever e interpretar a língua falada na comunidade de Caxias – MA. Os grupos de fatores são, portanto, elementos importantes em estudos pautados pelo método laboviano, uma vez que são através deles que se pode analisar o fenômeno linguístico e definir que limites serão estabelecidos para a pesquisa. Identificamos atitudes positivas, negativas e neutras e avaliações subjacentes ao nível de consciência do falante, e crenças favoráveis em relação à língua falada do Maranhão como a melhor falada no Brasil, por informantes do gênero masculino e 1ª faixa etária. Os informantes apresentaram estereótipos à própria fala como o ‘não sotaque’, a ausência do ‘r’ retroflexo na pronúncia, clareza nas palavras e ausência de vícios linguísticos. E preconceitos linguísticos, principalmente, no plano diatópico, em relação aos sotaques diferentes, ‘o paraense fala arrastado’, ‘o mineiro tem tropeço na fala’. O sotaque é percebido pelos informantes como uma deturpação da língua, um desvio ou “vício” que deve ser combatido, rejeitado e/ou corrigido daí resultando em atitudes conativas e afetivas. Os resultados apontam também para uma variação estável, associando às manifestações dos informantes a cerca do uso do tu com mais valorização do que a forma você. |
Palavras-chave: Atitudes linguísticas, Variação, Mudança. |